São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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ARTES CÊNICAS

Monólogo de Serge Valletti sobre jovem que sonha se tornar atriz faz apresentação dupla em São Paulo

Espetáculo francês faz ode à arte teatral

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Certo dia, quando descobriu que o homem que amava dividia a cama com outro homem, ela voltou para casa e chorou. "Chorei. Chorei. E aí, quando o dia raiou, eu adormeci", diz a protagonista de "Et Puis, Quand le Jour s'Est Levé, Je me Suis Endormi", numa passagem desamorosa do monólogo "E Aí, Quando o Dia Raiou, Eu Adormeci", que tem apresentações somente hoje e amanhã no Sesc Anchieta, em São Paulo.
Com texto de Serge Valletti, direção de Michel Didym e interpretação de Christiane Cohendy, a montagem companhia francesa Boomerang tem participação da atriz brasileira Denise Weinberg, que contracena e faz a ponte para o português.
A dramaturgia de Valletti (1951) superpõe corrosão e lirismo na história de uma adolescente de Marselha que desembarca em Paris com um bilhete no bolso e uma idéia na cabeça: tornar-se atriz.
Aliás, teatro, para ela, são as vozes que ressoam em sua cabeça. Entre amigos, amantes e solidões, eis uma atriz no palco de sua própria vida, a secar lágrimas amargas depois de um sorriso doce, parece indicar Valletti.
As extravagâncias de um diretor, citações a Molière, Marivaux e André Gide, entre outros nomes de proa da cena francesa, clássica ou contemporânea, tudo converge para uma ode ao teatro, arte que cruza o caminho da protagonista por acaso.
"As jovens companhias dos anos 70, na França, revolucionavam a arte e o mundo, reinventavam um teatro em que a encenação era sua arma. Tudo parecia possível. Era preciso tudo tentar", afirma Christiane Cohendy.
Para Cohendy, o autor preenche a história com detalhes "verdadeiros". "Ele tem a arte de convocar as lembranças com uma liberdade rara, com a sensualidade que lhe é própria. A língua, ela mesma, se diverte e canta; toma forma e voa com seus personagens no texto como ele é."
Em meio à "graça cortante", o encenador Michel Didym (diretor artístico da Associação Francesa para a Ação Artística, do Ministério das Relações Exteriores, com atuação na América Latina) investe no formato cabaré e introduz a poesia do trio de instrumentistas Sylvain Juret, Philippe Thibault e Jacques Bouniard para dialogar com a musicalidade da palavra falada.
O espetáculo faz parte do programa Teatro Francês Contemporâneo, parceria de dois anos entre o Consulado Geral da França e o Serviço Social do Comércio, o Sesc, ambos em São Paulo.
Apesar da curta temporada, a vinda dos artistas franceses comporta, ainda, encontros com colegas brasileiros. Estava programado para ontem, por exemplo, almoço com dramaturgos, diretores, críticos e jornalistas.
Amanhã, às 18h30, Didym tem novo encontro com dramaturgos brasileiros para eventuais leituras num festival da França em 2005.


E AÍ, QUANDO O DIA RAIOU, EU ADORMECI. De: Serge Valletti. Direção: Michel Didym. Com: Christiane Cohendy, da Companhia Boomerang (França) e participação da atriz brasileira Denise Weinberg. Tradução: Angela Leite Lopes. Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000). Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto: R$ 20.


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