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O BOM DO DIA
Enredo de Jafar Panahi é intrigante
"O Espelho" reflete mais de duas faces
CECÍLIA SAYAD
especial para a Folha
"O Espelho", do iraniano Jafar
Panahi ("O Balão Branco"), poderia ser definido como dois filmes em um só. O primeiro traz a
história de uma menina que decide ir para casa sozinha quando
a mãe não vai buscá-la na escola.
O enredo (veja programação
no quadro ao lado) é simples.
Reside no enfrentamento dos
obstáculos que a menina, perdida, encontra para chegar em casa: atravessar a rua, pegar o ônibus certo. Até então, o problema
é saber se ela vai ou não chegar sã
e salva. Mas, de repente, a atriz
mirim olha para a câmera e diz
que não quer mais filmar, e um
segundo filme interrompe bruscamente o primeiro, tornando o
conjunto fascinante.
Vemos Panahi desesperado. A
fotografia muda, surge granulada,
a câmera fica mais livre. A atriz
decide, como sua personagem,
que vai sozinha para casa. Como
não consegue convencê-la a prosseguir com o trabalho, a equipe
decide filmá-la em seu trajeto.
Afinal, a ação (a tentativa de chegar em casa) continua a mesma.
Mas o filme passa a ser outro.
Com a mudança de tom e problemática, Panahi distingue ficção de realidade. Num movimento inverso, ao dar às duas partes
uma continuidade narrativa, coloca ambas no mesmo patamar. A
constatação de que a realidade
que o filme apresenta é também
fictícia, por sua vez, mostra que o
intrigante espelho de Panahi tem
mais do que duas faces.
Avaliação:
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