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Crítica/cinema/"Marcello, Uma Vida Doce"
Rico acervo de imagens valoriza tributo ao mito Marcello Mastroianni
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A aura em torno de astros
e estrelas de cinema já
rendeu documentários
notáveis como "Marlene"
(1984), em que o também ator
Maximilian Schell tenta se
aproximar do mito Marlene
Dietrich (1901-1992), e "Meu
Melhor Inimigo" (1999), no
qual o diretor Werner Herzog
reconstitui sua vida (e as muitas diferenças) com Klaus
Kinski (1926-1991).
"Marcello, Uma Vida Doce"
pertence a outra família, de
realização mais modesta, sem
maiores pretensões exceto a de
prestar tributo à memória do
homenageado. Ocorre que o
homenageado vem a ser Marcello Mastroianni (1924-1996)
-e não haveria como deixar de
fazer um filme iluminado, tendo como foco esse ícone de elegância, magnetismo e simpatia.
A produtora italiana Surf
Film, que realizou o longa, já
assinou documentários sobre
outras figuras-chave do cinema
italiano, como a atriz Sophia
Loren e o roteirista Tonino
Guerra, bem como sobre as filmagens de "Diários de Motocicleta" (2004), de Walter Salles,
e sobre o líder cubano Fidel
Castro. É também a distribuidora de diversos filmes de Mastroianni, como "Matrimônio à
Italiana" (1964), "Casanova 70"
(1965) e "Um Dia Muito Especial" (1977).
O tom é sempre respeitoso,
quase oficial, como se qualquer
insinuação de desvio pessoal ou
profissional fosse atingir um
símbolo da pátria, mas o acervo
de imagens tem valor inestimável. Além de trechos de cerca de
20 filmes ("A Doce Vida", apesar do título, só aparece em fotos), há preciosas entrevistas
de arquivo, inclusive com diretores também já falecidos, como Federico Fellini, Luchino
Visconti e Valerio Zurlini.
O material de arquivo é enriquecido pelo achado que abre o
filme e o costura: cenas de Mastroianni aos 41 anos, captadas
por Antonello Branca para um
documentário. Em meados da
década de 60, ele tinha rodado
metade de seus cerca de 150 filmes e já era um mito.
O que se vê e ouve, no entanto, é alguém que procura redimensionar a própria importância, embora tenha plena consciência do fascínio que exerce
sobre o grande público.
Os diretores Mario Canale e
Annarosa Morri juntam a essas
imagens outras 25 entrevistas
feitas recentemente, e que se
dividem em categorias distintas. Entre os destaques, há dois
depoimentos do círculo familiar: os das filhas Barbara (do
único casamento, com Flora
Carabella, que durou até a morte de Mastroianni) e Chiara (do
relacionamento com Catherine
Deneuve).
A presença de ambas, sem
nenhuma menção às mães,
ilustra o respeito a certas barreiras que o filme não quer
transpor a nenhum custo, nem
mesmo diante de informações
cifradas que fornecem sobre a
distância entre elas.
De um círculo também íntimo, vêm os relatos de alguns
colegas de trabalho, como o
músico Armando Trovaioli
(que traduz Mastroianni em
forma de canção) e os diretores
Ettore Scola, Mario Monicelli e
Marco Bellocchio.
No próximo dia 19, data que
marca o décimo aniversário da
morte de Mastroianni, "Marcello, uma Vida Doce" ganhará
exibição em um auditório de
Roma e, à noite, transmitido
pela televisão italiana. Seu uso
em agenda de homenagens, da
qual São Paulo poderá agora fazer parte, só confirma que o espírito é mesmo o de recordar
como nós o amávamos tanto e
temos saudade, dele e daqueles
tempos.
MARCELLO, UMA VIDA DOCE 0
Direção: Mario Canale e Annarosa Morri
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex e Reserva Cultural
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