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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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DANÇA

Companhia de São José do Rio Preto mostra espetáculo baseado na vida de mulher que viveu em hospital psiquiátrico

Balé de Rio Preto encena devaneios de Stela do Patrocínio

Marcelo Zamora/Divulgação
Cena de "Alma Aprisionada", de Mário Nascimento, que estréia amanhã


KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

"No pátio do Rio, a alimentação era eletrochoque, injeção e remédio". São palavras de Stela do Patrocínio (1941-1992), que foi paciente do hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.
O legado de Stela, que já teve seus brados transformados em poemas e peça de teatro, agora ganha vida em "Alma Aprisionada", espetáculo da companhia Balé do Rio Preto, que estréia amanhã no Centro Cultural São Paulo.
A coreografia propõe um desafio aos bailarinos e aos espectadores. No cenário, tramas de tecido entrecruzadas servem como obstáculo e "dificultam" a movimentação dos intérpretes. Quem assiste precisa buscar com os olhos, entre os buracos formados pelas tramas, os "loucos-bailarinos".
"Todo o elenco interpreta a vida de Stela, que se mostrava culta em momentos de lucidez e depois misturava falas que não faziam sentido", diz Creuza Arruda Merlo, 48, diretora da companhia.
O grupo decidiu buscar um personagem brasileiro que tivesse uma história dramática. "Falar sobre loucura provoca o artista", diz Marcelo Zamora, 34, que assina a direção cênica da obra.
Stela viveu no mesmo hospital em que esteve internado Arthur Bispo do Rosário (1909-89). Recusava-se a tomar remédios e, quando não falava, escrevia em pedaços de papelão. Seus dizeres foram recolhidos em fitas e transformados em livro: "Reino dos Bichos e dos Animais É o Meu Nome", da Azougue Editorial.
E como seria transpor em passos os devaneios de Stela? "É difícil falar sobre loucura sem ser literal. Mas eu tentei investigar o esconderijo da alma dos bailarinos. Eles mostram os momentos de lucidez que vivem os loucos", diz o coreógrafo Mário Nascimento.
A trilha do espetáculo é de Loop B, que abusou de sons extraídos de tanques de gasolina e descargas. Fundada em 1987, a companhia se diferencia por ter bailarinos que tocam instrumentos ao vivo, cantam e interpretam.

ALMA APRISIONADA. Com o Balé de Rio Preto. Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611, r. 221). Quando: de amanhã até 20/4. De qui. a sáb, às 20h, e dom., às 19h. Quanto: R$ 6.


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