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TEATRO
Grupo monta peça que retrata a angústia humana sob o viés social, político e artístico das gerações dos anos 60 e 70
Tapa adota "Os Órfãos de Jânio", de Millôr
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma funcionária pública, um
cantor, um jornalista, uma ex-aluna do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, um barman e uma
diletante, fã de Leila Diniz.
Eles ocupam um espaço comum, um bar, que poderia se chamar Ecmnésia, daquelas palavras
que Millôr Fernandes faz circular
de quando em vez, como na sua
peça "Os Órfãos de Jânio" (80),
que ganha montagem do grupo
Tapa a partir de hoje, no teatro
Aliança Francesa.
A ecmnésia (distúrbio de memória no qual o indivíduo esquece de tudo que se passou a partir
de determinada época, mas se recorda de fatos anteriores a ela) é
um dos recortes possíveis para o
texto de Millôr, uma espécie de
versão para "Os Filhos de Kennedy" ("Kennedy's Children"),
do norte-americano Robert Patrick, traduzida pelo próprio escritor brasileiro em 75.
O diretor Eduardo Tolentino de
Araújo, do Tapa, propõe uma
analogia entre os dois textos. "Os
personagens americanos perderam um pai legítimo, assassinado
tragicamente; eles fizeram uma
revolução comportamental e política por meio da contracultura,
mas foram massacrados pelo
grande capital", afirma.
"Já os órfãos brasileiros são sobreviventes de um pai de comédia
bufa, foram massacrados de maneira concreta: quatro dos cinco
personagens passaram pela prisão, com ideologias completamente diferentes", diz Tolentino.
Apesar da remissão do título ao
ex-presidente Jânio Quadros
(1917-92), cuja renúncia em 61
abriu espaço para o regime militar (1964-85), não se trata de peça
política. Há também as perspectivas sociais, artísticas e existenciais
herdadas dos anos 60 e 70 pela geração dos 80.
"Não foi só o Jânio, mas todo
um modelo que ruiu, o modelo do
cinema novo, da bossa nova. A
gente está recolhendo os cacos
disso, dessa orfandade. Acho que
ainda não nos libertamos", afirma
o diretor do Tapa.
Com "Os Órfãos de Jânio", o
grupo dá sequência ao seu projeto
Panorama do Teatro Brasileiro
que, desde 95, montou autores
nacionais, como Martins Penna,
Oduvaldo Vianna Filho, João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos.
Peça: Os Órfãos de Jânio
Texto: Millôr Fernandes
Direção: Eduardo Tolentino de Araújo
Com: grupo Tapa (Clara Carvalho,
Guilherme Sant'Anna, Malú Pessin,
Norival Rizzo, Paulo Marcos e Sandra
Corveloni)
Quando: estréia hoje, às 21h; qua. e qui.,
às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 22h30; e
dom., às 20h30
Onde: teatro Aliança Francesa (r. Gal.
Jardim, 182, Vila Buarque, tel. 259-0086)
Quanto: R$ 10 (qua.), R$ 15 (qui.), R$ 20
(sex. e dom.) e R$ 25 (sáb.)
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