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TEATRO
A australiana Joanna Murray-Smith, autora da peça que traz Regina Duarte no elenco, fala à Folha
Peça "Honra" ganha sessões extras
SHEILA GRECCO
da Redação
Depois de 32 anos de casamento, Guilherme decide abandonar a
família para viver um romance
com Cláudia, uma jovem jornalista. A história é velha conhecida,
mas tem rodado o mundo como o
enredo de "Honra", peça da australiana Joanna Murray-Smith.
No Brasil, a temporada termina
nesta semana com sucesso, fazendo algumas sessões extras.
A peça já teve leituras e montagens nos EUA, Austrália, França,
Alemanha, México, Turquia, Malásia, Hong Kong, Japão. "Trato
de temas clássicos sob uma nova
linguagem. Todos estão preocupados com saídas para o amor, a
dor e o prazer da existência humana", disse a autora à Folha.
Nascida em Melbourne, Joanna
Murray-Smith escreve romances,
peças e roteiros de cinema. "Hon-
ra" estreou na Austrália em 1996
e, no mesmo ano, foi lida por
Meryl Streep em Nova York. Em
1998, foi produzida na Broadway.
Além dos palcos brasileiros, com
produção da atriz Regina Duarte,
"Honra" deve estrear em Tóquio.
Bem-humorada e entusiasmada com a receptividade de seu trabalho no Brasil, Joanna Murray-Smith falou à Folha de crises familiares (tema pelo qual tem fascínio) e de seus planos, que incluem uma viagem ao Brasil para
assistir à estréia da peça provavelmente no Rio no próximo ano.
Folha - Onde estaria em "Hon-
ra" a originalidade de contar a
já tão conhecida história de um
homem que se apaixona por
uma mulher mais velha?
Joanna Murray-Smith - Quis
contar uma história bastante familiar sob uma nova linguagem.
A originalidade está em colocar a
mulher como personagem central
e não usualmente nas arestas da
história. Quis fazer isso sem reduzir as personagens a estereótipos.
Queria construir uma história em
que a presença de cada um dos
quatro personagens fossem também representações das facetas
do ser humano.
Folha - Os críticos têm dito
que você faz uma boa mistura
entre palco e roteiro. Celso Nunes, o diretor de sua peça no
Brasil, afirma que "Honra" é para ser dita e não lida. Como você
define sua linguagem?
Murray-Smith - O roteiro foi
construído de modo a ser dito e
não lido. É extremamente gratificante para o dramaturgo quando
a encenação no palco traz essa naturalidade que uma leitura do
"script" aparentemente não traz.
A minha linguagem é bastante peculiar, traz pensamentos inacabados na boca dos autores, deixando suspenso no ar uma tensão. A
minha ambição é escrever um
texto provocativo e lírico.
Folha - Freud dizia que a satisfação sexual é a mais forte e importante para a felicidade do
ser humano. Guilherme, em sua
peça, parte nessa direção?
Murray-Smith - Sim, ele assume
este ponto de vista tipicamente
freudiano. Ele vai lutar para defender que a paixão física não pode ser negada. Obviamente isso se
choca com outros pontos de vista,
para quem sexo e amor fazem
parte de uma complexa mistura.
E disso vai se dar conta Guilherme
no final da peça. A paixão é necessária para impulsionar a existência humana, mas por si só não
sustenta um relacionamento.
Folha - Norah abandona sua
promissora carreira como escritora para viver em função do
marido. Cláudia, quando começa a se tornar conhecida, vê seu
relacionamento com o amante
entrar em conflito. Você acredita que os as grandes mulheres
atemorizam os homens?
Murray-Smith - As feministas
me matarão ao ouvir isso (risos),
mas é verdadeiro que homens
sentem complexo intelectual ao se
deparar com grandes talentos
dentro de casa. Em "Honra", parte daquilo de que foge Guilherme
está explicada no fato de que Norah compreende muito bem todas
as suas nuances, medos e falhas.
Guilherme quer correr disso e começar de novo. Para muitos homens dessa idade inteligência intelectual passa a ser um conceito
raso. Cláudia dá a Guilherme a
chance de escapar não só da mulher, mas de si próprio.
Folha - A emancipação das
mulheres no século 20 é impressionante. No entanto, a protagonista Norah vai na contramão
desse perfil moderno. Você não
sentiu medo das feministas?
Murray-Smith - Claro que fiquei aterrorizada com essa possibilidade, mas uma infinidade de
feministas assistiu à peça e gostou. Acredito que o que influencia
a peça é o meu sentimento de que
as duas gerações erraram em algum aspecto. A geração de Norah
se deu demais e a geração moderna, muito pouco.
Folha - Algum dramaturgo em
especial teria a influenciado?
Murray-Smith - Amor, morte,
traição, desejo, ambição são elementos presentes desde as narrativas dos gregos. Tchecov me ensinou particularmente como
idéias se transformam em teatro.
Folha - "Nightfall", sua última
peça, conta a história de Cora,
uma protegida criança que desaparece sem deixar rastros.
"Honra" também mostra uma
crise familiar. Por quê?
Murray-Smith - Sou fascinada
por famílias e gosto de escrever
peças com um número reduzido
de personagens, em situações de
intensa emoção, e a família acaba
servindo como pretexto ideal. Há
muito de materialidade, drama,
dor e confusão na família.
Peça: Honra
Elenco: Regina Duarte, Gabriela Duarte,
Carolina Ferraz, Marcos Caruso
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana,196, tel.: 258-3616)
Quando: hoje, às 18h e às 21h, e amanhã
sessões extras no mesmo horário
Quanto: R$ 30
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