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Crítica/artes plásticas
Obra de Trockel dá novo significado a objetos do cotidiano doméstico feminino
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A exposição da artista Rosemarie Trockel, no Paço das Artes, é modelo
de política cultural de um país.
Organizada pelo Instituto de
Relações Culturais Internacionais da Alemanha (IFA), a mostra circula pelo mundo desde
2003, com 70 obras adquiridas
pela própria instituição, o que
é, sem dúvida, uma forma de incentivo à produção.
Não são apenas pequenas
obras, mas trabalhos que dão
conta da poética da artista, que
trabalha com variados suportes
e distintas formas de produção.
Nascida em 1952, Rosemarie
Trockel é uma das artistas contemporâneas alemãs mais representativas, que iniciou carreira em meados dos anos 1970.
Ela tem como marca de sua
produção a re-significação do
uso de objetos cotidianos, particularmente do universo doméstico feminino.
Chapas de fogão, lãs para costura, roupas ou ovos são alguns
dos elementos que constituem
as obras da artista. Os trabalhos
não caem num feminismo militante, mas se tornam um aporte crítico ao universo masculino da arte, especialmente o ambiente alemão dos anos 80, dominado por nomes como Gerhard Richter, Sigmar Polker e
Georg Baselitz.
Tão seca e, às vezes, mais rígida que a obra dos colegas masculinos, a obra de Trockel mostra que a arte produzida por
uma mulher pode apontar para
questões femininas sem, no entanto, se transformar num panfleto redutor.
Suas peças escultóricas com
chapas de fogão, que participam da mostra no Paço, produzem um intenso diálogo com o
minimalismo norte-americano
de forma um tanto sarcástica.
Já a peça-chave da exposição,
"Máquina de Pintura", de 1990,
é composta por uma engenhoca
que se parece bastante com um
tear, e aponta, por um lado, para um fazer artesanal vinculado
ao universo feminino, ao mesmo tempo em que busca questionar a autoria de uma obra, já
que estão expostas sete pinturas realizadas pela máquina.
Dessa forma, Trockel ironiza o
próprio fazer artístico por meio
de elementos femininos.
As diversas possibilidades de
criação são, aliás, uma obsessão
visível da artista na exposição.
Há fotografias, pinturas, desenhos, gravuras, esculturas e vídeos (sem um espaço adequado
para serem apreciados, é bom
que se diga), que atestam o alto
grau de experimentação de
Trockel. Esses trabalhos abrangem um amplo período, sendo
os mais antigos desenhos dos
anos 80 e os mais recentes, impressões em plexiglas (um tipo
de acrílico), que parecem tecidos esgarçados, novamente o
uso do universo feminino.
Ao apostar na mostra monográfica de Trockel, o IFA, que já
trouxe também exposições de
Baselitz e Richter, evita o geocentrismo de exposições que
visam tratar de uma arte nacional, ao mesmo tempo em que,
ao abordar a produção de uma
artista, acaba apontando para
questões culturais do país, como afinal foi o feminismo dos
anos 70 e 80 na Alemanha, que
gerou importantes expoentes
em outras áreas, como a coreógrafa Pina Bausch.
ROSEMARIE TROCKEL
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária;
tel. 3814-4832)
Quando: de ter. a sex., das 11h30 às
19h, sáb. e dom., das 12h30 às 17h30;
até 25/2
Quanto: entrada franca
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