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Mautner e Macalé se encontram no Sesc
Compositores sobem hoje e amanhã ao palco da Vila Mariana para interpretar sucessos de suas carreiras
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Não se pode esperar nada de
rigoroso quando Jorge Mautner, 67, e Jards Macalé, 64, dividem o palco. Parceiros ocasionais nas últimas décadas, os
dois se reencontram hoje e
amanhã na série "Encontros",
no Sesc Vila Mariana, para noites em que a única regra é a liberdade -enquanto Mautner
recita de cor e cantarola trechos do roteiro definido para o
show, Macalé decide sua parte
ao sabor do momento.
"Lê pra mim as músicas que
estão aí", pede ele, ao telefone,
ao saber da listagem enviada
por e-mail pela assessoria de
imprensa. "Não, faz o seguinte", delibera, após dois segundos de avaliação, "tira o "Samba
dos Animais", que nem é minha,
e põe no lugar "O Planeta dos
Macacos" [dele com Mautner]."
A música estará então no encerramento, em que os dois tocam juntos. Antes, Macalé interpreta, sem o colega, "Revendo Amigos" e "Anjo Exterminado" (ambas dele com Waly Salomão), além de clássicos como
"Contrastes" (Ismael Silva) e
"Consolação" (Baden Powell e
Vinicius de Moraes).
Sobre sua parte solo, Mautner adianta até uma piada de
rabino ao fim de "Morre-se Assim", parceria com Nelson Jacobina que entrou no álbum
lançado em 2002 com Caetano
Veloso, "Eu Não Peço Desculpa". Ao violão, Jacobina segue
Mautner em parcerias dos dois,
como "Maracatu Atômico" e "O
Executivo-Executor" (que, diz
Mautner, o violonista cantará
pela primeira vez).
"Puntos Cardinales"
Jorge Mautner e Jards Macalé se conheceram no apartamento de Gilberto Gil, em Londres, no fim dos anos 60. Na
época, o primeiro filmava o underground "O Demiurgo".
"Cheguei lá e Jorge inventou
um personagem pra mim", diz
Macalé. "Foi uma empatia, porque ele é um cara... Pô, não dá
para adjetivar Jorge Mautner."
Dessa empatia saíram músicas como "Puntos Cardinales",
outra das previstas (e confirmadas por Macalé) para o fim
do show e que, não por acaso, às
vezes aparece com o nome Fidel Castro entre os créditos.
A música foi composta em
1973, quando Macalé organizava um show para o 25º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, com o apoio da
ONU. "Eles [do escritório carioca da ONU] me davam umas
fitinhas para ajudar no trabalho. De repente, achei um discurso de Fidel, inflamadíssimo,
que terminava com: "La revolución son nuestros puntos cardinales". Liguei pro Jorge e disse:
"Saca só isso aqui". Horas depois, ele veio com a letra pronta", diz o autor da melodia.
Das implacáveis palavras do
comandante cubano saiu o bolero-mambo-canção de amor.
"Para nós, "puntos cardinales"
são beijos de amor", diz Mautner, e dá uma risada.
Disco e livro
As parcerias na criação podem voltar no próximo CD de
Macalé. "Temos duas músicas
em perspectiva; ele vai escolher
ainda as letras", adianta Mautner. "Pô, mas ele abre o jogo todo! Isso é segredo", reclama o
dono do álbum (a ser lançado
pela Biscoito Fino), antes de
confirmar só um "Ne me Quitte
Pas" em "versão Macalé".
Mautner, que há um ano prometia lançar até o fim do ano
(passado) um livro sobre Gilberto Gil, diz que a obra deve
estar pronta até... o fim do ano.
"Aaaah, tô quase acabando, sai
neste ano, se Deus quiser! São
tantas descobertas estrondosas
que resolvi agora fazer em dois
volumes", justifica.
SÉRIE ENCONTROS
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, tel. 5080-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20
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