São Paulo, quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Réplica

Texto sobre "Cacilda!!" fez avaliação indevida

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
A atriz Ana Guilhermina em cena de ‘Cacilda!!’, de Zé Celso

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
ESPECIAL PARA A FOLHA

É estranho que, em matéria de lançamento de uma nova peça, na qual a princípio não haveria julgamento de valor por parte do repórter, possa acontecer o que aconteceu com o texto publicado na Folha no dia 3 de outubro de 2009 sobre a estreia de "Estrela Brazyleira a Vagar - Cacilda!!".
O repórter Lucas Neves já havia soltado uma matéria preparando a derrubada da peça em São Paulo. Não satisfeito com o que tinha feito, repete na matéria de sábado passado na Ilustrada: "sucessão de problemas técnicos", "brancos" dos atores. A matéria de lançamento vira matéria de despedaçamento do trabalho dos artistas e tentativa de afugentamento do público. O que a Ilustrada pretende com essa linha recém-adotada?
Nesta nova peça sobre Cacilda Becker o espectador entra no Teatro através de uma cortina. É metateatro de uma época em que as peças eram feitas em pouco tempo, baseadas nos carismas e improvisos dos atores.
Nossa peça foi muito bem ensaiada em pouquíssimo tempo, a partir do momento em que chegou nossa verba da Petrobras que nos permitiu reunir 58 atuadores multimídia em pleno Império dos Monólogos. Claro que a estreia foi "Uma Noite na Ópera" em que conseguimos nos divertir, com o público dando força, gozando de nossa cara em nossos apuros, divertindo-se com nossas dribladas de improviso. Estar diante daquela divertidíssima "Noite na Ópera" era uma coisa que só a falta de ékstasis, a incapacidade de ser tomado pela emoção estética do jornalista, poderia transformar em uma matéria vazia.

TBC, Fernanda, Antunes
Além dessa obsessão em apavorar o público, Lucas Neves escreveu que acho o TBC uma porcaria. Como posso achar o TBC uma porcaria se escrevi em 1990 minha montagem para 2010 "A Glória - Cacilda!!!", a peça de Cacilda no TBC, onde essa companhia é exaltada!? Mas sempre achei porcaria a modernização que esse teatro fez ter se realizado sem devorar a enorme contribuição do teatro anterior brasileiro. Quanto a Fernanda Montenegro, sempre adorei, sempre fui seu fã, mas ela sempre me disse "não sou uma Bacante, sou uma operária de teatro", sem pretensão de ser uma Diva e eu procuro desenvolver o divismo dos atores da Uzyna Uzona. Quanto a Antunes, tenho imensa admiração pelo seu trabalho, mas trabalhamos de maneiras opostas porque acho que o Teatro vem da Orgya, é uma relação de Paixão com o Público tão forte quanto a sexual. Depois, essa história que só admito alguns grupos de teatro é absurda. Geralmente a gente, nessas entrevistas, cita dois ou três que vêm à cabeça, mas daí que se exclua os demais, só na cabeça desse jornalista. Acreditar no Teatro é acreditar em si mesmo, em seu poder de mortal, e podem crer, o Brasil vive este momento de esplendor internacional pela cultura, de onde vem seu teatro, sua música, sua literatura, seu cinema, seu futebol, seu carnaval, sua maneira de ser sendo, sambando com a multidão em solidariedade na Alegria, coisa que nunca deixei de ter com todos os Teatros Brasileiros. E repetindo outro amado clamo: Viva Cacilda Becker!


JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor de teatro.

Texto Anterior: Pinturas e documentos inéditos do casal ganham mostra no Lasar Segall
Próximo Texto: Dança: Companhias se apresentam juntas em SP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.