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DANÇA
Grupo mineiro estréia amanhã "Santagustin", coreografia que tem música de Tom Zé e figurino de Ronaldo Fraga
Corpo reúne diferentes visões do amor
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois da apresentação fechada
para convidados hoje, no teatro
Alfa, o grupo Corpo mostra a partir de amanhã, quando inaugura
em São Paulo a sua temporada
nacional de 2002, como funcionam em conjunto as concepções
sobre o amor geradas por mentes
diversas.
"Santagustin", o novo espetáculo do Corpo que depois da estréia
em São Paulo segue para Belo Horizonte, Rio e Brasília, não se circunscreve à coreografia de Rodrigo Pederneiras, mas a uma obra
de dimensões múltiplas, determinadas pela música de Tom Zé, pelos figurinos de Ronaldo Fraga e
pela cenografia de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras.
Embora concebido a partir de
uma idéia comum, "Santagustin"
deu lugar a um espetáculo de autores que, trabalhando em separado, desenvolveram interpretações muito pessoais sobre o corriqueiro tema do amor. No palco, o
encontro dessas peças autônomas
deve dar corpo a uma "criatura"
passível de surpreender os próprios criadores.
Com exceção de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras, que fazem parte da equipe de criação estável do Corpo, os demais se associaram à produção com total independência.
"No começo, eu pedia ao Rodrigo para me instrumentalizar
mais, mas ele me contrariava pedindo a minha própria visão sobre o tema", diz Ronaldo Fraga,
que elegeu o rosa-choque e o verde-limão para colorir os figurinos
que ressaltam as partes sexuais do
corpo por meio de fios refletivos,
que brilham no escuro. "Eu queria salientar o sexo, sem perder o
olhar infantil", acrescenta o estilista, que está trabalhando com o
Corpo pela primeira vez.
Tom Zé
No caso de Tom Zé, "Santagustin" assinala a segunda parceria
com o Corpo, para o qual ele já
havia criado, junto com José Miguel Wisnik, a trilha de "Parabelo", produção de 1997 que volta a
ser apresentada no programa da
atual temporada.
Com isso, ganha-se a chance de
ver e ouvir (ou "verouvir", como
preferiria Tom Zé) duas trilhas
distintas do compositor, que passa a deixar suas marcas também
na dança brasileira.
Quase um ano atrás, quando começou a compor a música de
"Santagustin", Tom Zé tomou como fonte de inspiração a dualidade de santo Agostinho, o filósofo
de origem italiana que tornou-se
padre depois de levar uma vida
devassa. Segundo o compositor,
foi o radicalismo desse homem
que renunciou à sensualidade para assumir padrões morais rígidos, que o estimulou a enfocar
harmonias e tonalidades "conflitantes" em sua trilha.
Associando sete movimentos, a
partitura de Tom Zé fundamenta-se na estrutura musical do choro e
homenageia uma variedade de
autores da música brasileira, que
vai de Pixinguinha e da família
Carrasqueira (em "Pixin-Rasqueira") ao violonista Yamandú
Costa ("Yamanduzório"). Como
sempre, Tom Zé não economizou
invenções sonoras, como a utilização de instrumentos de brinquedo ou a transformação dos
ruídos de telefones celulares em
melodias, audíveis logo no começo do espetáculo.
Todas essas idéias surgiram da
proposta inicial de Rodrigo Pederneiras, que queria falar do
amor, sob a ótica do humor e do
erotismo. Colocando o amor sob
crivos diversos, o coreógrafo pretendia se "vingar" de todos os paradoxos causados por esse agente
passional nos mortais que a ele
sucumbem. Tudo indica, a vingança deve deixar satisfeitos os
seus autores.
"SANTAGUSTIN" E "PARABELO". Com:
grupo Corpo. Quando: de amanhã até
dia 23; de ter. a sáb., às 21h, e dom., às
18h. Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco
de Andrade Filho, 722, Santo Amaro; tel.
0800-558191). Quanto: de R$ 30 a R$ 60.
Patrocinador: Petrobras.
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