São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 2002

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CINEMA

Em entrevista à Folha, diretor de "8 Mulheres" fala sobre os bastidores do filme e diz que seu país "não tem memória"

François Ozon critica "ingratidão" francesa

Divulgação
Cena do longa-metragem '8 Mulheres', dirigido pelo francês François Ozon, em cartaz em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

Expoente da nova safra de diretores franceses, François Ozon, 34, conseguiu o feito de reunir, num único filme ("8 Mulheres", em cartaz no Brasil desde sexta), divas de gerações e gerações do cinema de seu país.
Da decana Danielle Darrieux à promessa Ludivine Sagnier, desfilam pelo suspense-comédia-musical as estrelas Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart, Firmine Richard e Virginie Ledoyen.
Nesta entrevista à Folha, por e-mail, o cineasta deixa claro que vaidades afloraram na etapa de lançamento do filme (que concorreu ao Urso de Ouro em Berlim), substituindo o clima amigável que ele afirma ter tido durante as filmagens por mágoas agudas.
"Acho que os franceses não têm memória e são ingratos. Aliás, como certas atrizes...", afirma, ao comentar a reviravolta no cenário político de seu país, que alijou do poder o esquerdista Lionel Jospin (a quem Ozon já dedicou um documentário) e reforçou a influência do ultradireitista Le Pen.
Atualmente, Ozon prepara "Swimming Pool", quinto longa de sua carreira e segundo estrelado por Charlotte Rampling ("Sob a Areia"), que ele considera a melhor atriz da atualidade.
Com realizações tão distintas como "Sitcom", "Gotas d'Água em Pedras Escaldantes" e "8 Mulheres", a característica mais firme na carreira do diretor até aqui é a de camaleão cinematográfico. E deve continuar sendo assim, a julgar pela entrevista a seguir.
(SILVANA ARANTES)

Folha - A crítica francesa disse que o sr. "adocicou seus modos" em "8 Mulheres". Concorda?
François Ozon -
Eu sempre me adapto aos temas de que trato. A forma depende da história. Em "8 Mulheres" não era o caso de provocar custe o que custar. Minha "mise-en-scène" serve à história antes de qualquer outra coisa.

Folha - O sr. se considera um obcecado pelos temas da família e do sexo no cinema?
Ozon -
Em meus filmes falo daquilo que mais conheço -o sexo porque é a vida, e a família porque é frequentemente a morte.

Folha - Seria possível filmar "8 Mulheres" com um elenco desconhecido? Em que medida seu filme se vale do "star system"?
Ozon -
Escolhi um elenco de estrelas para dar uma dimensão suplementar ao filme. O espectador vê os personagens, mas também as atrizes se relacionando entre si. É uma reflexão ligeira e divertida sobre a condição e os fantasmas das atrizes. Além disso, é mais divertido ver Isabelle Huppert e Catherine Deneuve brigando entre si do que duas desconhecidas.

Folha - Como o sr. lidou, durante as filmagens, com situações de ciúmes e inveja, típicas em sets?
Ozon -
Correu tudo bem nas filmagens. Houve respeito, curiosidade e prazer de trabalhar em conjunto. Foi durante a promoção do filme que as coisas se tornaram complicadas...

Folha - Qual é sua cena preferida em "8 Mulheres"?
Ozon -
Gosto das cenas de canto e de dança, porque são aquelas em que as atrizes e as mulheres se revelam mais em suas fraquezas, fragilidades e falhas.

Folha - Como o sr., que sempre apoiou o ex-primeiro-ministro esquerdista Lionel Jospin, reagiu aos recentes acontecimentos da política francesa?
Ozon -
Acho que os franceses não têm memória e são ingratos. Aliás, como certas atrizes...

Folha - Depois de "Sob a Areia", o sr. está novamente filmando com Charlotte Rampling ("Swimming Pool"). Ela é sua atriz-fetiche?
Ozon -
Charlotte é uma mulher humanamente maravilhosa, generosa e inteligente -tudo o que faz uma grande atriz. Ela é, certamente, a melhor na França hoje.

Folha - Qual foi o último grande filme que o sr. viu no cinema?
Ozon -
"Cidade dos Sonhos", de David Lynch. Um filme com duas mulheres sublimes.



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