São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

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Mautner e Macalé se encontram no Sesc

Compositores sobem hoje e amanhã ao palco da Vila Mariana para interpretar sucessos de suas carreiras

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Não se pode esperar nada de rigoroso quando Jorge Mautner, 67, e Jards Macalé, 64, dividem o palco. Parceiros ocasionais nas últimas décadas, os dois se reencontram hoje e amanhã na série "Encontros", no Sesc Vila Mariana, para noites em que a única regra é a liberdade -enquanto Mautner recita de cor e cantarola trechos do roteiro definido para o show, Macalé decide sua parte ao sabor do momento.
"Lê pra mim as músicas que estão aí", pede ele, ao telefone, ao saber da listagem enviada por e-mail pela assessoria de imprensa. "Não, faz o seguinte", delibera, após dois segundos de avaliação, "tira o "Samba dos Animais", que nem é minha, e põe no lugar "O Planeta dos Macacos" [dele com Mautner]."
A música estará então no encerramento, em que os dois tocam juntos. Antes, Macalé interpreta, sem o colega, "Revendo Amigos" e "Anjo Exterminado" (ambas dele com Waly Salomão), além de clássicos como "Contrastes" (Ismael Silva) e "Consolação" (Baden Powell e Vinicius de Moraes).
Sobre sua parte solo, Mautner adianta até uma piada de rabino ao fim de "Morre-se Assim", parceria com Nelson Jacobina que entrou no álbum lançado em 2002 com Caetano Veloso, "Eu Não Peço Desculpa". Ao violão, Jacobina segue Mautner em parcerias dos dois, como "Maracatu Atômico" e "O Executivo-Executor" (que, diz Mautner, o violonista cantará pela primeira vez).

"Puntos Cardinales"
Jorge Mautner e Jards Macalé se conheceram no apartamento de Gilberto Gil, em Londres, no fim dos anos 60. Na época, o primeiro filmava o underground "O Demiurgo".
"Cheguei lá e Jorge inventou um personagem pra mim", diz Macalé. "Foi uma empatia, porque ele é um cara... Pô, não dá para adjetivar Jorge Mautner."
Dessa empatia saíram músicas como "Puntos Cardinales", outra das previstas (e confirmadas por Macalé) para o fim do show e que, não por acaso, às vezes aparece com o nome Fidel Castro entre os créditos.
A música foi composta em 1973, quando Macalé organizava um show para o 25º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, com o apoio da ONU. "Eles [do escritório carioca da ONU] me davam umas fitinhas para ajudar no trabalho. De repente, achei um discurso de Fidel, inflamadíssimo, que terminava com: "La revolución son nuestros puntos cardinales". Liguei pro Jorge e disse: "Saca só isso aqui". Horas depois, ele veio com a letra pronta", diz o autor da melodia.
Das implacáveis palavras do comandante cubano saiu o bolero-mambo-canção de amor. "Para nós, "puntos cardinales" são beijos de amor", diz Mautner, e dá uma risada.

Disco e livro
As parcerias na criação podem voltar no próximo CD de Macalé. "Temos duas músicas em perspectiva; ele vai escolher ainda as letras", adianta Mautner. "Pô, mas ele abre o jogo todo! Isso é segredo", reclama o dono do álbum (a ser lançado pela Biscoito Fino), antes de confirmar só um "Ne me Quitte Pas" em "versão Macalé".
Mautner, que há um ano prometia lançar até o fim do ano (passado) um livro sobre Gilberto Gil, diz que a obra deve estar pronta até... o fim do ano.
"Aaaah, tô quase acabando, sai neste ano, se Deus quiser! São tantas descobertas estrondosas que resolvi agora fazer em dois volumes", justifica.


SÉRIE ENCONTROS
Quando:
hoje, às 21h; amanhã, às 18h
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000)
Quanto: R$ 5 a R$ 20


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