São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 2002

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FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS É TUDO VERDADE

"Samba Riachão" celebra e explica a música da Bahia

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Clementino Rodrigues é um negro franzino e sorridente que, aos 80 anos, parece ter 50. Em geral veste terno branco, camisa aberta ao peito e lenços de cores berrantes, além de uma indefectível toalhinha nos ombros, que ele usa para enxugar o suor abundante do rosto.
Com o nome artístico de Riachão, esse pequeno baiano compôs centenas de músicas simples e deliciosas cantadas por várias gerações nas ruas de Salvador. Algumas delas foram difundidas nacionalmente por intérpretes famosos. É o caso de "Cada Macaco no Seu Galho", gravada duas vezes por Gil e Caetano.
Em torno desse personagem, o cineasta e músico Jorge Alfredo fez um documentário vibrante sobre a história do samba baiano.
"Samba Riachão" dividiu com "Lavoura Arcaica" o prêmio de melhor filme no último Festival de Brasília, e a presença do sambista encantou o público do evento. Foi a consagração tardia de um artista ainda pouco conhecido fora da Bahia.
O mérito maior do documentário de Jorge Alfredo é o de equilibrar admiravelmente informação e homenagem, reflexão e festa, logos e eros. De Dorival Caymmi a Carlinhos Brown, passando por Caetano, Gil e Tom Zé, os músicos e compositores mais importantes da Bahia dão depoimentos preciosos procurando explicar a originalidade do samba baiano e suas relações com outros ritmos afro-brasileiros.
Entremeadas a esses depoimentos -em geral filmados de modo espontâneo e pouco convencional-, vemos imagens de arquivo (poucas) e cenas da vida cotidiana de Riachão. O próprio compositor nos revela a gênese de alguns de seus sambas e fala sobre os eventos mais marcantes de sua biografia enquanto veste seu terno, mostra fotos antigas ou caminha pelas ruas da velha Bahia.
Um dos momentos mais belos do filme é aquele em que a câmera acompanha, com muita leveza, uma caminhada de Riachão por uma ladeira de Salvador, em direção à cidade baixa.
Ele pára aqui e ali para brincar com fãs, ensaia passos de samba, entoa canções, sorri o tempo todo. Vida e música são uma coisa só, numa festa sem fim.
"Samba Riachão" nos coloca no meio dessa festa, ao mesmo tempo que nos faz pensar sobre ela. Para o bem ou para o mal, saímos desse filme mais brasileiros. Não é pouca coisa.


Samba Riachão     
Direção: Jorge Alfredo
Produção: Brasil, 2001
Onde: hoje, às 18h30, no CCBB; amanhã, às 19h, no Centro Cultural SP




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