São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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ARTES CÊNICAS

Estudo sobre história do espaço e do grupo paulistano surge em vídeo, fotos e instalações no Tomie Ohtake

Mostra revisa 50 anos do Teatro de Arena

Arquivo Cecília Thompson
O Teatro de Arena na estréia de "Eles Não Usam Black-Tie", em 1958


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sobre um tapete circular no chão do Teatro de Arena surgem atores em camisas azuis e vermelhas e calças brancas. Eles se revezam nos papéis de "Arena conta Zumbi" (1965). Um deles assume a voz do narrador, o coringa que, nas entrecenas, situa o público sentado na platéia circular quanto à resistência dos quilombolas de Palmares (AL), submetidos à colônia portuguesa no século 17.
Isso é traduzido em raras imagens coloridas de um passado predominantemente em preto-e-branco da histórica montagem de Augusto Boal para a peça escrita em parceria com Gianfrancesco Guarnieri. Cerca de 40 fotos dos acervos da Sociedade Cultural Flávio Império (arquiteto e cenógrafo que também passou pelo grupo e Teatro de Arena) e do Arquivo Multimeios/ Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo estão incorporadas à exposição "Arena conta Arena 50 Anos", que abre hoje no Instituto Tomie Ohtake.
"Não é um vernissage, mas uma estréia", diz a coordenadora-geral da mostra, a atriz Isabel Teixeira, 32, integrante da Cia. Livre. A história do Arena é o espetáculo.
Acostumado a abrigar exposições de artes plásticas, fotografia e design, o instituto dedica hall e três salas às artes cênicas mediadas por suportes em vídeo, fotos, instalações e áudios, inclusive trechos de montagens originais.
Vêm à luz a tradução cênica e audiovisual do projeto de reconstituição da memória do coletivo que fixou sua sede à rua Teodoro Baima, 94, quase esquina com avenida Ipiranga, no centro, endereço que desde 1977 foi rebatizado Teatro de Arena Eugênio Kusnet, homenagem ao ator e teatrólogo russo radicado em SP e morto em 1975.
Ali foi demarcada importante fase do teatro brasileiro, entre os anos 50 e 70, sobretudo na valorização de uma dramaturgia voltada para os temas históricos, políticos e sociais do país. Foi no Arena que estreou "Eles Não Usam Black-Tie" (58), de Guarnieri, peça emblemática da incursão pelo universo da classe operária.
A Cia. Livre ocupou o Arena durante 2004, teatro que é administrado pela Funarte, órgão do Ministério da Cultura. O grupo abriu dois flancos: 1) criação de um espetáculo, "Arena conta Danton", encenado por Cibele Forjaz e contemplado pela Lei de Fomento; e 2) prospecção das peças e da gente que passou pelo Arena desde sua inauguração, em 1955, projeto patrocinado pela Petrobras.
O estudo público se deu por meio de depoimentos, leituras e entrevistas, tudo registrado em áudio e vídeo. Esse trabalho de um ano e meio está condensado num CD-ROM que será distribuído a escolas e faculdades de artes cênicas do país. Há um quem-é-quem com 236 nomes que fizeram a história do local.
Entre eles, Paulo José, Lima Duarte, Myrian Muniz, Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Lélia Abramo, Sadi Cabral, Célia Helena, Ítalo Rossi, Dina Sfat, Juca de Oliveira e Raul Cortez. Na pesquisa de campo, a Cia. Livre conseguiu localizar ainda pessoas-chave como o comerciante aposentado Roger Levy, um dos fiadores para o empréstimo bancário que ajudou o grupo a transformar uma antiga garagem num teatro.

Arena conta Arena 50 Anos
Onde:
Instituto Tomie Ohtake (r. Coropés, 88, Pinheiros, tel. 2245-1900)
Quando: hoje, às 20h, para convidados, e a partir de amanhã para o público; ter. a dom., das 11h às 20h. Até 29/1
Quanto: entrada franca


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