São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Crítica/artes plásticas

Mostra reavalia importância de Taunay

Exposição na Pinacoteca do Estado tira artista da posição de mero coadjuvante da missão artística francesa, em 1816

Divulgação
"Entrada de Napoleão 1º em Munique, à Frente do Exército Francês, em 24 de Outubro de 1805' (1806-1808), tela de Nicolas-Antoine Taunay presente em mostra

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nicolas-Antoine Taunay no Brasil: Uma Leitura dos Trópicos", em cartaz na Pinacoteca do Estado, apresenta a maior retrospectiva já realizada de um artista até então pouco considerado na história da produção visual nacional. Integrante da missão artística francesa, em 1816, Taunay (1755-1830) é revisto a partir da pesquisa de Lilia Moritz Schwarcz, curadora da mostra, que publicou "O Sol do Brasil" (Companhia das Letras), sobre o artista. O livro com teses controversas -como o questionamento da própria missão artística francesa, que não teria vindo ao país por iniciativa da corte portuguesa no Brasil- é um ponto de partida, mas são as obras de Taunay que, de fato, são o foco da exposição e de um ótimo catálogo. A mostra apresenta um conjunto tão significativo de obras do artista que faz com que as teses geradoras da exposição não influenciem sua leitura. Nem tampouco busca glorificar a produção de Taunay, em alguns pontos até ironizando sua leitura dos trópicos. É o caso, por exemplo, da utilização de um azul vibrante nas paredes das salas dedicadas à produção de Taunay no Brasil, azul que o próprio artista não viu no céu do país, preferindo ater-se a uma paleta mais escura. O foco da mostra são as cerca de 20 telas produzidas por Taunay no Brasil, ao longo dos cinco anos que aqui ficou, entre 1816 e 1821. Para chegar a elas, contudo, é preciso atravessar as salas que apresentam sua produção anterior, um artista de destaque na academia francesa, para a qual entrou como pensionário, em 1784. Desde então, Taunay conseguiu sobreviver na academia em períodos muito distintos, seja quando o país era governado por Luís 16, seja na fase revolucionária e do Diretório, seja quando Napoleão Bonaparte foi o imperador, revelando-se maleável o suficiente para agradar a muitas orientações. Apesar disso, como se pode ver na mostra, seu estilo se manteve constante: ele era um pintor de paisagens preocupado em retratar cenas cotidianas. É o que se observa, por exemplo, numa das obras mais impressionantes da mostra: "Entrada de Napoleão 1º em Munique, à Frente do Exército Francês, em 24 de Outubro de 1805", realizada entre 1806 e 1808. A tela, que pertence ao Palácio de Versalhes -a exposição tem obras das mais importantes coleções do artista-, destaca os habitantes da cidade alemã em detrimento de Napoleão, que seria o principal tema da pintura. Isso iria acontecer também no Brasil, quando Taunay realiza "D. João e Dona Carlota Joaquina Passando na Quinta da Boa Vista Perto do Palácio de São Cristóvão". Nessa tela, os reis estão do mesmo tamanho de um escravo, localizado perto de uma representação do próprio Taunay, visto sem chapéu, o que denota o caráter liberal de seu autor. Esses diálogos, entre a produção anterior à sua estada no país e o que fez aqui, são estendidos ainda às telas posteriores ao período brasileiro, quando Taunay incorpora detalhes, como palmeiras, em algumas obras. Um tanto obscurecido por Debret, que costuma ser visto como o artista mais importante da missão, Taunay, com a mostra na Pinacoteca, revela-se não mais como mero coadjuvante do grupo. NICOLAS-ANTOINE TAUNAY NO BRASIL: UMA LEITURA DOS TRÓPICOS Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; até 7/9 Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000) Quanto: R$ 2 a R$ 4 Classificação indicativa: livre Avaliação: ótimo

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