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CRÍTICA
Arte construtiva é desafiada hoje
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Mary Vieira (1927-2001) foi
estruturalista. Na retrospectiva "O Tempo do Movimento", reúnem-se seus objetos escultóricos, artes gráficas e filmes,
além de documentação de obras
públicas da artista. A dualidade
geométrica predomina pelos quatro andares do Centro Cultural
Banco do Brasil.
O estruturalismo floresceu na
Guerra Fria. A um mundo bipartido seguiu-se um modelo de pensamento que sintetizava a realidade em pares de opostos. A clareza
resultante desse sistema permitiria compreender o presente pelo
destrinchamento de sua estrutura
dialética, sem a necessidade de relativizações historicistas.
Nascida em São Paulo, Mary
Vieira formou-se em Minas, tendo estudado desenho e pintura
com Guignard, entre 1943 e 47, e
escultura com Weissmann e
Amílcar de Castro. Porém, em
1951 emigrou definitivamente para a Suíça, onde foi aluna do construtivista Max Bill.
A polaridade entre opostos é
evidenciada na galeria do segundo andar, núcleo da sintética exposição. Ao centro estão os "Tempos de um Desenho" (1952-53),
série de 16 litografias e um relevo
de metal. Observamos variações
sobre um segmento de grega e outro de espiral.
À direita e à esquerda, enfileram-se obras que seguem uma ou
outra das duas linhas de desenvolvimento geométrico: a reta ou
a curva. Nas extremidades do cômodo, as duas únicas obras interativas em que o visitante pode tocar: o "Polivolume: Côncavo Convexo" (1948-67) e o "Polivolume:
momento Elipsoidal" (1967-70).
Encontramos também outras
peças que convidam ao toque, porém isoladas por motivos museológicos, implicando um limite à
plena fruição da mostra. O "Grupo Rítmico de Colunas: Ascendente Descendente" (1953), por
exemplo, é constituído por cinco
hastes de diferentes espessuras,
presas verticalmente a uma base
circular. A configuração delas faz
com que funcionem como dois
pares de duas notas musicais com
uma oitava de intervalo, mais
uma terceira nota. Quando a base
é percutida e vibra em certas freqüencias, as hastes também entram em estado vibratório. Contudo, a engenhosidade permanece restrita à teoria sem a contraparte interativa.
Numa entrevista mostrada em
vídeo, Mary Vieira explica sua
compreensão da própria obra como uma semente estática, contendo a possibilidade do movimento germinativo. Para torná-las atuais, o público deveria operar sobre as peças, seja de modo a
compreender intelectualmente o
processo de derivação rigorosa
das formas, seja pelo deslocamento das partes móveis.
A retrospectiva desafia a sobrevivência do projeto construtivo.
Estará de fato a arte acima da história, sendo suficiente o encadeamento das formas clássicas para
que se produza a experiência estética pura? Será a eternidade dos
opostos uma solução ainda ao alcance contemporâneo?
Mary Vieira - O tempo do
Movimento
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Álvares Penteado, 112, região central,
tel. 3113-3651)
Quando: ter. a dom., das 10h às 21h; até
27/3
Quanto: entrada franca
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