São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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Menina veneno

Jefferson Coppola/Folha Imagem
As "straight edgers" do Infect, banda de hardcore que defende os animais nas letras das músicas



Minifestival All Girls recebe seis bandas underground formadas por garotas -engajadas e provocadoras


DEMETRIUS CAESAR
DA REDAÇÃO

Seis bandas sobem hoje no palco do Hangar 110 para tocar punk rock, hardcore, anos 60 e pop depressivo no All Girls, minifestival de bandas independentes formadas só por mulheres.
Cantando em inglês e português, essas garotas têm uma pegada e uma batida forte e, aparentemente, deixam de lado o discurso feminista em prol da música.
Segundo uma das organizadoras do evento, Débora Cassano, 35, dona da gravadora independente Ordinary Recordings e integrante da banda Wedding Swingers (que não participa), a quantidade de bandas femininas underground no mercado hoje daria para fazer um minifestival como o All Girls por mês.
"Como produtora sempre fui reticente em fazer um evento só com bandas femininas. Não gosto desse ranço que existe, "banda de mina". Mas, sentindo o mercado, vi que não teria por que não fazer, há muita gente boa atuando hoje", afirma.
O preconceito com a "banda de mina" refere-se ao fato de que alguns grupos femininos tocam predominantemente punk e, logo após subirem no palco e contarem "um, dois, três" disparam música intermitente até o fim.
"O All Girls traz um espectro amplo do que se está fazendo de música feminina hoje em São Paulo, não se restringindo a nenhum ritmo ou gueto", diz.
Haverá um telão no Hangar no qual serão passados vídeos como "Dona Maria", sobre mulheres skatistas, que, aliás, são convidadas e estarão se exibindo durante as apresentações na rampa do lugar. Um debate sobre a atuação de mulheres na música e na produção de fanzines antecede os shows.
O hardcore será defendido por dois grupos: Dominatrix e Infect.
Dominatrix é a banda mais conhecida do evento. Tem dois CDs lançados -"Girl Gathering" e "Self Delight"- e um outro dividido com o grupo Street Bulldogs. No início da carreira, em meados dos anos 90, com idade entre 15 e 19 anos, elas foram consideradas as principais representantes do movimento Girl Power brasileiro.
Já as meninas do Infect são "straight edgers". Vegetarianas, fazem música com letra engajada, principalmente em defesa dos animais.
A turma do punk rock tem como representantes o Biggs, de Sorocaba, e o Hats.
Formada por Cherry, Zuleika e Eliane, o Hats originou-se em dezembro do ano passado e prepara-se para participar, com cinco músicas, de uma coletânea de música independente patrocinada pelo selo Trololo Records.
"Fazemos uma mistura de hard, punk rock e garagem", define Cherry, que também é vocalista e guitarrista da banda Okotô (não-feminina), participa como baixista na banda HC Word e, no Hats, toca ainda um terceiro instrumento, bateria.
Cynthia, do BBB (de Build Baby's Brain), também se desdobra em vários grupos. Tocou no TPM, no Cadillacs Chicks e no Comedores de Batata, entre outros, para as quais também compôs.
Ela decidiu-se pelo show solo em outubro do ano passado e, desde então, faz música experimental com guitarra, baixo e vocal, com a ajuda, às vezes, da música eletrônica.
Como a baixista do Biggs está de viagem para Londres, Cynthia assumiu o posto na banda, da qual é admiradora. "Estou há apenas três semanas e não saí do estágio de fã ainda", diz.
Por fim, no festival, a banda Sunglasses traz o psicodelismo e o rock dos anos 60.
Dando continuidade à divulgação da música underground, acontecem, ainda este ano, o Festival de Música Independente e o Festival de Cultura Independente. Este último, ainda sem data definida, acontecerá no Tendal da Lapa e terá entrada franca.

ALL GIRLS - show com seis bandas femininas underground. Onde: Hangar 110 (r. Rodolfo Miranda, 110, Bom Retiro, ao lado do metrô Armênia, tel. 229-7442). Quando: hoje, às 15h30. R$ 5 (grátis p/ mulheres até 16h). Capacidade: 700 pessoas. Censura: 14 anos.



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