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MÚSICA
Etapa paulista do projeto itinerante pretende ampliar a repercussão da cultura regional com shows e exposições
Festival mergulha no pós-mangue de PE
BRUNO YUTAKA SAITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O festival itinerante Pernambuco Mix, cuja etapa paulista começa hoje, traz à tona os sobreviventes da efervescente e utópica cena
mangue beat. Se Recife sobreviveu à morte, em 1997, do principal
representante do movimento,
Chico Science, sua cultura local
extrapola rótulos. Já é hora mais
do que suficiente para contabilizar mortos e feridos.
"É a filosofia do "Se Maomé não
vai à montanha...'; queremos
mostrar aos paulistas tudo o que
já é consagrado em Pernambuco,
não temos um perfil underground, como o Abril pro Rock
(principal festival musical da região)", diz o idealizador do projeto, Rodrigo Moreda, 34.
Hoje, quem se apresenta são as
bandas Mestre Ambrósio, Cordel
do Fogo Encantado, DJ Dolores e
Orquestra Santa Massa, com a
participação de Arnaldo Antunes.
Amanhã, é a vez de Lenine, Mundo Livre S/A, Songo. Nos dois
dias, haverá também apresentações de maracatu rural com um
grupo regional.
O Pernambuco Mix vai englobar também artes plásticas e fotografia, com exposição que começa
hoje, no shopping Villa-Lobos. É
a oportunidade para conhecer as
obras de 20 artistas locais, como
Zé Som e Sandro Maciel, que raramente chegam a São Paulo.
Moreda anuncia Brasília e Rio
de Janeiro como próximas etapas
do festival. Pretende também incluir nomes fundamentais da cena, como Otto, Nação Zumbi e
Alceu Valença, que não puderam
participar devido a agenda.
O festival não traz apenas nomes ligados ao mangue beat, caso
de Lenine. Mas é impossível entender a atual cena pernambucana sem citar o movimento representado por Chico Science. Foi
através dele que, nos anos 90, a indústria pop voltou os olhos para a
região e permitiu que nomes como DJ Dolores ganhassem um
mínimo de visibilidade.
"O mangue beat ajudou a disseminar uma nova maneira de
apreciação musical. Antes, era difícil vermos uma banda de hardcore, uma de rap e uma de música
regional em um mesmo festival",
diz Fred Zero Quatro, líder do
Mundo Livre S/A. "O momento é
oportuno para recolocarmos em
pauta a cena artística pernambucana, uma vez que a produção
brasileira passa por uma crise."
Segundo Zero Quatro, o mangue beat ainda não foi totalmente
assimilado, o que justificaria o
fraco desempenho das bandas da
região em vendas.
O músico cita o grupo Mestre
Ambrósio como exemplo de problema entre a indústria e a música
pernambucana. "Quando eles assinaram com uma grande gravadora, o CD ficou engavetado durante um bom tempo e só saiu em
1998, mesmo com o boom do forró em São Paulo", diz Zero Quatro. "O som de Pernambuco é
quase uma unanimidade de críticas positivas, mas ainda não atingiu o grande público."
Se o sucesso comercial não vingou, a cena se transmuda, ganha
novas variações. Um bom exemplo é o som do DJ Dolores. "Pernambuco mostrou que é possível
fazer um som pop com fortes ligações com a música brasileira.
Aqui, não temos o bairrismo do
paulista. Para nós, maracatu e
Madonna são a mesma coisa. Não
colocamos rótulos como "folclórico'", diz Helder Aragão, 35, o DJ
Dolores. O hype acabou, mas a
utopia vive -retratos de Pernambuco em 2002.
PERNAMBUCO MIX - shows com DJ
Dolores e Orquestra Santa Massa, Cordel
do Fogo Encantado, Maracatu Rural,
Mestre Ambrósio (hoje) e Lenine, Mundo
Livre S/A, Maracatu Rural e Songo
(amanhã). Onde: DirecTV Music Hall (av.
dos Jamaris, 213, Moema, tel. 6846-6000). Quanto: de R$ 40 a R$ 70. Quando:
hoje e amanhã, às 21h30. Patrocinador:
Petrobras.
O IMAGINÁRIO PERNAMBUCANO
-
exposição do festival Pernambuco Mix.
Quando: de hoje a 15/10, das 10h às 22h.
Onde: shopping Villa-Lobos (av. Nações
Unidas, 4.777, Alto de Pinheiros, tel.
3024-4200). Quanto: entrada franca.
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