São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Pintor faz primeira exposição em dois anos mostrando 11 telas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
Aguilar volta a especular sobre a Criação

ÁLVARO MACHADO
especial para a Folha

É a primeira exposição de José Roberto Aguilar em dois anos. "O intervalo mínimo para uma reciclagem", considera o pintor, que nesse tempo também dirigiu e dinamizou o museu Casa das Rosas.
Mas "Ossos e Asas", que começa hoje à noite no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, assinala já a casa da 30ª individual do artista, para ficar apenas entre as principais. A maior novidade agora, além da marchand com a qual expõe pela primeira vez, é o descarte da fulgurante paleta de cores que marcou mesmo a última exposição de 96, no MAM-SP.
"Ossos e Asas" faz justiça à iconografia que elege, adotando apenas o branco e o seu oposto. "Mesmo os cinzas são construídos na tela por velatura", esclarece o pintor sobre a técnica. E arremata conceitualmente: "No Eden, no absoluto, só existe o branco. Não como privação. Como abundância. Um leque infinitamente maior que o arco-íris".
A auto-restrição parece favorecer a força expressiva de 11 telas imensas, que se detêm em antropomorfismos. A figuração, mais clara e "à vontade", parece encontrar conforto nos últimos ventos, que a revalorizam.
A nova série especula sobre a dualidade alto-baixo e as estratégias da Criação, da mesma forma que a mostra de 96, acompanhada de transcriações do "Gênesis" por Haroldo de Campos.
O artista afirma mesmo tratar-se agora de um prolongamento daquela exposição. Na verdade, o Gênesis, as cosmogonias e as grandes sagas o fascinam há muito e têm lhe fornecido substrato: além da escritura bíblica, Aguilar já tomou como pretexto "Mahabharata", a "Divina Comédia" e "Os Sertões", entre outras obras.
"Ossos..." apresenta sequência linear na sua emulação da criação do homem. A narrativa é enfatizada por inscrições nas próprias telas: "Primeiros estudos antropomórficos: face, mãos, pés, estrutura" etc. À altura da nona imagem da exposição ("A Matrix and a Brain"), o pintor explica, de maneira peculiar: "Quando Ele fez este outro quadro, a matriz estava a caminho", tomando a liberdade de designar o Ser Absoluto como o verdadeiro autor da obra.
As telas são acompanhadas de conjuntos de esculturas em vidro em forma de osso. Foram produzidas para o artista pela fábrica de vidros artesanais Cambé.

Exposição: Ossos e Asas, de José Roberto Aguilar
Quando: hoje, a partir das 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 24 de abril
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 883-6322)
Quanto: entrada franca



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