São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Crítica/ "O Menino do Pijama Listrado"

Versão de romance explora o recurso fácil da infância em tempos sombrios

Divulgação
Jack Scanlon como Shmuel, em "O Menino do Pijama Listrado"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Uma breve espiada em bancas de revistas e livrarias levanta a suspeita de que o tema do nazismo vende mais que capa de chuva em dia de temporal. Não dá para saber se a razão do fenômeno é nossa inesgotável fascinação pelo "mal" ou, hipótese mais remota, se buscamos nutrir a memória para garantir que estamos livres de uma recaída na barbárie. O fato é que também o cinema adora recorrer à malignidade nazista para reabastecer seu estoque de vilões. E que filmes sobre o Holocausto são garantia de boa bilheteria.
"O Menino do Pijama Listrado", baseado em romance homônimo, explora, mais uma vez, o recurso fácil da infância em tempos sombrios com a intenção de sensibilizar o público que busca entretenimento disfarçado de boa consciência. Carregado de boas intenções, o drama descreve a amizade entre Bruno, um garoto alemão, filho de um militar, e Shmuel, um menino judeu trancafiado num campo de concentração. Os dois se tornam amigos quando Bruno, de modo inadvertido, brinca em torno da casa para onde sua família se mudou, vizinha ao campo de extermínio, que ele pensa ser uma fazenda.
O filme pretende jogar as cartas no campo da inocência, elevando os olhares infantis de Bruno e Shmuel a primeiro plano, indo da inconsciência da gravidade dos fatos ao lugar involuntário de vítima. Sem levar em conta o grau de manipulação sentimental da platéia, o longa incorre num problema mais grave: vender a versão de que os culpados já foram devidamente punidos e transmitir a estranha mensagem que identifica ausência de conhecimento e inocência. Mas tal idéia é invalidada pelo próprio filme, cuja primeira cena traz Bruno brincando pelas ruas de Berlim ao lado de outras crianças enquanto os judeus são amontoados em caminhões rumo à morte. Desde a falsa inocência de "A Vida É Bela" não se via nada tão acintoso.


O MENINO DO PIJAMA LISTRADO
Onde: veja no roteiro abaixo
Avaliação: péssimo



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