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ARTES PLÁSTICAS
Pintor faz primeira exposição em dois anos mostrando 11 telas, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud
Aguilar volta a especular sobre a Criação
ÁLVARO MACHADO
especial para a Folha
É a primeira exposição de José
Roberto Aguilar em dois anos. "O
intervalo mínimo para uma reciclagem", considera o pintor, que
nesse tempo também dirigiu e dinamizou o museu Casa das Rosas.
Mas "Ossos e Asas", que começa hoje à noite no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, assinala já a casa da 30ª individual do artista, para ficar apenas entre as principais.
A maior novidade agora, além da
marchand com a qual expõe pela
primeira vez, é o descarte da fulgurante paleta de cores que marcou mesmo a última exposição de
96, no MAM-SP.
"Ossos e Asas" faz justiça à iconografia que elege, adotando apenas o branco e o seu oposto.
"Mesmo os cinzas são construídos na tela por velatura", esclarece o pintor sobre a técnica. E arremata conceitualmente: "No Eden,
no absoluto, só existe o branco.
Não como privação. Como abundância. Um leque infinitamente
maior que o arco-íris".
A auto-restrição parece favorecer a força expressiva de 11 telas
imensas, que se detêm em antropomorfismos. A figuração, mais
clara e "à vontade", parece encontrar conforto nos últimos ventos,
que a revalorizam.
A nova série especula sobre a
dualidade alto-baixo e as estratégias da Criação, da mesma forma
que a mostra de 96, acompanhada
de transcriações do "Gênesis" por
Haroldo de Campos.
O artista afirma mesmo tratar-se agora de um prolongamento daquela exposição. Na verdade,
o Gênesis, as cosmogonias e as
grandes sagas o fascinam há muito e têm lhe fornecido substrato:
além da escritura bíblica, Aguilar
já tomou como pretexto "Mahabharata", a "Divina Comédia" e
"Os Sertões", entre outras obras.
"Ossos..." apresenta sequência
linear na sua emulação da criação
do homem. A narrativa é enfatizada por inscrições nas próprias telas: "Primeiros estudos antropomórficos: face, mãos, pés, estrutura" etc. À altura da nona imagem da exposição ("A Matrix and
a Brain"), o pintor explica, de maneira peculiar: "Quando Ele fez
este outro quadro, a matriz estava
a caminho", tomando a liberdade
de designar o Ser Absoluto como
o verdadeiro autor da obra.
As telas são acompanhadas de
conjuntos de esculturas em vidro
em forma de osso. Foram produzidas para o artista pela fábrica de
vidros artesanais Cambé.
Exposição: Ossos e Asas, de José Roberto
Aguilar
Quando: hoje, a partir das 20h; de seg. a
sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h;
até 24 de abril
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r.
Artur de Azevedo, 401, tel. 883-6322)
Quanto: entrada franca
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