São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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MÚSICA

Um dos nomes mais completos do jazz, saxofonista se apresenta hoje e amanhã no festival Diners Club Jazz Nights

Bourbon traz "enciclopédia" James Carter

Cláudia Guimarães/Folha Imagem
O saxofonista James Carter durante apresentação no Free Jazz Festival, em São Paulo, em 1996


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 33 anos, o rapagão da foto ao lado já tem cacife para ser chamado de um dos músicos mais completos do jazz em atividade.
Com instrumentos tão variados como o clarinete-baixo e o sax alto, James Carter maneja com propriedade desde as raízes mais profundas do gênero até suas folhagens mais contemporâneas.
É com essa "enciclopédia" jazzística que começa hoje em São Paulo a quinta edição do festival Diners Club Jazz Nights, que trará ao país até novembro outras três atrações de porte.
Em sua segunda passagem pelo país, depois de vigorosas apresentações no Free Jazz de 1996, Carter promete um espetáculo "body and soul", corpo e alma. "O jazz tem ao mesmo tempo poder de cura espiritual e de diversão", diz o músico à Folha, em entrevista por telefone, de Nova York.
Para alcançar a equação, Carter cercou-se de um instrumento "vital", como define, para a música negra norte-americana, o órgão. "Ele esteve nas igrejas gospel e nas joints mais ardidas do jazz." É para o equilíbrio que mora no meio desses extremos que o músico pretende conduzir suas duas apresentações.
Acompanhando Carter no palco do Bourbon Street estarão os também oriundos da cidade de Detroit Gerard Gibbs, nos teclados, e Leonard King, na bateria, além de "uns três ou quatro" saxofones da coleção de 80 instrumentos do artista: um soprano, um tenor (seu favorito) e um barítono (que segundo a prestigiada revista "Down Beat" ninguém tocou melhor do que ele em 2001).
Com essa artilharia, Carter adiantará aos paulistanos "quase todo o conteúdo" de seu próximo CD, o sétimo trabalho individual, que só deve ser lançado no ano que vem, com apresentações que James Carter fez no Bakers, clássica casa noturna de Detroit.
Não será hard bop, post-bop, swing ou avant-garde, gêneros no qual costuma ser enquadrado. "É apenas música. Vejo a música de um ponto de vista holístico", exprime o multiinstrumentista.
"Com a energia que se gasta montando cercas em torno da música poderia se estar construindo pontes", opina Carter, que também não gosta do termo "young lion" (jovem leão), que é usado para definir os músicos como ele, Joshua Redman (o outro grande nome jovem do saxofone) e Wynton Marsalis (com quem começou a carreira, em 1986).
"Em vez de ficar falando em young lions os jazzistas deveriam estar se preocupando se haverá uma "floresta" por onde possam passear os leões, jovens ou não", exprime.
"Ecologista" do gênero, Carter diz que os músicos mais experimentados estão perdendo a consciência de que têm de "alimentar" o talento dos mais jovens. "O aprendizado musical não pode ser feito só nas salas de aula, como é cada vez mais comum. O bom músico deve participar de jam sessions, dar aulas."
Dito e feito. Frequentador assíduo de jam sessions como as do bar St. Nicks, no Harlem, Carter mostrará seu lado educacional também por aqui. Além dos espetáculos no Bourbon, aulas por si, o astro do jazz dará em São Paulo um workshop na quinta, dentro do projeto Weril Master Class, na faculdade Santa Marcelina (informações pelo tel. 3826-9700).


JAMES CARTER. Quando: hoje e amanhã, às 22h30. Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 5561-1643). Quanto: de R$ 65 a R$ 120. Patrocinador: Diners Club.



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