São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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TEATRO

"Amor e Restos Humanos", texto do dramaturgo canadense, chega a SP em arquibancada, para exercícios do olhar

Brad Fraser mineiro estréia para voyeurs

PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Por dentro da caixa de ferro, as personagens se confrontam, deblateram. De uma arquibancada de altura que varia entre dois e cinco metros, a platéia assiste às cenas, por vezes simultâneas, fazendo escolhas quanto ao direcionamento do olhar, descondicionando a visão, exercitando seu voyeurismo congênito.
É com essa proposta cênica que vem a São Paulo a montagem mineira de "Amor e Restos Humanos", sobre a peça do dramaturgo canadense Brad Fraser ("Pobre Super-Homem"), pelas mãos da Odeon Companhia Teatral. A minitemporada começa amanhã, no mezanino do Sérgio Cardoso.
O texto já teve encenação de Maurício Paroni de Castro, em 2000, um ano antes de a Odeon, fundada em 99, trazer ao Sesc Consolação sua montagem de "Ricardo 3º", de Shakespeare.
Estreada em novembro de 2001, levada só em Belo Horizonte até chegar a São Paulo, "Amor e Restos Humanos" foi apresentada por lá em um galpão abandonado. O que, segundo o diretor, Carlos Gradim, 35, aclimava bem o universo de solitários, individualistas, assassinos, drogados e homossexuais da trama.
O título em português da montagem é exatamente igual ao de uma adaptação cinematográfica, dirigida em 93 por Denys Arcand. A encenação, entretanto, baseia-se no texto dramático, em inglês "Unidentified Human Remains and the True Nature of Love" (algo como restos humanos não identificados e a verdadeira natureza do amor).
"Tive contato com uma tradução que reproduzia os diálogos do filme, mas não estava me agradando. O que me interessou [no original" foi a maneira como ele conta a história. Os diálogos são interrompidos, as cenas não se fecham. No filme, era mais lógico, mais continuado", relata Gradim.
"A escolha do nome foi mais questão de marketing. Até gosto mais do título original", graceja.
O enredo conta com duas personagens principais, Carol e David, que dividem apartamento. Encontram outras, agregadas aos acontecimentos, que têm como pano de fundo a metrópole impessoal e as demandas desencontradas por felicidade. Busca do prazer e explosão da violência ajudam a colorir as situações.
Gradim define o cenário e a estrutura de arquibancada da platéia como grandes enformadores conceituais da encenação. "Desde o início achava que não podia ser num espaço convencional. O princípio da minha concepção foi que o espectador tivesse um olhar de voyeur, escolhesse o ângulo, a cena", diz. A cenografia da montagem é de André Cortez.
O diretor se lembra da primeira interação com a obra de Fraser. Foi por meio do filme de 93 que lhe veio a inspiração para denominar a peça. "Sou de Belo Horizonte, vi-o em SP, onde morei por uns tempos. Meu universo aqui era próximo ao do filme: solidão, falta de comunicação." No seio da terra natal, pretende começar a ensaiar "Antígona", de Sófocles. Também tenciona montar o autor chileno Benjamín Galemiri.


AMOR E RESTOS HUMANOS. De: Brad Fraser. Direção: Carlos Gradim. Com: Odeon Companhia Teatral. Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136). Estréia amanhã, às 18h30. De qui. a sáb., às 18h30, e dom., às 21h; até 6/10. Quanto: R$ 5 e R$ 10. Patrocinador: MSA Tecnologia da Informação.



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