São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Ciclo de shows começa hoje com Fernando Sardo e terá ainda Tim Rescala, Willy Verdaguer e exposição gratuita

Vanguarda musical dispensa definições em série no Sesc

DA REDAÇÃO

"Música contemporânea de vanguarda" talvez não funcione como um rótulo preciso -como seriam rock, pop, jazz, ou clássico, por exemplo- para explicar ao leitor o que será ouvido no teatro do Sesc Ipiranga, de hoje a sábado, na série "Encontros Contemporâneos". Na busca por uma definição sobre música que não se fecha a influências, podem surgir erros graves, médios e agudos.
No caso de Willy Verdaguer, compositor, arranjador e baixista argentino -conhecido na MPB pela sua participação na banda Secos & Molhados-, as composições de "E o Vento Trouxe..." podem vir do erudito, do jazz, do rock e da música latina.
"É duro explicar a música que se faz, porque muitas vezes você corre o risco de não ser entendido ou de não se fazer entender", afirma Verdaguer, 58. "Acho que do meu concerto pode-se esperar um peso relativo de rock, só que com orquestra sinfônica." Ele se apresenta com 22 músicos.
E por enquanto seria apenas arte musical. No caso dos outros músicos envolvidos na série, Tim Rescala e Fernando Sardo, será impossível tentar explicar como são suas obras sem falar de teatro (nas performances do primeiro) e artes plásticas (nas do segundo).
"No caso dos meus concertos, sempre proponho programas muito variados", afirma Tim Rescala, 42, que mostra "Música com e sem Palavras". "Como trabalho com teatro musical e humor, meu discurso musical se torna leve, sem jamais ser banal", diz Rescala, que classifica suas composições como música de concerto sem ranço formal.
O compositor vê no seu trabalho um desafio não só para o público, mas também em relação aos músicos que o interpretam.
"Às vezes é difícil, porque o músico tem aquela postura mais introspectiva, e demora até ele se soltar", afirma Rescala. No concerto, além de interpretar a música, haverá momentos em que o instrumentista terá que representar um personagem ou mesmo falar enquanto toca. Um exemplo é "Noturno Depois do Vinho", em que a pianista "alcoolizada" tenta sem sucesso interpretar um noturno de Chopin.
Se a programação é incomum, Willy Verdaguer trata de tranqüilizar o espectador em potencial. "O público pode vir com curiosidade e a certeza de que verá espetáculos de qualidade que encherão os olhos e os ouvidos", afirma o músico, que vê na série do Sesc um momento raro de sua carreira. "É único. E fico sempre na expectativa de poder escrever para mais músicos", conclui.
"Encontros Contemporâneos" começa hoje com o show do luthier, pesquisador e compositor Fernando Sardo, que constrói instrumentos a partir de materiais como bambu, pedra, borracha e papel, entre outros. Ele se apresentará com quatro músicos.
Fora o show no sábado, Verdaguer ministrará amanhã um workshop aberto a pessoas com mínimo conhecimento de solfejo rítmico, sobre técnicas de sobreposição de temas em compassos diferenciados. E com entrada franca, há a exposição "O Som da Matéria", com os instrumentos confeccionados por Sardo, que realizará performances com eles ao longo do sábado.
(MÁRVIO DOS ANJOS)


Próximo Texto: Teatro: Montagem dilui Molière em leitura superficial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.