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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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ORQUESTRA DE CÂMARA DE MOSCOU

Conjunto russo, regido por Constantine Orbelian, termina hoje série de récitas

Muito mais energia do que imaginação

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Não seria bom se a música pudesse ser uma linguagem direta e franca? Franca e direta, incapaz de outra coisa senão a verdade de si? Nem a música, infelizmente, chega a tanto; mas a ilusão dessa franqueza sobrevive em conjuntos como a Orquestra de Câmara de Moscou, que se apresentou segunda no Cultura Artística, regida pelo maestro norte-americano Constantine Orbelian.
A julgar pelo concerto de segunda, as três virtudes mais cultivadas pela OCM são o vigor, o vigor e o vigor. Sua expressão mais constante é um som cheio, quase chapado, transbordando decibéis. Sugere uma eloquência esquecida, para nós; e soa pouco natural numa obra como a "Sinfonia nš 22" de Haydn (1732-1809).
Mesmo na "Serenata para Cordas" de Tchaikovsky (1840-93) os contornos duros criaram um cenário antropológico para essa belíssima e russíssima peça. Se este é o verdadeiro Tchaikovsky, em russo, tudo o que a gente conhece é puro sotaque. Só nos acordes velados do início do terceiro movimento o maestro Orbelian parecia a ponto de fugir da neutralidade dinâmica e metronômica; mas a delicadeza passou logo, em favor da "ENERGYA".
Vale mais ou menos o mesmo para cinco "Prelúdios" de Shostakovich (1906-75) transcritos para a orquestra. Destaque para o solo do "spalla" Alexander Mayorov, no "Prelúdio nš 5". Sejamos justos: destaque também para a "spalla" das violas, Svetlana Stepchenko, e para uma linda passagem na quarta corda dos segundos violinos, no final do Tchaik.
O grande solista da noite foi o trompetista Vladislav Lavrik, de 22 anos, tocando sua própria transcrição do "Concerto em Ré Menor" para violino de Mendelssohn (1809-47). Dizer que a parte do violino soa estranha no trompete seria óbvio. Parte do espetáculo, aqui, não é ver o trompete dando saltos triplos de costas, sem rede? Sobre isso: 1) a música sofre (toda leveza do compositor adolescente desaparece na ginástica de válvulas); 2) para ser um espetáculo, tinha de ser perfeito.
Vigor, vigor, "vigorski". Nessa noite, ao menos, faltou "imaginátzya".


Orquestra de Câmara de Moscou  
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 3258-3616)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 100 a R$ 190
Patrocinadores: Bovespa, Telefônica e Votorantim



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