São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Crítica/"Devoção"

Documentário de modestas ambições investiga sincretismo religioso no Brasil

Divulgação
Cena do documentário 'Devoção', dirigido por Sergio Sanz

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Assim como "Santo Forte" (Eduardo Coutinho) e "Fé" (Ricardo Dias), "Devoção" é um documentário sobre a religiosidade popular brasileira. Seu foco é o sincretismo entre o candomblé e o catolicismo. Se no filme de Coutinho prevalecia uma imersão no imaginário religioso dos indivíduos, e no de Dias, uma exposição das várias crenças vigentes no país, em "Devoção" o objetivo predominante parece ser didático. Trata-se de explicar como se deram as influências recíprocas entre o candomblé e o que Darcy Ribeiro chamava de "nosso catolicismo santeiro e macumbeiro". Pais-de-santo, frades, historiadores e sociólogos falam sobre essa rica história, seja do ponto de vista do terreiro, do púlpito ou da academia . O que há de mais interessante no documentário de Sergio Sanz, além dos rituais, filmados com respeito e sensibilidade, é o registro dos movimentos mais recentes, como o da chamada "de-sincretização", ou a tentativa de restauração de uma "pureza" original do candomblé, livre de contaminações cristãs. O mais curioso é que uma das personagens que defendem ardentemente essa volta às origens africanas é uma senhora francesa que, depois de viver na África e no Brasil com seu marido diplomata, virou ialorixá. Em contraste a ela, um babalaô negro do subúrbio do Rio não se constrange em realizar festas católicas no seu terreiro de candomblé. Esse paradoxo vivo, tão comum na história brasileira, ilustra no filme a discussão sobre os pontos de contato entre as duas religiões e as mudanças nas relações entre ambas ao longo da história. Outro tema é o paralelo entre os santos e os orixás. A relação santo Antonio-Ogum, por exemplo, é discutida por padres, mães-de-santo e fiéis das duas crenças. Tudo somado, "Devoção" é um documentário de formato clássico, de modestas ambições formais, mas que vale por uma aula ilustrada.

Avaliação: bom



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