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Wagner Tiso refaz encontros com samba e jazz
Em CD, com lançamento no Fecap, pianista fecha trilogia sobre suas influências criando arranjos para clássicos dos dois gêneros
Músico faz de amanhã a domingo os shows "Samba e Jazz - Um Século de Música'; Nicolas Krassik e Paulo Moura estão entre os convidados
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Nascido em Três Pontas
(MG), Wagner Tiso chegou a
Belo Horizonte aos 16 anos e
descobriu o jazz -Ray Charles
era o que ouvira antes de relativamente próximo ao gênero.
Aos 18, mudou-se para o Rio e
conheceu os sambas de Bide e
Marçal, Geraldo Pereira e outros que ignorava -só sabia um
pouco de Ary Barroso, Noel Rosa e Ataulfo Alves.
O CD "Samba e Jazz - Um Século de Música", que o pianista
lança de amanhã a domingo no
teatro Fecap, é o retrato que o
artista quando maduro pinta
hoje dessas duas
importantes fontes
do seu trabalho. E é
o encerramento de
uma trilogia sobre
suas influências,
que já teve "Debussy e Fauré Encontram Milton e
Tiso" (1997) e
"Tom e Villa"
(2000).
Além do ano de
nascimento oficial
-em 1917 foram
lançados aqueles
que se consagrariam como os primeiros discos de
samba e jazz-, os
gêneros têm em comum a origem negra e, como ressalta Tiso, a "harmonia europeia", proveniente da escola romântica.
"O samba, desde o início, com
Pixinguinha, tinha um pouco
da harmonia europeia. E
[John] Coltrane, [Charlie] Parker, Miles [Davis], quando tocam o standard americano,
aquilo é o romântico europeu
tocado à maneira do negro
americano", diz Tiso, 63.
Para ele, não há hierarquia
entre os grandes músicos de
jazz e sambistas autodidatas
como Zé Keti e Nelson Cavaquinho, que são lembrados no
CD em "Opinião" e "Folhas Secas", respectivamente.
"Eu acho Nelson extremamente sofisticado, assim como
Zé Keti e Paulinho [da Viola].
Não é que eles tenham estudado harmonia, mas têm esse
sentimento harmônico."
Marca da trilogia, o quarteto
de cordas se mantém. Mas, agora, em
vez de quatro cellos,
são duas violas e dois
cellos, para diminuir
os graves.
"Sei que não se
usam muitas cordas
no samba e no jazz,
mas eu uso", demarca o músico.
Improvisos
E também há improvisos, elemento
central do jazz, mas
pouco comum no
samba. Wagner Tiso
concebeu os arranjos
sempre deixando algum espaço para a criação dos
solistas.
Em "Opinião", por exemplo,
Hermeto Pascoal toca flauta e
um trompete feito com uma
garrafa PET sem fundo. Nivaldo Ornelas usa sax-soprano em
"Naima", de Coltrane. Paulo
Moura improvisa de clarineta
no par "Inquietação/ É Luxo
Só", de Ary Barroso. Victor Biglione é o guitarrista em "Tune
Up" e "Solar", de Miles Davis. O
violonista Nicolas Krassik toca
em "Volta a Palhoça" (Sinhô) e
"Folhas Secas".
E o também solista Tiso evoca, no início de "April in Paris",
o jeito de tocar de George Shearing, que, como ele, migrou do
acordeom para o piano. E faz
um medley-tributo a Bill
Evans. "Comecei a ouvi-lo em
Belo Horizonte, ainda na adolescência. Eu baseei meu piano
todo ouvindo Bill Evans. Foi o
primeiro que me impressionou", conta.
Parte dos solistas (Ornelas na
sexta; Biglione e Krassik no sábado; Moura no domingo) estará no Fecap.
SAMBA E JAZZ - UM SÉCULO DE
MÚSICA (CD)
Artista: Wagner Tiso
Gravadora: Trem Mineiro
Quanto: R$ 25, em média
SAMBA E JAZZ (SHOWS)
Quando: amanhã e sáb., às 21h; dom.,
às 19h
Onde: teatro Fecap (av. Liberdade, 532,
tel. 3272-2277)
Classificação: não recomendado para
menores de 12 anos
Quanto: R$ 30
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