São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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O BOM DO DIA
Enredo de Jafar Panahi é intrigante
"O Espelho" reflete mais de duas faces

CECÍLIA SAYAD
especial para a Folha

"O Espelho", do iraniano Jafar Panahi ("O Balão Branco"), poderia ser definido como dois filmes em um só. O primeiro traz a história de uma menina que decide ir para casa sozinha quando a mãe não vai buscá-la na escola.
O enredo (veja programação no quadro ao lado) é simples. Reside no enfrentamento dos obstáculos que a menina, perdida, encontra para chegar em casa: atravessar a rua, pegar o ônibus certo. Até então, o problema é saber se ela vai ou não chegar sã e salva. Mas, de repente, a atriz mirim olha para a câmera e diz que não quer mais filmar, e um segundo filme interrompe bruscamente o primeiro, tornando o conjunto fascinante.
Vemos Panahi desesperado. A fotografia muda, surge granulada, a câmera fica mais livre. A atriz decide, como sua personagem, que vai sozinha para casa. Como não consegue convencê-la a prosseguir com o trabalho, a equipe decide filmá-la em seu trajeto. Afinal, a ação (a tentativa de chegar em casa) continua a mesma. Mas o filme passa a ser outro.
Com a mudança de tom e problemática, Panahi distingue ficção de realidade. Num movimento inverso, ao dar às duas partes uma continuidade narrativa, coloca ambas no mesmo patamar. A constatação de que a realidade que o filme apresenta é também fictícia, por sua vez, mostra que o intrigante espelho de Panahi tem mais do que duas faces.


Avaliação:     


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