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Montagem lê "Orlando", de Virginia Woolf, sob ótica mágica e religiosa
DA REPORTAGEM LOCAL
História do amante das artes
que persegue o binômio "vida e
amor", um nobre rapaz, ao longo
de quatro séculos, é transformado
em mulher.
Se a breve sinopse suscita camadas de interpretação aos olhos de
quem a lê, o que dirá o romance
integral, "Orlando", que a inglesa
Virginia Woolf lançou em 1928.
O teatro revisita a obra em "Do
que Orlando Me Disse", solo de
Paula Picarelli que estréia amanhã
no teatro Fábrica São Paulo, com
direção de Georgette Fadel.
A encenadora Bia Lessa mostrou sua versão em 1989, com Fernanda Torres no papel-título e,
depois, Betty Gofman, como na
remontagem de 2004, no Rio.
Picarelli passou três anos no
Núcleo Bartolomeu de Depoimentos ("Bartolomeu, que Será
que Nele Deu?", 2000).
Em 2003, foi à TV pela primeira
vez na novela da Globo "Mulheres
Apaixonadas", na pele de uma
personagem lésbica. Mesmo ano
em que leu "Orlando" e decidiu
levá-lo ao palco, projeto que agora vinga.
"É difícil falar sobre a peça. Tenho a sensação de que vou quebrar alguma coisa", diz Paula Picarelli, 27. Demonstra o quanto
foi mobilizada por Woolf, escritora que se suicidou em 1941.
Adaptação livre
"A Paula tem um interesse xamanístico por "Orlando", a questão espiritual da ancestralidade,
da androginia também", diz
Georgette Fadel, 31, ligada à cia.
São Jorge de Variedades (elas
contracenaram em "Bartolomeu").
Sob a perspectiva mágico-religiosa, Picarelli dialoga de tal forma com a criação que ela e Fadel
assumiram a livre adaptação do
romance, abrindo um veio mais
pessoal, a ponto de a intérprete
incluir excertos de textos de sua
lavra. Aliás, a intimidade com o
vasto mundo da literatura aumentou nas últimas semanas: a
atriz apresenta o programa de televisão "Entrelinhas", exibido pela Cultura.
"Comecei a levantar coisas da
família, com a minha avó, e descobri passagens impressionantemente parecidas com as do livro.
Eu me considero uma Orlando",
diz Picarelli.
Segundo a atriz, nessa espécie
de biografia ficcional de Woolf o
personagem rompe com tempo,
espaço e sexo sem que em algum
momento, do século 16 ao 20, perca a consciência de sua história;
sua identidade, em suma.
Se Orlando sublima sua paixão
pela arte por meio dos livros, Picarelli, do lado de cá do século 21,
também se sente como uma integrante da "nobreza" daqueles que
firmam o teatro como ofício, uma
igual busca infinita pela verdade
artística.
Para espelhar o fluxo de consciência e dos acontecimentos de
um trabalho pontuado por poesia, fantasia e transgressão, a
montagem faz uso de projeções
em vídeo (por Professor Pumma)
e música ao vivo (pelo pianista
Will Motta).
A direção musical é de Manuel
Pessoa de Lima. Também fazem
parte da equipe o figurinista Marcos Nasci e a cenógrafa Simone
Ribeiro Ferreira.
(VS)
Do que Orlando Me Disse
Direção: Georgette Fadel
Com: Paula Picarelli
Onde: teatro Fábrica São Paulo (r. da
Consolação, 1.623, tel. 3255-5922)
Quando: estréia amanhã, às 21h30; sex.
e sáb., às 21h30; dom., às 20h30
Quanto: R$ 20
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