São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2001

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"INTIMIDADE INDECENTE"

Boa atuação naturalista da dupla de protagonistas não afasta espetáculo da falta de ousadia

Montagem tem o despudor de velhos clichês

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Intimidade Indecente" é tão perfeitamente adequado a seu público que à crítica talvez coubesse apenas registrar o fato e felicitar a todos. A platéia, que com raras exceções é de meia-idade e alto poder aquisitivo, vibra a cada momento, aplaude piadas, ri e chora nas horas certas, chega muitas vezes a completar frases em voz alta. Lota sessões duplas: sem dúvida estamos diante de um grande sucesso de público.
O que falta para que a montagem conquiste o menos prestigioso sucesso de crítica é que corra o risco que pretende correr: revelar sem concessões a sexualidade da terceira idade. Leilah Assumpção faz parte da geração que foi jovem em 68 e se orgulha de manter aceso o facho da insolência. Deve fazer jus então à rebeldia propalada.
Na peça, acompanhamos um casal que se separa aos 50 anos, até que chegue aos 80. A direção de Regina Galdino é despojada e eficiente, e Marcos Caruso e Irene Ravache dominam a interpretação naturalista com desenvoltura, o que os habilitaria a vôos mais altos, mas não com este texto.
O despudor prometido, infelizmente, não chega aqui nunca à exposição cruel de fraquezas conjugais, como no "Quem Tem Medo de Virginia Woolf" de Albee. A discussão, acompanhada de início por trás de cortinas como uma briga de vizinhos, ousa apenas nos palavrões e tem o despudor apenas de explorar velhos clichês.
O marido abandona a mulher para viver com a amiga da filha, de 17 anos, que logo o trocará por seu professor de tênis. A mulher, que prevenira o marido sobre a fantasia de transar com a própria filha, tem por sua vez uma relação homossexual com sua analista, que descreve em detalhes.
A mulher evolui: graças à tal análise, torna-se capaz de pronunciar o nome proibido de seu próprio sexo e descrevê-lo com orgulho à platéia. O marido, nem tanto: refere-se ao seu como "pingolim" ao descrever sessões de masturbação junto à enfermeira.
No fim, declara-se apenas o arrependimento por não ter calado o adultério, para viver a verdadeira felicidade a dois. A revolução sexual, quem diria, chega ao teatro de boulevard. Cala-se o medo da velhice, e o público, aliviado, aplaude muito. Felicitações.


Intimidade Indecente   
Texto: Leilah Assumpção
Direção: Regina Galdino
Com: Irene Ravache e Marcos Caruso
Onde: teatro Renaissance (al. Santos, 2.233, Cerqueira César, região oeste, tel. 3069-2233)
Quando: sex., às 20h30, sáb., às 20h e 22h, e dom., às 17h e 19h; até 30/9



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