São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
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TEATRO

Morto há 304 anos, herói do Quilombo dos Palmares (AL) é homenageado na peça da Cia. Teatro X

Musical traz face humanista de Zumbi

Divulgação
Ney Mesquita e atores da Cia. Teatro X em cena do espetáculo "Zumbi", que aborda a cultura afro


VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha



A Companhia Teatro X aproveita a semana em que são lembrados os 304 anos da morte de Zumbi dos Palmares (1655-1695) e estréia, hoje, o musical batizado com o nome do herói negro.
"Zumbi" faz uma alegoria da África como "mãe" de todo o processo histórico. "É ela quem dá à luz tanto ao herói como a Domingos Jorge Velho, responsável pela sua morte", explica o diretor Paulo Fabiano, 39, referindo-se ao mestre-de-campo algoz.
A mitologia africana também serviu de ponto de partida. Todo o elenco do grupo, formado por 12 atores, acompanhou palestras com antropólogos e pais-de-santo. Estudaram desde a origem do samba até as religiões afro-brasileiras, como o candomblé.
"Foi oportuno para a gente se situar em relação ao papel de Zumbi. Além de herói, ele virou bandeira do movimento contra o preconceito racial e pela consciência negra em todo o Brasil", diz o diretor.
"O Quilombo dos Palmares transformou-se em um sonho de uma sociedade que respeita e cultua seus valores, aceita a diversidade e cresce com ela."
A montagem preserva menos o herói e mais a figura do ser humano. "O personagem passa por conflitos humanos também, apesar da sua trajetória de guerrilheiro. Buscamos esse traço para aproximá-lo do cotidiano das pessoas", afirma Fabiano.
O papel é interpretado pelo ator e cantor Ney Mesquita, que recentemente lançou seu primeiro CD solo, interpretando, entre outros, Dorival Caymmi.
"Zumbi" mergulha nas raízes da cultura negra. Sobretudo a música. "Historicamente, o negro não conseguiu se inserir nas economias de mercado. Nos ciclos da cana-de-açúcar e da industrialização, por exemplo, ele sempre ficou à margem. Somente na cultura, e sobretudo na música, ele pôde afirmar a sua identidade."

Folclore
Ritmos africanos, folclore brasileiro e música incidental também fazem parte do repertório executado pelo percussionista Douglas Germano.
A direção musical é de João Baptista, autor da trilha sonora premiada do espetáculo "Entre o Céu e o Mar", do grupo Ventoforte.
Além da direção, Paulo Fabiano participa na percussão e assina a cenografia.
Ele utiliza elementos móveis que, deslocados no espaço, criam focos e imagens que referendam a ação do personagem.
Os figurinos e adereços de Ofélia Lott e Silvana Gorab remetem ao universo simbólico da cultura afro-brasileira, no qual as cores, os tecidos rústicos e materiais orgânicos (palha, fibra de coqueiro, búzios, conchas, bambu etc.) acentuam a proposta.
Na sessão do próximo sábado, dia 20, data da morte de Zumbi, haverá uma roda de samba ao final com músicos e artistas convidados.


Peça: Zumbi
Texto e direção: Paulo Fabiano
Com: Companhia Teatro X (Aidê do Amaral, Guilherme de Freitas, Liz Mantovani, Mauro Persil, Uilson França, Anderson Silva, Janaína Azevedo, Marinho Villa Nova)
Quando: estréia hoje, 21h; qua. e qui., 21h
Onde: Estúdio Teatro X (r. Barão de Tatuí, 258, Bela Vista, tel. 3661-1318)
Quanto: R$ 10





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