São Paulo, Quarta-feira, 15 de Setembro de 1999
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HOMENAGEM

Ciclo traz 13 filmes com a participação do diretor em várias funções, de continuísta a diretor

Fresnot é o cineasta do mês no MIS

CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha

Alain Fresnot é um operário do cinema. Trabalhou como continuísta, montador, produtor, roteirista, assistente de direção e diretor em quase 30 filmes, alguns dos quais emblemáticos, como "Eles Não Usam Black-Tie" e "A Marvada Carne", e outros ainda obscuros, como "Noite em Chamas" e "Capuzes Negros".
Esses quatro filmes, além de outros nove, compõem a quarta edição do ciclo "Cineasta do Mês", preparado pelo MIS (Museu da Imagem e do Som) para homenagear autores representativos da cinematografia nacional. O evento começa hoje com a projeção do último longa-metragem de Fresnot, "Ed Mort", um filme que debocha dos antigos policiais, de Humphrey Bogart, do mito da mulher fatal e do "noir".
Apesar de ter nascido na França, em 1951, Fresnot é um cineasta bem paulistano. Isso se confirma com "Ed Mort", ambientado na cidade, e com o pôster do penúltimo longa que dirigiu, "Lua Cheia", fixado numa das paredes do bar Empanadas, na Vila Madalena. De lá, Fresnot, Chico Botelho, Guilherme de Almeida Prado e tantos outros não arredavam, nos anos 80, antes das 5h.
Eram tempos mais brandos para o cinema nacional, que não tinha de responder a modelos estabelecidos pelo mercado internacional e que via a distribuição de seus títulos resguardada pela Embrafilme, nunca é demais lembrar, desmantelada pelo governo de Fernando Collor.
Alain Fresnot, na época, seguia um aprendizado que teve origem nas palavras de Paulo Emílio Salles Gomes, o grande intelectual do cinema brasileiro, a quem conheceu quando estudava cinema na ECA-USP. "Ele recomendava a todos seus alunos", conta Fresnot, "que escolhessem um diretor para seguir sempre, para grudar. Eu escolhi o Leon Hirszman".
Feita a opção, seguiu o autor de "São Bernardo" até que este o convidou a assumir a vaga de assistente de direção em "Eles Não Usam Black-Tie", filme premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1981. E a cooperação não ficou por aí. Hirszman e Fresnot trabalhariam juntos no documentário "Partido Alto", sobre a tradicionalíssima escola de samba carioca Portela, com participação de Paulinho da Viola. O filme não está incluído neste ciclo porque as cópias, se é que ainda existem, não foram encontradas.
Os convites de Hirszman tiveram motivo. Muito embora Fresnot não se considerasse um diretor de cinema até então, apenas um bom montador, naquele momento ele já era autor de um filme, ainda que experimental, o longa "Trem Fantasma", feito durante a faculdade em 16 mm.
Sobre esse trabalho, que será exibido amanhã, às 19h, Fresnot diz poucas e espirituosas palavras: "O único mérito desse filme é que foi o primeiro longa produzido por um aluno da ECA". Não é pouca coisa, há de se convir.
Hoje, Fresnot trabalha para motivar mais homenagens como a do MIS. Está em fase final de captação de recursos para seu próximo longa: "Desmundo", com orçamento de R$ 4,3 milhões.

O quê: Cineasta do Mês - Alain Fresnot
Quando: hoje, às 19h ("Ed Mort")
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 852-9197)
Quanto: entrada franca


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