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ORQUESTRA DE CÂMARA DE MOSCOU
Conjunto russo, regido por Constantine Orbelian, termina hoje série de récitas
Muito mais energia do que imaginação
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Não seria bom se a música
pudesse ser uma linguagem
direta e franca? Franca e direta, incapaz de outra coisa senão a verdade de si? Nem a música, infelizmente, chega a tanto; mas a ilusão
dessa franqueza sobrevive em
conjuntos como a Orquestra de
Câmara de Moscou, que se apresentou segunda no Cultura Artística, regida pelo maestro norte-americano Constantine Orbelian.
A julgar pelo concerto de segunda, as três virtudes mais cultivadas pela OCM são o vigor, o vigor e o vigor. Sua expressão mais
constante é um som cheio, quase
chapado, transbordando decibéis. Sugere uma eloquência esquecida, para nós; e soa pouco natural numa obra como a "Sinfonia
nš 22" de Haydn (1732-1809).
Mesmo na "Serenata para Cordas" de Tchaikovsky (1840-93) os
contornos duros criaram um cenário antropológico para essa belíssima e russíssima peça. Se este é
o verdadeiro Tchaikovsky, em
russo, tudo o que a gente conhece
é puro sotaque. Só nos acordes velados do início do terceiro movimento o maestro Orbelian parecia a ponto de fugir da neutralidade dinâmica e metronômica; mas
a delicadeza passou logo, em favor da "ENERGYA".
Vale mais ou menos o mesmo
para cinco "Prelúdios" de Shostakovich (1906-75) transcritos para
a orquestra. Destaque para o solo
do "spalla" Alexander Mayorov,
no "Prelúdio nš 5". Sejamos justos: destaque também para a
"spalla" das violas, Svetlana Stepchenko, e para uma linda passagem na quarta corda dos segundos violinos, no final do Tchaik.
O grande solista da noite foi o
trompetista Vladislav Lavrik, de
22 anos, tocando sua própria
transcrição do "Concerto em Ré
Menor" para violino de Mendelssohn (1809-47). Dizer que a parte
do violino soa estranha no trompete seria óbvio. Parte do espetáculo, aqui, não é ver o trompete
dando saltos triplos de costas,
sem rede? Sobre isso: 1) a música
sofre (toda leveza do compositor
adolescente desaparece na ginástica de válvulas); 2) para ser um
espetáculo, tinha de ser perfeito.
Vigor, vigor, "vigorski". Nessa
noite, ao menos, faltou "imaginátzya".
Orquestra de Câmara de
Moscou
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 3258-3616)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 100 a R$ 190
Patrocinadores: Bovespa, Telefônica e
Votorantim
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