São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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DANÇA

Grupo mineiro estréia amanhã "Santagustin", coreografia que tem música de Tom Zé e figurino de Ronaldo Fraga

Corpo reúne diferentes visões do amor

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois da apresentação fechada para convidados hoje, no teatro Alfa, o grupo Corpo mostra a partir de amanhã, quando inaugura em São Paulo a sua temporada nacional de 2002, como funcionam em conjunto as concepções sobre o amor geradas por mentes diversas.
"Santagustin", o novo espetáculo do Corpo que depois da estréia em São Paulo segue para Belo Horizonte, Rio e Brasília, não se circunscreve à coreografia de Rodrigo Pederneiras, mas a uma obra de dimensões múltiplas, determinadas pela música de Tom Zé, pelos figurinos de Ronaldo Fraga e pela cenografia de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras.
Embora concebido a partir de uma idéia comum, "Santagustin" deu lugar a um espetáculo de autores que, trabalhando em separado, desenvolveram interpretações muito pessoais sobre o corriqueiro tema do amor. No palco, o encontro dessas peças autônomas deve dar corpo a uma "criatura" passível de surpreender os próprios criadores.
Com exceção de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras, que fazem parte da equipe de criação estável do Corpo, os demais se associaram à produção com total independência.
"No começo, eu pedia ao Rodrigo para me instrumentalizar mais, mas ele me contrariava pedindo a minha própria visão sobre o tema", diz Ronaldo Fraga, que elegeu o rosa-choque e o verde-limão para colorir os figurinos que ressaltam as partes sexuais do corpo por meio de fios refletivos, que brilham no escuro. "Eu queria salientar o sexo, sem perder o olhar infantil", acrescenta o estilista, que está trabalhando com o Corpo pela primeira vez.

Tom Zé
No caso de Tom Zé, "Santagustin" assinala a segunda parceria com o Corpo, para o qual ele já havia criado, junto com José Miguel Wisnik, a trilha de "Parabelo", produção de 1997 que volta a ser apresentada no programa da atual temporada.
Com isso, ganha-se a chance de ver e ouvir (ou "verouvir", como preferiria Tom Zé) duas trilhas distintas do compositor, que passa a deixar suas marcas também na dança brasileira.
Quase um ano atrás, quando começou a compor a música de "Santagustin", Tom Zé tomou como fonte de inspiração a dualidade de santo Agostinho, o filósofo de origem italiana que tornou-se padre depois de levar uma vida devassa. Segundo o compositor, foi o radicalismo desse homem que renunciou à sensualidade para assumir padrões morais rígidos, que o estimulou a enfocar harmonias e tonalidades "conflitantes" em sua trilha.
Associando sete movimentos, a partitura de Tom Zé fundamenta-se na estrutura musical do choro e homenageia uma variedade de autores da música brasileira, que vai de Pixinguinha e da família Carrasqueira (em "Pixin-Rasqueira") ao violonista Yamandú Costa ("Yamanduzório"). Como sempre, Tom Zé não economizou invenções sonoras, como a utilização de instrumentos de brinquedo ou a transformação dos ruídos de telefones celulares em melodias, audíveis logo no começo do espetáculo.
Todas essas idéias surgiram da proposta inicial de Rodrigo Pederneiras, que queria falar do amor, sob a ótica do humor e do erotismo. Colocando o amor sob crivos diversos, o coreógrafo pretendia se "vingar" de todos os paradoxos causados por esse agente passional nos mortais que a ele sucumbem. Tudo indica, a vingança deve deixar satisfeitos os seus autores.


"SANTAGUSTIN" E "PARABELO". Com: grupo Corpo. Quando: de amanhã até dia 23; de ter. a sáb., às 21h, e dom., às 18h. Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro; tel. 0800-558191). Quanto: de R$ 30 a R$ 60. Patrocinador: Petrobras.



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