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"WOYZECK, O BRASILEIRO"
Protagonista adivinha angústia da classe média
Nachtergaele faz da peça experiência transtornante
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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O ator Matheus Nachtergaele, à frente, em 'Woyzeck, o Brasileiro' |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Um espectro assombra o Brasil: o de Woyzeck. A perturbadora peça que Büchner deixou inacabada quando morreu, aos 23
anos, em 1837, é proposta como
retrato do aqui e agora brasileiro
no espetáculo elaborado em conjunto pela encenadora Cibele Forjaz, o dramaturgista Fernando
Bonassi e 11 atores-criadores, encabeçados por Matheus Nachtergaele.
A direção de Forjaz prima por
catalisar a criação de cada participante. Woyzeck, o brasileiro, não
é mais soldado como no texto original, mas trabalha em uma olaria. O público disposto em cadeiras distribuídas pelo espaço tem
acesso a vários palcos nos quais
cada interlocutor de Woyzeck espera sua vez. Essa disposição,
além de acentuar a crueldade da
exposição do protagonista, tem
como mérito driblar o que pode
haver de desconexo no original.
Passando de um palco ao outro,
Nachtergaele nos reflete. Como
um Cristo dos mistérios medievais, a paixão de Woyzeck é uma
morte congelada em um tempo
que se mede pelo número de tijolos produzidos. Por isso, tanto faz
se o retrato da parede for de Getúlio Vargas ou de Mao Tse-tung: a
condição proletária é imutável.
Esse voyeurismo do sofrimento
é máximo quando o médico (Nilton Bicudo) humilha Woyzeck: a
luz geral denuncia a passividade
do público. Se Woyzeck é o anti-herói manipulado, decifra a voz
dos que vivem no fundo do poço.
Woyzeck é um proletário que adivinha a angústia da classe média.
E a presença de Nachtergaele faz
da encenação uma experiência
transtornante. Como na construção de Chico Buarque, Woyzeck
beija sua mulher como se fosse a
última, flutua no ar como se fosse
um príncipe e se acaba no chão,
atrapalhando o sábado.
Woyzeck, o Brasileiro
Dramaturgia: Fernando Bonassi
Direção: Cibele Forjaz
Com: Matheus Nachtergaele, Marcélia
Cartaxo, Niltinho Bicudo e outros
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 915, região leste, tel. 6602-3700)
Quando: sáb. e dom., às 21h. Até 3/8.
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 15
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