São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

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"O ELO PERDIDO"

Longa critica romantismo científico

SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Filme vai, filme vem, e a carreira do ator inglês Joseph Fiennes (irmão mais novo de Ralph, de "O Jardineiro Fiel") continua a rimar com dramas de reconstituição histórica: "Elizabeth" (98), "Shakespeare Apaixonado" (98), "Lutero" (03), "O Mercador de Veneza" (04).
Desta vez, o guarda-roupa é um pouco mais recente, do final do século 19. Ambienta-se ali a fábula antropológica de "O Elo Perdido", que abriu Berlim-2005, do qual saiu de mãos abanando. Faz sentido: tem pompa para festa de gala, mas não impacto criativo para chegar à premiação.
O capricho se concentra, em boa medida, no luxo e detalhismo com que se recria o Reino Unido de 1870, de onde parte um pesquisador escocês (Fiennes) até a África Equatorial (as locações são na África do Sul) em busca de pigmeus que possibilitem, acredita ele, estabelecer como o macaco deu origem ao homem.
Um romântico bem-intencionado, ainda que equivocado em suas crenças "científicas", o que não chega a configurar falha muito grave naquele momento. Problema mesmo são alguns dos personagens que o cercam, com exceção de uma viúva especializada em animais selvagens.
É ela quem alerta, graças ao contato estreito com tribos africanas, para os riscos de capturar um casal de pigmeus e levá-los a Edimburgo. Não consegue impedir que isso ocorra, muito menos que os colegas do pesquisador adotem, em relação à experiência com os africanos, postura condenável.
Personagens e temas em jogo são desenhados com rapidez e didatismo pelo diretor francês Régis Wargnier ("Indochina"). Como a perspectiva é a dos brancos, os pigmeus só evoluem da categoria de animais exóticos para seres humanos à medida que os britânicos passam a vê-los assim.
Embora a ciência seja flagrada em fase ingênua, Fiennes encarna positivamente o espírito investigativo que move o conhecimento. Não é herói, papel dos pigmeus, mas mereceria o purgatório.
São britânicos os representantes da "civilização" não só porque a antropologia era naquele período um campo eminentemente deles, mas também porque o colonialismo, gerando preconceito racial e social baseado em visão torta do mundo, permanece nas entrelinhas o tempo todo, em construção politicamente correta até a medula. Fiennes teria essa desculpa para dar: é drama de época, mas também fala do presente.


O Elo Perdido
Man to Man
  
Direção: Régis Wargnier
Produção: França/Inglaterra/África do Sul, 2005
Com: Joseph Fiennes, Iain Glen



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