|
Próximo Texto | Índice
TEATRO
Versão para o palco do livro de Marcio Souza questiona os valores brasileiros
Em "Galvez", Marcio Aurelio analisa as ignorâncias do país
DA REPORTAGEM LOCAL
Encenador, pesquisador e professor da área de teatro na Unicamp, Marcio Aurelio anda no
encalço da ignorância. Abraçou-a
até o osso, com a Cia. Razões Inversas, em "Agreste" (2004), o
premiado texto de Newton Moreno sobre um casal de lavradores
que planta o desejo e o colhe por
um par de décadas até a comunidade reduzir tudo a cinzas.
Agora, em paralelo ("Agreste"
segue em cartaz no Aliança Francesa), Aurelio, 55, gira para o final
do século 19, na região amazônica, de onde pesca a história do espanhol errante dom Luiz Galvez
Rodrigues de Ária, o visionário
protagonista de "Galvez, Imperador do Acre", romance de estréia
de Marcio Souza que ganha adaptação de mesmo nome em temporada a partir de amanhã no Centro Cultural São Paulo.
"É um espetáculo que questiona
valores políticos, sociais, morais,
religiosos, antropológicos etc.
Mexe com uma idéia de formação
de caráter. O público e o privado
são expostos de maneira ácida e
crítica, não há limites", diz.
O livro do amazonense Souza,
de 1976, o mesmo autor de "Mad
Maria", narra as peripécias de um
aventureiro que aparece em Belém, trabalha num jornal, conchava com o cônsul da Bolívia e acaba
revelando os planos de alguns homens de negócios dos EUA que
desejavam ocupar um vasto e rico
território ainda pouco conhecido,
perdido entre as fronteiras de
Brasil, Bolívia e Peru.
Com o escândalo, Galvez foge
da cidade, embarca em um navio
de missionários, comanda um
exército de poetas e bêbados, ama
mulheres fascinantes e finalmente
é coroado Imperador do Acre, um
reino tropical e efêmero.
A messiânica trajetória desse
sujeito "invulnerável aos golpes
do destino" (emboscadas, doenças, flechas e amores eclesiásticos)
é interpretada por 17 atores da
campineira Cia. Les Commediens
Tropicales (de "Terror e Miséria
no 3º Reich", de Bertolt Brecht).
Uma das inspirações de Aurelio
para a encenação é o filme "Terra
em Transe", de Glauber Rocha
(1938-81). Daí uma certa "bagunça carnavalizada", intermitente.
A voltagem erótica de algumas
cenas logo é substituída pelo desencantamento, a percepção de
que não há para quem torcer nessa arena. A disposição dialética
dos temas, um roçar de realidade
e ficção, ecoa a formação burguesa e política do Brasil que Souza
busca retratar.
(VALMIR SANTOS)
Galvez, Imperador do Acre
Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e
sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 29/5
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611)
Quanto: R$ 12
Próximo Texto: Música: Projeto agrupa quatro orquestras inusitadas Índice
|