São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição na galeria Marília Razuk retoma discussão estética sobre desenho e pintura da carioca

Controvérsia marca obras de Monte-Mór

TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA

Uma polêmica incide sobre os trabalhos de Germana Monte-Mór -seriam eles desenhos ou pinturas? Na mostra, que começa hoje na galeria Marília Razuk, a dúvida reaparece nas 156 unidades que compõem o painel, de 2,16 m por 7 m, a principal obra em exibição.
Para a artista, são desenhos, não porque foram feitos sobre papel, mas pelo caráter momentâneo de sua realização.
"Na pintura, há a questão do tempo e da relação com o material. No desenho, a construção é mais imediata", diz Monte-Mór, carioca radicada em São Paulo.
Abordada por ela em seu mestrado, intitulado "Lugares do Desenho", na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, a dúvida é tema de debate com críticos, como Paulo Sergio Duarte, que assina o texto de apresentação da exposição.
"Temos agora um legítimo uso da palavra comunidade: os indivíduos -desenhos ou pinturas- reunidos têm de fato uma unidade comum, coisa rara de se encontrar nos grupos a que se refere o uso da palavra... Temos, então, a potência a que foi elevado o conjunto dos indivíduos que se manifesta no grande painel. Essa é a pintura, por favor, não falemos mais de desenhos", escreve Duarte na apresentação.
Os "desenhos", de 36 cm por 25 cm cada um, trazem sempre dois elementos em sua composição, e são feitos com asfalto diluído em solvente.
O material, usado por ela há 12 anos, reaparece nesta série com enlevo novo, dado pelo aspecto tridimensional de um meio tom, que surge da difusão do óleo nas tramas do papel. "A tinta se expande de forma meio arbitrária, quis tirar partido disso porque dá uma pulsação às obras", diz Monte-Mór.
Apesar dessa "invasão" que permeia as bordas dos desenhos, a preparação do papel tornou-se mais clara em relação às obras anteriores, nas quais a forma e o fundo eram mais entranhadas, resultado da manipulação do suporte.
Para formar o painel, a artista relacionou as analogias entre as formas; em alguns, elas são tênues, e, em outros, tomam quase todo o papel. "Tive de pensar mais uma vez na composição, mas de uma forma mais lúdica. É como um dominó, poderia ter outras montagens."
Uma série de fotografias -suporte inédito em sua produção-, que retratam a areia na beira do mar, formando pequenas poças de água com o reflexo do céu e do sol, estabelecem um instigante diálogo com o painel.
"Gosto de fotografia e sempre fiz fotos, mas nunca sistematizei nem mostrei esses trabalhos", diz a artista. Atualmente, Monte-Mór desenvolve um trabalho fotográfico que envolve o corpo, além de uma série de esculturas, dentro de um projeto contemplado com a bolsa Vitae.


GERMANA MONTE-MÓR. Onde: galeria Marília Razuk (r. Jerônimo da Veiga, 62, tel. 3079-0853, Itaim Bibi). Quando: a partir de hoje, às 19h30; de seg. a sex., das 10h30 às 19h, e sáb. das 11h às 14h. Quanto: entrada franca. Até 13/10.


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