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ARTES CÊNICAS
Monólogo de Serge Valletti sobre jovem que sonha se tornar atriz faz apresentação dupla em São Paulo
Espetáculo francês faz ode à arte teatral
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Certo dia, quando descobriu
que o homem que amava dividia a
cama com outro homem, ela voltou para casa e chorou. "Chorei.
Chorei. E aí, quando o dia raiou,
eu adormeci", diz a protagonista
de "Et Puis, Quand le Jour s'Est
Levé, Je me Suis Endormi", numa
passagem desamorosa do monólogo "E Aí, Quando o Dia Raiou,
Eu Adormeci", que tem apresentações somente hoje e amanhã no
Sesc Anchieta, em São Paulo.
Com texto de Serge Valletti, direção de Michel Didym e interpretação de Christiane Cohendy,
a montagem companhia francesa
Boomerang tem participação da
atriz brasileira Denise Weinberg,
que contracena e faz a ponte para
o português.
A dramaturgia de Valletti (1951)
superpõe corrosão e lirismo na
história de uma adolescente de
Marselha que desembarca em Paris com um bilhete no bolso e uma
idéia na cabeça: tornar-se atriz.
Aliás, teatro, para ela, são as vozes que ressoam em sua cabeça.
Entre amigos, amantes e solidões,
eis uma atriz no palco de sua própria vida, a secar lágrimas amargas depois de um sorriso doce,
parece indicar Valletti.
As extravagâncias de um diretor, citações a Molière, Marivaux e
André Gide, entre outros nomes
de proa da cena francesa, clássica
ou contemporânea, tudo converge para uma ode ao teatro, arte
que cruza o caminho da protagonista por acaso.
"As jovens companhias dos
anos 70, na França, revolucionavam a arte e o mundo, reinventavam um teatro em que a encenação era sua arma. Tudo parecia
possível. Era preciso tudo tentar",
afirma Christiane Cohendy.
Para Cohendy, o autor preenche
a história com detalhes "verdadeiros". "Ele tem a arte de convocar as lembranças com uma liberdade rara, com a sensualidade
que lhe é própria. A língua, ela
mesma, se diverte e canta; toma
forma e voa com seus personagens no texto como ele é."
Em meio à "graça cortante", o
encenador Michel Didym (diretor artístico da Associação Francesa para a Ação Artística, do Ministério das Relações Exteriores,
com atuação na América Latina)
investe no formato cabaré e introduz a poesia do trio de instrumentistas Sylvain Juret, Philippe Thibault e Jacques Bouniard para
dialogar com a musicalidade da
palavra falada.
O espetáculo faz parte do programa Teatro Francês Contemporâneo, parceria de dois anos
entre o Consulado Geral da França e o Serviço Social do Comércio,
o Sesc, ambos em São Paulo.
Apesar da curta temporada, a
vinda dos artistas franceses comporta, ainda, encontros com colegas brasileiros. Estava programado para ontem, por exemplo, almoço com dramaturgos, diretores, críticos e jornalistas.
Amanhã, às 18h30, Didym tem
novo encontro com dramaturgos
brasileiros para eventuais leituras
num festival da França em 2005.
E AÍ, QUANDO O DIA RAIOU, EU
ADORMECI. De: Serge Valletti. Direção:
Michel Didym. Com: Christiane Cohendy,
da Companhia Boomerang (França) e
participação da atriz brasileira Denise
Weinberg. Tradução: Angela Leite Lopes.
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, tel. 3234-3000). Quando: hoje
e amanhã, às 21h. Quanto: R$ 20.
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