São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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David Perlov registra busca do tempo sempre perdido

Cineasta, que tem retrospectiva em SP, optou por construir obra autobiográfica fora do cinema comercial

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para David Perlov, cada dia é um dia. Ao menos desde 1973, quando comprou uma câmera 16mm e largou o cinema profissional. Foi quando este artista israelense nascido e crescido no Brasil (Rio, 1930 - Tel Aviv, 2003) deu início uma formidável viagem através das imagens de seu dia a dia.
Seus "Diários" (1973-1983) aos poucos se mostram como autobiografia e busca do tempo sempre perdido, por vezes reencontrado.
É isso, em grande medida, que se poderá ver na grande retrospectiva que desde ontem acontece na Cinemateca Brasileira, na Casa de Cultura de Israel e no Cinusp.
Os "Diários" e os "Diários Revisitados" (1990-1999) são o essencial dela, mas seus filmes anteriores já trazem a marca dessa vocação.
Perlov explica sua escolha pelo filme doméstico dizendo que o queria fazer era sobre pessoas, e tudo que lhe ofereciam era sobre ideias. (Israel entendia cinema como propaganda).
Daí por diante, é filmando da própria janela que o cineasta encontra no mundo matéria de conhecimento.
Não existe ingenuidade nessa atitude, mas rigor: o cinema é uma máquina de registro objetivo do mundo, mas o que ele grava é resultado de escolha, de observação e invenção.
Nenhum episódio dá conta disso melhor do que o da viagem ao Brasil ("Diário 6").
Em dado momento, em Belo Horizonte, onde passou a infância, o menino judeu se vê confrontado às opiniões de Guiomar, negra e protestante: se entrar na igreja católica, ela diz, morrerá. David (ao mesmo tempo menino e homem maduro, que volta à cidade em 1983), responde: "Entrei e não morri".
No Brasil, em Paris, em Tel Aviv, onde quer que esteja, a câmera de Perlov é o registro da viagem apaixonante de um homem em busca de si.


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