São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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Fabio Faria apresenta o vazio

free-lance para a Folha

"Sem Título (Interior # 56)" e "Sem Título (Interior # 65)" traduzem, como poucas imagens produzidas pela cultura contemporânea, o abandono e o desolamento de uma geração, digamos, pós-moderna. A mão por trás das pinturas é de um artista de apenas 25 anos, chamado -guarde esse nome- Fabio Faria.
As referências, esse paulistano de fala cadenciada, olhar perdido e encantadora circunspecção desvenda aos poucos: os cineastas David Lynch e David Cronenberg, a fotógrafa Nan Goldin, o pintor Edward Hopper.
De Hopper, além do interesse pelo ambiente angustiante e sombrio, ele herda a "falsificação pictórica": embaraça a percepção ao compor um ponto de vista que confunde janela com espelho com cortina com faixas de luz com porta com quadro pendurado na parede pintada.
Mas ele está mais para pós-hopperiano, porque parte do ponto em que o artista americano, na última fase de sua carreira, já se desiludia completamente com a civilização. Nas pinturas de Faria, as pessoas desapareceram.
"Eu estou falando do vazio. Escolhi interiores porque neles posso colocar qualquer coisa, tenho inclusive a liberdade de pintar um exterior, na forma de uma pintura que está na parede", afirma.
As obras de Fabio Faria podem ser metáfora de vazio interior, da incomunicabilidade do mundo atual. Ou um exercício formal de reinventar as pinturas fotográficas deixando de lado o hiper-realismo para desfocar as imagens.
Talvez ambos. Mas não convém taxar o trabalho de um artista que está realizando sua primeira exposição individual. Se bem que o fato dessa mostra acontecer em uma das mais conceituadas galerias de São Paulo, a Thomas Cohn, já denota a maturidade e densidade de sua obra.
Faria reclama de ser sempre visto como "artista jovem". A série "Interior" avança até o número 69. Além disso, evita o rótulo de pintor. "Eu não quero que pensem que eu sou um pintor. Eu sou um cara que pinta, mas podia usar outro suporte para expressar-me. Gosto de pensar que amanhã, se quiser, posso fazer isso, tenho essa liberdade." (JMo)


Exposição: Fabio Faria Onde: galeria Thomas Cohn (av. Europa, 641, tel. 0/xx/11/883-3355) Quando: seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 14h. Até 8/4 Quanto: entrada franca Preço das obras: de R$ 2.500 a R$ 6.500 (óleo sobre tela, de 100 cm x 200 cm à 133 cm x 237 cm)



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