Divulgação

"You and I', trabalho de Anthony McCall, na mostra "Cinema Sim', que fica em cartaz até dia 21

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A relação entre cinema e artes plásticas possui uma longa trajetória.
Em seu início, o cinema apropriou-se de vários movimentos modernistas, como o construtivismo, o expressionismo e o surrealismo. Depois, foram as artes plásticas que incorporaram o cinema não só como um suporte, mas como um vocabulário: Hélio Oiticica criou as "Cosmococas" (1973) e Andy Warhol os "Screen Tests" (1964-6).
"Cinema Sim" aborda a mais recente fase dessa relação na obra de 12 artistas, quando as fronteiras entre as linguagens já estão mais que esgarçadas, como aponta o título da mostra no Itaú Cultural, organizada por Roberto Moreira Cruz.
A exposição aborda essa metamorfose do cinema na singularidade do espaço das artes plásticas: a mobilidade do transeunte, o tempo de fruição não-linear e o espaço como local de experiência. Nesse sentido, três obras são bastante representativas: "I Fly 2", de Peter Fischer; "Stunned Man", de Julian Rosefeldt; e "You and I", de Anthony McCall.
Na primeira, o visitante só consegue observar o homem que é projetado na fumaça quando se desloca pelo espaço expositivo, o que obviamente não aconteceria numa sala de cinema. Na segunda, já vista na 26ª Bienal de SP, um mesmo homem arruma e destrói um mesmo ambiente em telas separadas, tornando a linearidade obsoleta. E em "You and I", linhas projetadas transformam-se em volumes tridimensionais graças à fumaça que inunda a sala, levando o espectador a se tornar parte da obra.
A mostra reúne ainda outras ótimas obras que também expandem o conceito de cinema, como "Frutos Estranhos", de Rosângela Rennó, uma série de cinco imagens que precisam ser observadas atentamente, pois, mesmo que não pareça, há movimentos discretos em todas elas. Ou então, o vídeo "89 Segundos em Alcázar", de Eve Sussman e Rufus Corporation, que simula como seriam os momentos anteriores à realização da obra-prima "As Meninas" (1656), de Diego Velázquez.
Frente a essas obras é possível entender por que o cinema deixou de ter a importância apontada por Bertolucci em "Os Sonhadores": os filósofos da imagem em movimento estão, hoje, nas artes plásticas.