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TEATRO
Morto há 304 anos, herói do Quilombo dos Palmares (AL) é homenageado na peça da Cia. Teatro X
Musical traz face humanista de Zumbi
Divulgação
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Ney Mesquita e atores da Cia. Teatro X em cena do espetáculo "Zumbi", que aborda a cultura afro |
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
A Companhia Teatro X aproveita a semana em que são lembrados os 304 anos da morte de
Zumbi dos Palmares (1655-1695)
e estréia, hoje, o musical batizado
com o nome do herói negro.
"Zumbi" faz uma alegoria da
África como "mãe" de todo o processo histórico. "É ela quem dá à
luz tanto ao herói como a Domingos Jorge Velho, responsável pela
sua morte", explica o diretor Paulo Fabiano, 39, referindo-se ao
mestre-de-campo algoz.
A mitologia africana também
serviu de ponto de partida. Todo
o elenco do grupo, formado por
12 atores, acompanhou palestras
com antropólogos e pais-de-santo. Estudaram desde a origem do
samba até as religiões afro-brasileiras, como o candomblé.
"Foi oportuno para a gente se situar em relação ao papel de Zumbi. Além de herói, ele virou bandeira do movimento contra o preconceito racial e pela consciência
negra em todo o Brasil", diz o diretor.
"O Quilombo dos Palmares
transformou-se em um sonho de
uma sociedade que respeita e cultua seus valores, aceita a diversidade e cresce com ela."
A montagem preserva menos o
herói e mais a figura do ser humano. "O personagem passa por
conflitos humanos também, apesar da sua trajetória de guerrilheiro. Buscamos esse traço para
aproximá-lo do cotidiano das
pessoas", afirma Fabiano.
O papel é interpretado pelo ator
e cantor Ney Mesquita, que recentemente lançou seu primeiro CD
solo, interpretando, entre outros,
Dorival Caymmi.
"Zumbi" mergulha nas raízes
da cultura negra. Sobretudo a
música. "Historicamente, o negro
não conseguiu se inserir nas economias de mercado. Nos ciclos da
cana-de-açúcar e da industrialização, por exemplo, ele sempre ficou à margem. Somente na cultura, e sobretudo na música, ele pôde afirmar a sua identidade."
Folclore
Ritmos africanos, folclore brasileiro e música incidental também
fazem parte do repertório executado pelo percussionista Douglas
Germano.
A direção musical é de João
Baptista, autor da trilha sonora
premiada do espetáculo "Entre o
Céu e o Mar", do grupo Ventoforte.
Além da direção, Paulo Fabiano
participa na percussão e assina a
cenografia.
Ele utiliza elementos móveis
que, deslocados no espaço, criam
focos e imagens que referendam a
ação do personagem.
Os figurinos e adereços de Ofélia Lott e Silvana Gorab remetem
ao universo simbólico da cultura
afro-brasileira, no qual as cores,
os tecidos rústicos e materiais orgânicos (palha, fibra de coqueiro,
búzios, conchas, bambu etc.)
acentuam a proposta.
Na sessão do próximo sábado,
dia 20, data da morte de Zumbi,
haverá uma roda de samba ao final com músicos e artistas convidados.
Peça: Zumbi
Texto e direção: Paulo Fabiano
Com: Companhia Teatro X (Aidê do
Amaral, Guilherme de Freitas, Liz
Mantovani, Mauro Persil, Uilson França,
Anderson Silva, Janaína Azevedo,
Marinho Villa Nova)
Quando: estréia hoje, 21h; qua. e qui.,
21h
Onde: Estúdio Teatro X (r. Barão de
Tatuí, 258, Bela Vista, tel. 3661-1318)
Quanto: R$ 10
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