São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Sister e Palatnik dialogam em mostra

Em individuais em São Paulo, pintor da geração 80 e maior nome da arte cinética criam vaivém instável e colorido

Sérgio Sister monta obras a partir de várias telas e tiras de alumínio; Palatnik faz quadros com tiras finíssimas de cor que serrou a laser


Divulgação
Uma das dez obras sem título de Sérgio Sister, que usa a cor prata e aproveita o intervalo entre as telas em diálogo com o espaço

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

São dois movimentos opostos que ocupam a galeria Nara Roesler a partir de hoje. No térreo, as obras de Sérgio Sister, telas e tiras soltas de alumínio, como arquipélagos de forma colados às paredes brancas, viram composições únicas. Escada acima, Abraham Palatnik, maior nome da arte cinética no Brasil, dá uma ilusão de movimento com a justaposição de tiras de cor serradas a laser.
Enquanto Sister busca esfacelar o plano bidimensional em pinturas que são quase escultura -várias telas e tiras arranjadas lado a lado-, Palatnik concentra todas as suas cores no mesmo espaço diminuto do quadro, criando padrões-surpresa e efeitos luminosos. A galeria nos Jardins parece pulsar, na contração e expansão de um conjunto de obras arquitetado sobre esse vaivém.
"A tela escorre para os lados, fica nos limites e meio que se recolhe", descreve Sister. "Minha intenção é fazer com que a pintura atue pelas bordas."
O artista fala de uma obra da série "Pontaletes", que mostrou pela primeira vez no Instituto Tomie Ohtake e agora ganha um desdobramento nesta nova individual. São hastes de alumínio cobertas de telas pintadas de cores diferentes. É como se o quadro fugisse do plano e se tornasse a própria moldura, uma inversão irônica do objeto retratado para concentrar a atenção nas margens.
Da mesma forma, o desenho das outras composições se dá pelos intervalos. Em vez de manchas de cor aplicadas sobre a tela, Sister pendura lado a lado telas diferentes, com a mesma paleta esbranquiçada de cores -o artista sempre negou fortes contrastes para ser o que chama de "pintor tonal". "É uma tentativa minha de fazer o quadro evaporar da parede."

Instabilidade prateada
Nessa sublimação, prevalecem cores primárias, tons alaranjados e prateados, cor esta que ajuda na dispersão do olhar. "É uma cor que reflete a luz de fora", diz Sister. "É disso que eu gosto, da instabilidade que dá movimento, que cria uma tensão com o espectador."
No andar de cima, a tensão de Palatnik é mais explícita. Abandonando as invenções mecânicas e luminosas que o tornaram conhecido, ele faz aqui uma pintura de movimento condensado, vibração contida.
Alternando tons quentes e frios, o artista fez, para cada composição, dois quadros distintos. Depois mandou cortar as chapas a laser, em tiras finíssimas que pregou lado a lado, sem deixar qualquer respiro. O resultado é de uma leveza estranha, que distorce a luz que incide sobre a tela e dá a ilusão de velocidade e movimento, embora não passe de pigmento maciço, tinta sobre madeira.
"É um movimento virtual, não é arte cinética", explica Palatnik. "Apesar da arte cinética, eu continuo sendo um pintor, seguindo rigorosamente uma intenção, só que, ao manipular essas tiras, o quadro vai mudando, acontecem surpresas."


SÉRGIO SISTER e ABRAHAM PALATNIK
Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 11/10
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344; livre)
Quanto: entrada franca




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