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"INTIMIDADE INDECENTE"
Boa atuação naturalista da dupla de protagonistas não afasta espetáculo da falta de ousadia
Montagem tem o despudor de velhos clichês
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Intimidade Indecente" é
tão perfeitamente adequado
a seu público que à crítica talvez
coubesse apenas registrar o fato e
felicitar a todos. A platéia, que
com raras exceções é de meia-idade e alto poder aquisitivo, vibra a
cada momento, aplaude piadas, ri
e chora nas horas certas, chega
muitas vezes a completar frases
em voz alta. Lota sessões duplas:
sem dúvida estamos diante de um
grande sucesso de público.
O que falta para que a montagem conquiste o menos prestigioso sucesso de crítica é que corra o
risco que pretende correr: revelar
sem concessões a sexualidade da
terceira idade. Leilah Assumpção
faz parte da geração que foi jovem
em 68 e se orgulha de manter aceso o facho da insolência. Deve fazer jus então à rebeldia propalada.
Na peça, acompanhamos um
casal que se separa aos 50 anos,
até que chegue aos 80. A direção
de Regina Galdino é despojada e
eficiente, e Marcos Caruso e Irene
Ravache dominam a interpretação naturalista com desenvoltura,
o que os habilitaria a vôos mais altos, mas não com este texto.
O despudor prometido, infelizmente, não chega aqui nunca à
exposição cruel de fraquezas conjugais, como no "Quem Tem Medo de Virginia Woolf" de Albee. A
discussão, acompanhada de início por trás de cortinas como uma
briga de vizinhos, ousa apenas
nos palavrões e tem o despudor
apenas de explorar velhos clichês.
O marido abandona a mulher
para viver com a amiga da filha,
de 17 anos, que logo o trocará por
seu professor de tênis. A mulher,
que prevenira o marido sobre a
fantasia de transar com a própria
filha, tem por sua vez uma relação
homossexual com sua analista,
que descreve em detalhes.
A mulher evolui: graças à tal
análise, torna-se capaz de pronunciar o nome proibido de seu
próprio sexo e descrevê-lo com
orgulho à platéia. O marido, nem
tanto: refere-se ao seu como "pingolim" ao descrever sessões de
masturbação junto à enfermeira.
No fim, declara-se apenas o arrependimento por não ter calado
o adultério, para viver a verdadeira felicidade a dois. A revolução
sexual, quem diria, chega ao teatro de boulevard. Cala-se o medo
da velhice, e o público, aliviado,
aplaude muito. Felicitações.
Intimidade Indecente
Texto: Leilah Assumpção
Direção: Regina Galdino
Com: Irene Ravache e Marcos Caruso
Onde: teatro Renaissance (al. Santos,
2.233, Cerqueira César, região oeste, tel.
3069-2233)
Quando: sex., às 20h30, sáb., às 20h e
22h, e dom., às 17h e 19h; até 30/9
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