UOL


São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

Próximo Texto | Índice

FILE 2003

Lançamento de "O Livro Depois do Livro", de Giselle Beiguelman, antecede simpósio no Centro Brasileiro Britânico

Pesquisadora repensa livro na era da web

Divulgação
A pesquisadora e webartista Giselle Beiguelman, que lança livro


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há controvérsias. E muitas. Na arena da sempre crescente cultura digital, nada é fixo, as opiniões divergem e existe até quem já peça o fim da internet como a conhecemos hoje. Giselle Beiguelman, 40, professora de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP, é uma delas.
"O problema [da internet] é o navegador, ele é a grande limitação para o usuário hoje. Nos força a chamar de páginas o que não são páginas e organiza os dados em diretórios pelos mesmos princípios de uma biblioteca", critica a pesquisadora, que lança hoje, na abertura do File Symposium, parte da programação do 4º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o seu não menos provocativo "O Livro Depois do Livro".
Na obra, que começou a ser pensada (e repensada) em 1999, quando virou um site, Beiguelman propõe uma nova forma de leitura para os textos produzidos na e para a rede: esqueçamos a linearidade narrativa dos livros impressos e passemos à não-linearidade própria da web. Quem topa?
"Depois da "bomba" Napster [software que revolucionou a prática de troca de músicas na internet] nunca mais fomos os mesmos. Ao contrário do mundo de domínios e diretórios que conhecemos hoje, aposto numa tendência de um mundo de compartilhamento de dados. Tudo de interessante que está acontecendo na internet tem contribuído para forjar uma contracultura descentralizada de usuários", afirma, referindo-se a sistemas de trocas de arquivos como o Kazaa.
O assunto será aprofundado ainda na conferência "Wireless- Conditions", ministrada pela pesquisadora na próxima quinta-feira. Autora de projetos que envolvem arte para telefones celulares ("Wop Art") e até mesmo painéis eletrônicos ("Leste o Leste?"), Beiguellman pretende levantar a discussão sobre "o mundo despaginado", em que vivemos, aquele que "sai de dentro do monitor".
Na sexta-feira, Beiguelman volta à cena com "Paisagem0", obra em parceria com Rafael Marchetti Renno, Marcus Bastos e Malu Maia, que consiste em uma máquina de samplear (textos, sons e imagens) e joga ainda mais lenha na fogueira da polêmica questão da autoria dentro da internet.
Graduada e pós-graduada em história, Beiguelman teve seu primeiro contato com a internet ao trabalhar nos primeiros anos do Universo Online. Editora da revista "Trópico", seu site -e agora também livro e e-book- "O Livro Depois do Livro" aborda não só a questão do material impresso versus texto na web, mas também aspectos de arte em ASCII (que usa caracteres de computador para criar imagens), das narrativas criadas por computador, entre outras possibilidades artísticas oferecidas pela tecnologia.
Para tanto, insiste, temos de deixar para trás algumas noções e criar um novo vocabulário. "[Por trás disso tudo está] o problema da concepção do conteúdo da Web como versões expandidas do livro impresso (...), nos termos em que o cinema do início do século 20 era descrito como "fotografia animada", evidenciando a ignorância das especificidades de linguagem das novas mídias."

Próximo Texto: MIS reabre com mostra de fotos de "O Cruzeiro"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.