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Jornal militante de Oswald e Pagu ganha reedição
"O Homem do Povo" foi pasquim político e gaiato dirigido pelo poeta modernista e a mulher, nos anos 30, em SP
Lançamento será no sábado, no museu Lasar Segall, com exibição de documentos e obras ligados à fase mais politizada do antropófago
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O dia 9 de abril de 1931 amanheceu agitado na cidade de
São Paulo. Naquela quinta-feira, um grupo de estudantes da
Faculdade de Direito reuniu-se
na praça da Sé para protestar e
atacar a sede de um periódico
anarco-comunista intitulado
"O Homem do Povo", que havia
publicado violenta crítica à vetusta instituição de ensino.
A afronta saíra da pena do
modernista Oswald de Andrade, ele mesmo um homem proveniente da elite, formado pela
escola do Largo São Francisco,
que qualificava de um "cancro"
a minar a sociedade paulista.
Ao lado de Patrícia Galvão, a
Pagu, então sua mulher, Oswald era o diretor daquele pasquim político e gaiato -que ganha agora edição fac-similar,
lançada pela editora Globo em
parceria com a Imprensa do
Estado e o Museu Lasar Segall.
Em 1984, o "insolente papelucho" já havia sido objeto de
iniciativa semelhante, com
apresentação do poeta e ensaísta Augusto de Campos. A nova
coleção, baseada nos oito números deixados pelo militante
comunista Astrojildo Pereira,
amigo do casal, republica o texto de Campos e traz artigo de
Geraldo Galvão Ferraz, filho de
Patrícia. É publicada também
uma carta inédita enviada "à
camarada Pagu" por uma assídua leitora do jornal.
Lançamento
O lançamento vai acontecer
no sábado, com a abertura de
uma exposição no museu Lasar
Segall -com curadoria da pesquisadora Gênese Andrade.
O ataque dos estudantes à sede de "O Homem do Povo", que
ficava no Palacete Rolim, no
número 9 da praça da Sé, repetiu-se na segunda dia 13 de
abril. Os incidentes foram
acompanhados pela imprensa.
"Um justo revide dos estudantes de direito contra os ataques de um antropófago" -foi a
manchete da "Folha da Noite"
do dia 9, que fazia referência à
antropofagia, a "filosofia do
primitivo tecnizado", desenvolvida alguns anos antes pelo
poeta que lançou, em 1928, o
"Manifesto Antropófago".
Os jornais narraram "a depredação nos escritórios da redação" e a providencial intervenção da polícia, que impediu
o iminente linchamento dos diretores. No dia 13, Oswald voltara ao ataque em novo artigo,
com seu humor ferino: "A grande manifestação de pensamento que produziu até hoje a Faculdade de Direito foi o trote".
Segundo a "Folha da Noite",
no segundo dia de manifestação, Pagu surgiu inesperadamente à porta do prédio -e, para espanto geral, "vinha armada
com revólver, com o qual fez
dois disparos em direção aos
estudantes". Ela teria, ainda,
atacado manifestantes a unhadas enquanto era conduzida
com Oswald para a central de
polícia -e o jornal tinha sua
breve carreira encerrada.
Romance
O lançamento de "O Homem
do Povo" é um marco na fase
politizada de Oswald. Numa
época de rompimentos, inclusive com velhos amigos, filiou-se ao Partido Comunista, puxado pela nova e sedutora companheira, que posteriormente
veio a ser presa e sofrer violências no cárcere.
Quando "O Homem do Povo"
foi lançado, Oswald tinha 41
anos de idade e Pagu, 21. O romance teve início quando ele
ainda era casado com a pintora
Tarsila do Amaral. Foi o poeta
Raul Bopp quem apresentou a
então jovem normalista ao casal "Tarsiwald" -como foi apelidado por Mário de Andrade.
Pagu tornou-se amiga de ambos e acabou nos braços do antropófago.
Segundo a curadora Gênese
Andrade, que assina o catálogo
da mostra, quando Tarsila faz
sua primeira exposição individual brasileira, no Rio, em julho
de 1929, "o antropófago e a normalista já haviam iniciado uma
relação amorosa".
O fato está registrado em
uma espécie de diário do novo
casal, intitulado "O Romance
da Época Anarquista. Livro das
Horas de Pagu que São Minhas". O caderno de anotações
estará exibido numa vitrine, no
Lasar Segall -e 13 de suas páginas serão projetadas num monitor de vídeo.
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