São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010

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15ª É TUDO VERDADE

Longa narra a trajetória do marketing político

Filme traz depoimentos dos envolvidos nas campanhas das últimas décadas

Cenas produzidas por marqueteiros são destaques em "Arquitetos do Poder", mas não explicam o funcionamento das eleições


Sérgio Lima - 13.jan.03/Folha Imagem
Em foto de 2003, Duda Mendonça faz campanha do Fome Zero

PEDRO DIAS LEITE
EDITOR-ASSISTENTE DE BRASIL

Na primeira cena de "Arquitetos do Poder", o marqueteiro Duda Mendonça define a essência de sua profissão: "Todo mundo tem seu lado bom e seu lado sombra, todo ser humano. Cabe a você, na campanha, ressaltar o lado bom e tentar neutralizar ao máximo o ruim". No documentário, o produto final dessa espécie de lei de Duda aparece de forma clara, de os primórdios até as eleições mais recentes no país.
O filme de Vicente Ferraz e Alessandra Aldé mais conta a trajetória do marketing político nos últimos anos do que explica seu funcionamento. Alguns dos principais envolvidos nas campanhas desde a redemocratização prestam depoimentos sobre aquelas disputas, mas há poucas revelações sobre os bastidores das máquinas de eleger candidatos. Num dado momento, Fernando Barros, marqueteiro de FHC em 1994, explica a tarefa.
"Tinha um desafio básico, que era colocar um intelectual empedernido, paulista como ele, com cara de povo." No final, o que definiu a disputa, como mostra o filme, foi o Plano Real. O trabalho vem desde 2005, explica Vicente Ferraz. O diretor optou por fazer uma contextualização histórica do marketing político no Brasil.
O ponto forte do filme reside no resgate de cenas e momentos históricos, os produzidos pelos marqueteiros e os que surgiram do amadorismo. Dos anos mais antigos, aparecem do clássico "Varre, varre vassourinha", de Jânio Quadros, a Ulysses Guimarães, em 1974, dizendo: "Se você está descontente, seja coerente. Vote em você, votando no MDB".
De um passado já distante, está lá Miriam Cordeiro ("Como posso apoiar um homem que ofereceu dinheiro para mim, para eu abortar."), assim como a resposta do petista, na disputa de 1989.
Num momento menos dramático da campanha, o documentário refresca na memória o genial "Lula lá" e a "Rede Povo", paródia da Globo que hoje em dia seria impensável. "Já que é pra escolher um adversário, vamos escolher logo o principal, que é a Globo", diz Paulo de Tarso, marqueteiro petista. Na trajetória narrativa linear, também marcam presença o "medo" de Regina Duarte, em 2002, e as grávidas de Duda no comercial que ajudaram a definir o "Lulinha paz e amor".
O mesmo Duda que conta como obrigou Lula a ler um texto contra a vontade para tentar amenizar resistências a pouca educação formal, num dos raros momentos em que o filme mostra o atual poder dos marqueteiros. No conjunto, o documentário traça um bom panorama de como o Brasil e o marketing político nacional evoluíram nas últimas décadas, ainda que muito permaneça "na sombra".


ARQUITETOS DO PODER

Diretor: Vicente Ferraz, Alessandra Aldé
Quando: amanhã (15), às 21h, no Espaço Unibanco; sexta (16), às 15h, no Espaço Unibanco, em São Paulo; hoje, às 15h, no Unibanco Artplex, no Rio
Classificação: 14 anos




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