São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2005

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Montagem lê "Orlando", de Virginia Woolf, sob ótica mágica e religiosa

DA REPORTAGEM LOCAL

História do amante das artes que persegue o binômio "vida e amor", um nobre rapaz, ao longo de quatro séculos, é transformado em mulher.
Se a breve sinopse suscita camadas de interpretação aos olhos de quem a lê, o que dirá o romance integral, "Orlando", que a inglesa Virginia Woolf lançou em 1928.
O teatro revisita a obra em "Do que Orlando Me Disse", solo de Paula Picarelli que estréia amanhã no teatro Fábrica São Paulo, com direção de Georgette Fadel.
A encenadora Bia Lessa mostrou sua versão em 1989, com Fernanda Torres no papel-título e, depois, Betty Gofman, como na remontagem de 2004, no Rio.
Picarelli passou três anos no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos ("Bartolomeu, que Será que Nele Deu?", 2000).
Em 2003, foi à TV pela primeira vez na novela da Globo "Mulheres Apaixonadas", na pele de uma personagem lésbica. Mesmo ano em que leu "Orlando" e decidiu levá-lo ao palco, projeto que agora vinga.
"É difícil falar sobre a peça. Tenho a sensação de que vou quebrar alguma coisa", diz Paula Picarelli, 27. Demonstra o quanto foi mobilizada por Woolf, escritora que se suicidou em 1941.

Adaptação livre
"A Paula tem um interesse xamanístico por "Orlando", a questão espiritual da ancestralidade, da androginia também", diz Georgette Fadel, 31, ligada à cia. São Jorge de Variedades (elas contracenaram em "Bartolomeu").
Sob a perspectiva mágico-religiosa, Picarelli dialoga de tal forma com a criação que ela e Fadel assumiram a livre adaptação do romance, abrindo um veio mais pessoal, a ponto de a intérprete incluir excertos de textos de sua lavra. Aliás, a intimidade com o vasto mundo da literatura aumentou nas últimas semanas: a atriz apresenta o programa de televisão "Entrelinhas", exibido pela Cultura.
"Comecei a levantar coisas da família, com a minha avó, e descobri passagens impressionantemente parecidas com as do livro. Eu me considero uma Orlando", diz Picarelli.
Segundo a atriz, nessa espécie de biografia ficcional de Woolf o personagem rompe com tempo, espaço e sexo sem que em algum momento, do século 16 ao 20, perca a consciência de sua história; sua identidade, em suma.
Se Orlando sublima sua paixão pela arte por meio dos livros, Picarelli, do lado de cá do século 21, também se sente como uma integrante da "nobreza" daqueles que firmam o teatro como ofício, uma igual busca infinita pela verdade artística.
Para espelhar o fluxo de consciência e dos acontecimentos de um trabalho pontuado por poesia, fantasia e transgressão, a montagem faz uso de projeções em vídeo (por Professor Pumma) e música ao vivo (pelo pianista Will Motta).
A direção musical é de Manuel Pessoa de Lima. Também fazem parte da equipe o figurinista Marcos Nasci e a cenógrafa Simone Ribeiro Ferreira. (VS)


Do que Orlando Me Disse
Direção:
Georgette Fadel
Com: Paula Picarelli
Onde: teatro Fábrica São Paulo (r. da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922)
Quando: estréia amanhã, às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 20h30
Quanto: R$ 20


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