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"SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO"
Peça faz Shakespeare subir o morro à vontade e se iluminar
Maurício Grecco/Divulgação
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Cena do espetáculo "Sonho de uma Noite de Verão", adaptação de texto de William Shakespeare pelo grupo carioca Nós do Morro |
DO CRÍTICO DA FOLHA
No Vidigal tem uma turminha
de bamba que não se assusta
com os desafios de Shakespeare.
Com um histórico de resistência
cultural que vem de bem antes da
atual guerra civil, o grupo que se
criou por lá, o Nós do Morro,
além de representar o Brasil no
mundo através da participação no
filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, criou uma produção própria em teatro e cinema, atraindo grandes profissionais da área que se tornaram professores/mentores, além de um
selo de qualidade da Unesco e vários prêmios.
Não surpreende assim a ousadia de montar "Sonho de uma
Noite de Verão" para comemorar
os 18 anos do grupo. Já houve,
aliás, um "Hamlet" em 1997, na
origem de um intercâmbio com o
Conselho Britânico, que garante
desde então aulas com gente da
Royal Shakespeare Company, como Cecile Berry.
Por isso, ao adaptar a peça, Luiz
Paulo Corrêa e Castro não precisou facilitar o texto. Cíntia Rosa e
Rosana Barros, as enamoradas
Hérmia e Helena, estão desenvoltas com a densidade poética de
seu texto, enquanto que Roberta
Santiago, com agilidade e malícia,
faz um Puck antológico, e a verve
de André Santinho, impagável na
máscara de burro, tira de letra o
Bottom.
"Intromissão"
Apesar de manter integralmente a história original, o espetáculo
se apresenta como "uma intromissão no mundo de Shakespeare", devido sobretudo a uma piada interna do grupo: os atores
amadores que batalham para se
apresentar na corte -paralelo
inevitável com a própria história
do Nós do Morro- são os catadores de lixo do "Burro sem Rabo", sucesso anterior da companhia carioca.
Essa reciclagem de referências
está presente no cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand
Albuquerque, uma floresta de
garrafas e marmitas que torna o
precário refinado, e o figurino de
Jefferson Miranda e Flávio Graff,
de um luxo que Joãosinho Trinta
preconiza.
Algumas soluções ainda se
prendem às origens no teatro vocacional: apesar de bem resolvida
tecnicamente, a duplicação de
personagens em vários atores se
justifica só pelo desejo de não descartar ninguém; e muitos cacos
do texto se perdem longe de casa.
Em respeito ao esforço dos atores de irem além dos limites da
comunidade, é preciso ressalvar
que há ainda trabalho a ser feito
na dicção e que se embaraçam
com o figurino. Mas, quando Eunice Conceição puxa o samba de
Pedro Luís, o sonho do fundador
Guti Fraga enfeitiça a todos: à
vontade, Shakespeare sobe o
morro e se ilumina.
(SSC)
Sonho de uma Noite de Verão -
Uma Intromissão do Grupo Nós
do Morro no Universo de
Shakespeare
Texto: William Shakespeare
Direção: Fernando Mello da Costa
Com: grupo Nós do Morro
Onde: Augusta (r. Augusta, 943,
Consolação, tel. 3151-4141)
Quando: sex. e sáb., às 21h; e dom., às
19h; até 31/10
Quanto: R$ 30
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