São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Wagner Tiso refaz encontros com samba e jazz

Em CD, com lançamento no Fecap, pianista fecha trilogia sobre suas influências criando arranjos para clássicos dos dois gêneros

Músico faz de amanhã a domingo os shows "Samba e Jazz - Um Século de Música'; Nicolas Krassik e Paulo Moura estão entre os convidados


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Nascido em Três Pontas (MG), Wagner Tiso chegou a Belo Horizonte aos 16 anos e descobriu o jazz -Ray Charles era o que ouvira antes de relativamente próximo ao gênero. Aos 18, mudou-se para o Rio e conheceu os sambas de Bide e Marçal, Geraldo Pereira e outros que ignorava -só sabia um pouco de Ary Barroso, Noel Rosa e Ataulfo Alves.
O CD "Samba e Jazz - Um Século de Música", que o pianista lança de amanhã a domingo no teatro Fecap, é o retrato que o artista quando maduro pinta hoje dessas duas importantes fontes do seu trabalho. E é o encerramento de uma trilogia sobre suas influências, que já teve "Debussy e Fauré Encontram Milton e Tiso" (1997) e "Tom e Villa" (2000).
Além do ano de nascimento oficial -em 1917 foram lançados aqueles que se consagrariam como os primeiros discos de samba e jazz-, os gêneros têm em comum a origem negra e, como ressalta Tiso, a "harmonia europeia", proveniente da escola romântica. "O samba, desde o início, com Pixinguinha, tinha um pouco da harmonia europeia. E [John] Coltrane, [Charlie] Parker, Miles [Davis], quando tocam o standard americano, aquilo é o romântico europeu tocado à maneira do negro americano", diz Tiso, 63.
Para ele, não há hierarquia entre os grandes músicos de jazz e sambistas autodidatas como Zé Keti e Nelson Cavaquinho, que são lembrados no CD em "Opinião" e "Folhas Secas", respectivamente. "Eu acho Nelson extremamente sofisticado, assim como Zé Keti e Paulinho [da Viola]. Não é que eles tenham estudado harmonia, mas têm esse sentimento harmônico." Marca da trilogia, o quarteto de cordas se mantém. Mas, agora, em vez de quatro cellos, são duas violas e dois cellos, para diminuir os graves.
"Sei que não se usam muitas cordas no samba e no jazz, mas eu uso", demarca o músico.

Improvisos
E também há improvisos, elemento central do jazz, mas pouco comum no samba. Wagner Tiso concebeu os arranjos sempre deixando algum espaço para a criação dos solistas.
Em "Opinião", por exemplo, Hermeto Pascoal toca flauta e um trompete feito com uma garrafa PET sem fundo. Nivaldo Ornelas usa sax-soprano em "Naima", de Coltrane. Paulo Moura improvisa de clarineta no par "Inquietação/ É Luxo Só", de Ary Barroso. Victor Biglione é o guitarrista em "Tune Up" e "Solar", de Miles Davis. O violonista Nicolas Krassik toca em "Volta a Palhoça" (Sinhô) e "Folhas Secas".
E o também solista Tiso evoca, no início de "April in Paris", o jeito de tocar de George Shearing, que, como ele, migrou do acordeom para o piano. E faz um medley-tributo a Bill Evans. "Comecei a ouvi-lo em Belo Horizonte, ainda na adolescência. Eu baseei meu piano todo ouvindo Bill Evans. Foi o primeiro que me impressionou", conta. Parte dos solistas (Ornelas na sexta; Biglione e Krassik no sábado; Moura no domingo) estará no Fecap.


SAMBA E JAZZ - UM SÉCULO DE MÚSICA (CD)

Artista: Wagner Tiso
Gravadora: Trem Mineiro
Quanto: R$ 25, em média

SAMBA E JAZZ (SHOWS)

Quando: amanhã e sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: teatro Fecap (av. Liberdade, 532, tel. 3272-2277)
Classificação: não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: R$ 30



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