São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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MÚSICA

Etapa paulista do projeto itinerante pretende ampliar a repercussão da cultura regional com shows e exposições

Festival mergulha no pós-mangue de PE

BRUNO YUTAKA SAITO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O festival itinerante Pernambuco Mix, cuja etapa paulista começa hoje, traz à tona os sobreviventes da efervescente e utópica cena mangue beat. Se Recife sobreviveu à morte, em 1997, do principal representante do movimento, Chico Science, sua cultura local extrapola rótulos. Já é hora mais do que suficiente para contabilizar mortos e feridos.
"É a filosofia do "Se Maomé não vai à montanha...'; queremos mostrar aos paulistas tudo o que já é consagrado em Pernambuco, não temos um perfil underground, como o Abril pro Rock (principal festival musical da região)", diz o idealizador do projeto, Rodrigo Moreda, 34.
Hoje, quem se apresenta são as bandas Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado, DJ Dolores e Orquestra Santa Massa, com a participação de Arnaldo Antunes. Amanhã, é a vez de Lenine, Mundo Livre S/A, Songo. Nos dois dias, haverá também apresentações de maracatu rural com um grupo regional.
O Pernambuco Mix vai englobar também artes plásticas e fotografia, com exposição que começa hoje, no shopping Villa-Lobos. É a oportunidade para conhecer as obras de 20 artistas locais, como Zé Som e Sandro Maciel, que raramente chegam a São Paulo.
Moreda anuncia Brasília e Rio de Janeiro como próximas etapas do festival. Pretende também incluir nomes fundamentais da cena, como Otto, Nação Zumbi e Alceu Valença, que não puderam participar devido a agenda.
O festival não traz apenas nomes ligados ao mangue beat, caso de Lenine. Mas é impossível entender a atual cena pernambucana sem citar o movimento representado por Chico Science. Foi através dele que, nos anos 90, a indústria pop voltou os olhos para a região e permitiu que nomes como DJ Dolores ganhassem um mínimo de visibilidade.
"O mangue beat ajudou a disseminar uma nova maneira de apreciação musical. Antes, era difícil vermos uma banda de hardcore, uma de rap e uma de música regional em um mesmo festival", diz Fred Zero Quatro, líder do Mundo Livre S/A. "O momento é oportuno para recolocarmos em pauta a cena artística pernambucana, uma vez que a produção brasileira passa por uma crise."
Segundo Zero Quatro, o mangue beat ainda não foi totalmente assimilado, o que justificaria o fraco desempenho das bandas da região em vendas.
O músico cita o grupo Mestre Ambrósio como exemplo de problema entre a indústria e a música pernambucana. "Quando eles assinaram com uma grande gravadora, o CD ficou engavetado durante um bom tempo e só saiu em 1998, mesmo com o boom do forró em São Paulo", diz Zero Quatro. "O som de Pernambuco é quase uma unanimidade de críticas positivas, mas ainda não atingiu o grande público."
Se o sucesso comercial não vingou, a cena se transmuda, ganha novas variações. Um bom exemplo é o som do DJ Dolores. "Pernambuco mostrou que é possível fazer um som pop com fortes ligações com a música brasileira. Aqui, não temos o bairrismo do paulista. Para nós, maracatu e Madonna são a mesma coisa. Não colocamos rótulos como "folclórico'", diz Helder Aragão, 35, o DJ Dolores. O hype acabou, mas a utopia vive -retratos de Pernambuco em 2002.


PERNAMBUCO MIX - shows com DJ Dolores e Orquestra Santa Massa, Cordel do Fogo Encantado, Maracatu Rural, Mestre Ambrósio (hoje) e Lenine, Mundo Livre S/A, Maracatu Rural e Songo (amanhã). Onde: DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 6846-6000). Quanto: de R$ 40 a R$ 70. Quando: hoje e amanhã, às 21h30. Patrocinador: Petrobras.

O IMAGINÁRIO PERNAMBUCANO -
exposição do festival Pernambuco Mix. Quando: de hoje a 15/10, das 10h às 22h. Onde: shopping Villa-Lobos (av. Nações Unidas, 4.777, Alto de Pinheiros, tel. 3024-4200). Quanto: entrada franca.




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