São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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Mostra reúne clássicos do faroeste brasileiro

CCBB-SP exibe 23 filmes do gênero que ficou conhecido como "nordestern'

Na programação, estão filmes raros como "Memória do Cangaço" e "O Último Dia de Lampião", além de "Deus e o Diabo na Terra do Sol"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Ao modo de seus protagonistas, a mostra "Nordeste, Cangaço e Cinema" ataca em outras praças, depois de encher os olhos do público da última edição do CineCeará e ser exibida em Brasília e no Rio. O ciclo, com seleção a cargo do especialista Marcelo Dídimo, exibe até o dia 22, no Centro Cultural Banco do Brasil paulistano, 23 títulos de um gênero com estimados 50 longas, médias e curtas-metragens.
No essencial "Cangaço - O Nordestern no Cinema Brasileiro", organizado pela jornalista e pesquisadora Maria do Rosário Caetano, aponta-se a aparição dos cangaceiros no cinema ainda nos anos 20, no filme "Filho sem Mãe", de Tancredo Seabra.
Mas é a partir dos anos 50 que o chamado "nordestern" se afirma como gênero, com seus filmes de ação protagonizados por figuras de cangaceiros, nem sempre no papel de heróis, e o espaço do sertão como o lugar mítico das aventuras desses eternos foras-da-lei.
A ponta-de-lança é "O Cangaceiro", produção da Vera Cruz dirigida por Lima Barreto em 1953 e primeiro filme brasileiro premiado no Festival de Cannes. O ciclo em cartaz no CCBB traz o original de Barreto e a refilmagem feita por Aníbal Massaini em 1997, que serve menos para comparar e mais para entender o que aconteceu no cinema brasileiro entre as duas versões.
Pois a mostra funciona também como uma história dos vários ciclos do nosso cinema, das várias tentativas de seduzir o público com uma temática que serve desde força de atração para o mais simples filme de ação ("Lampião, o Rei do Cangaço", de 1962) até a recriação mítico-poética do universo cangaceiro ("Corisco e Dadá" e "Baile Perfumado", ambos dos anos 90).
Entre os dois extremos, há lugar para o questionamento simbólico e político de nossas injustiças sociais feito pelo cinema novo (o clássico de Glauber "Deus e o Diabo na Terra do Sol"), a reinterpretação shakespereana do mito (o raro "Faustão", feito por Eduardo Coutinho em 1971), a visita da pornochanchada ("As Cangaceiras Eróticas", de 1974) e a apropriação burlesca ("O Cangaceiro Trapalhão", de 1983).
Para completar a riqueza da seleção, a mostra é também uma chance raríssima de ter acesso a "Memória do Cangaço", "O Último Dia de Lampião", "A Mulher no Cangaço" e "Lampião, Sonhos de Bandido", documentários e mistos de documentário e ficção que reconstituem os cenários, as bases sociais do cangaço e o papel da mulher e entrevistam sobreviventes da aventura.


NORDESTE, CANGAÇO E CINEMA
Quando:
de qua. a dom., até 22/5
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651; programação e classificações no site www.bb.com.br/cultura)
Quanto: entrada franca


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