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ARTES PLÁSTICAS
Exposição na galeria Marília Razuk retoma discussão estética sobre desenho e pintura da carioca
Controvérsia marca obras de Monte-Mór
TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA
Uma polêmica incide sobre os
trabalhos de Germana Monte-Mór -seriam eles desenhos ou
pinturas? Na mostra, que começa
hoje na galeria Marília Razuk, a
dúvida reaparece nas 156 unidades que compõem o painel, de
2,16 m por 7 m, a principal obra
em exibição.
Para a artista, são desenhos, não
porque foram feitos sobre papel,
mas pelo caráter momentâneo de
sua realização.
"Na pintura, há a questão do
tempo e da relação com o material. No desenho, a construção é
mais imediata", diz Monte-Mór,
carioca radicada em São Paulo.
Abordada por ela em seu mestrado, intitulado "Lugares do Desenho", na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, a dúvida é tema de debate com críticos,
como Paulo Sergio Duarte, que
assina o texto de apresentação da
exposição.
"Temos agora um legítimo uso
da palavra comunidade: os indivíduos -desenhos ou pinturas-
reunidos têm de fato uma unidade comum, coisa rara de se encontrar nos grupos a que se refere
o uso da palavra... Temos, então, a
potência a que foi elevado o conjunto dos indivíduos que se manifesta no grande painel. Essa é a
pintura, por favor, não falemos
mais de desenhos", escreve Duarte na apresentação.
Os "desenhos", de 36 cm por 25
cm cada um, trazem sempre dois
elementos em sua composição, e
são feitos com asfalto diluído em
solvente.
O material, usado por ela há 12
anos, reaparece nesta série com
enlevo novo, dado pelo aspecto
tridimensional de um meio tom,
que surge da difusão do óleo nas
tramas do papel. "A tinta se expande de forma meio arbitrária,
quis tirar partido disso porque dá
uma pulsação às obras", diz Monte-Mór.
Apesar dessa "invasão" que permeia as bordas dos desenhos, a
preparação do papel tornou-se
mais clara em relação às obras anteriores, nas quais a forma e o fundo eram mais entranhadas, resultado da manipulação do suporte.
Para formar o painel, a artista
relacionou as analogias entre as
formas; em alguns, elas são tênues, e, em outros, tomam quase
todo o papel. "Tive de pensar
mais uma vez na composição,
mas de uma forma mais lúdica. É
como um dominó, poderia ter
outras montagens."
Uma série de fotografias -suporte inédito em sua produção-,
que retratam a areia na beira do
mar, formando pequenas poças
de água com o reflexo do céu e do
sol, estabelecem um instigante
diálogo com o painel.
"Gosto de fotografia e sempre
fiz fotos, mas nunca sistematizei
nem mostrei esses trabalhos", diz
a artista. Atualmente, Monte-Mór
desenvolve um trabalho fotográfico que envolve o corpo, além de
uma série de esculturas, dentro de
um projeto contemplado com a
bolsa Vitae.
GERMANA MONTE-MÓR. Onde: galeria
Marília Razuk (r. Jerônimo da Veiga, 62,
tel. 3079-0853, Itaim Bibi). Quando: a
partir de hoje, às 19h30; de seg. a sex.,
das 10h30 às 19h, e sáb. das 11h às 14h.
Quanto: entrada franca. Até 13/10.
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