São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001
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FOTOGRAFIA Imagens realizadas pelo ateliê Mathesie, na Alemanha, entre 1945 e 1983, são recriadas por grupo de artistas Retratos de estúdio ganham releitura
EDER CHIODETTO EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA O retrato é, com certeza, o tipo de fotografia mais realizado, tanto por amadores como por profissionais. E é sobre esse ícone que a exposição "Pose Detida", que abre hoje na Oficina Cultural Oswald de Andrade, realiza uma espécie de pensata iconográfica. Com curadoria do fotógrafo José Fujocka, "Pose Detida" faz uma releitura de retratos de estúdio realizados pelo ateliê Mathesie, na Alemanha, que podem ser vistos na exposição "Sorrir", em exibição no Instituto Goethe. Entre os anos de 1945 e 1983, o ateliê de Charlotte Mathesie fotografou várias gerações de alemães em Berlim. Seu estúdio era procurado por pessoas que queriam ser fotografadas com uma roupa nova, ao lado do cachorro, do namorado, dos amigos, da família ou apenas para prosaicos 3 x 4. Após quase quatro décadas de funcionamento, restaram cerca de 300 mil negativos do ateliê que foram recolhidos pelo Museu Kreuzberg. Vistos em perspectiva, esses retratos traçam um vigoroso perfil da sociedade berlinense. É possível perceber a evolução do vestuários, dos penteados e até das poses diante da câmara. De posse dessas imagens, Fujocka, convidado pelo Goethe e patrocinado pela Secretaria de Estado da Cultura, propôs uma releitura sobre os retratos do estúdio. Para tanto, convidou os artistas Caio Reisewitz, Cristina Guerra, Dora Longo Bahia, Luciana Molisani e Orlando Maneschy. Além da curadoria, Fujocka é responsável pelo trabalho mais surpreendente de "Pose Detida". Ele fotografou alguns camelôs no centro de São Paulo e ampliou essas fotos em grande formato. A partir de hoje essas imagens estarão expostas exatamente no lugar onde os camelôs trabalham. Na exposição será possível ver o registro desses trabalhos e um mapa da cidade que indica onde estão os camelôs e as imagens. A artista plástica Dora Longo Bahia aplicou camadas de tinta sobre retratos fotográficos. A última camada é um banho de tinta branca que sofreu uns arranhões. Ali é possível entrever metáforas de cicatrizes e sangramentos. O vermelho-sangue também está presente nas ampliações dos retratos de pretendentes a modelo adquiridos por Orlando Maneschy, em Belém (PA). Cristina Guerra faz uma divertida apropriação de fotos que deram errado nas máquinas de retratos 3 x 4. Há um painel com todas as pessoas de olhos fechados e outro de crianças que ficam abaixo da altura da câmera. Guerra é a única artista que utiliza imagens de Mathesie em seu trabalho. Reisewitz fotografou um modelo e depois aplicou a imagem sobre fundos da cidade de São Paulo, como a Casa de Detenção. Uma referência aos fundos utilizados pelos estúdios. Por fim, Luciana Molisani realizou uma instalação reproduzindo um fundo ao estilo Mathesie com cortinas, tapete e um vaso kitsch. Ao entrar na sala, o visitante pode ver sua silhueta projetada sobre o fundo. Bem-vindo a Berlim e ao Bom Retiro. A Oficina Cultural Oswald de Andrade possuía, no final dos 80 e início dos 90, intensa programação voltada para a formação de fotógrafos. Os núcleos que ali aconteciam ajudaram a formar uma importante geração de fotógrafos. "Pose Detida" bem que podia ser a retomada daquele projeto, já que a fotografia anda tão carente de bons centros de formação. POSE DETIDA - Onde: Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363, Bom Retiro, tel. 221-5158); abre hoje, às 19h; de seg. a sex, das 14h às 21h; sáb., das 14h às 17h. Até 16/6. Entrada franca. SORRIR - Onde: Instituto Goethe (r. Lisboa, 974, tel. 3088-4288). Quando: de seg. a qui., das 9h às 22h; sex. de 9h às 20h30; sáb. de 9h às 16h30. Até 13/6. Entrada franca. Próximo Texto: Projeto reúne contadores de histórias no Sesc Vila Mariana Índice |
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