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"O ELO PERDIDO"
Longa critica romantismo científico
SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Filme vai, filme vem, e a carreira do ator inglês Joseph
Fiennes (irmão mais novo de
Ralph, de "O Jardineiro Fiel")
continua a rimar com dramas de
reconstituição histórica: "Elizabeth" (98), "Shakespeare Apaixonado" (98), "Lutero" (03), "O
Mercador de Veneza" (04).
Desta vez, o guarda-roupa é um
pouco mais recente, do final do
século 19. Ambienta-se ali a fábula
antropológica de "O Elo Perdido", que abriu Berlim-2005, do
qual saiu de mãos abanando. Faz
sentido: tem pompa para festa de
gala, mas não impacto criativo
para chegar à premiação.
O capricho se concentra, em
boa medida, no luxo e detalhismo
com que se recria o Reino Unido
de 1870, de onde parte um pesquisador escocês (Fiennes) até a África Equatorial (as locações são na
África do Sul) em busca de pigmeus que possibilitem, acredita
ele, estabelecer como o macaco
deu origem ao homem.
Um romântico bem-intencionado, ainda que equivocado em
suas crenças "científicas", o que
não chega a configurar falha muito grave naquele momento. Problema mesmo são alguns dos personagens que o cercam, com exceção de uma viúva especializada
em animais selvagens.
É ela quem alerta, graças ao contato estreito com tribos africanas,
para os riscos de capturar um casal de pigmeus e levá-los a Edimburgo. Não consegue impedir que
isso ocorra, muito menos que os
colegas do pesquisador adotem,
em relação à experiência com os
africanos, postura condenável.
Personagens e temas em jogo
são desenhados com rapidez e didatismo pelo diretor francês Régis
Wargnier ("Indochina"). Como a
perspectiva é a dos brancos, os
pigmeus só evoluem da categoria
de animais exóticos para seres humanos à medida que os britânicos
passam a vê-los assim.
Embora a ciência seja flagrada
em fase ingênua, Fiennes encarna
positivamente o espírito investigativo que move o conhecimento.
Não é herói, papel dos pigmeus,
mas mereceria o purgatório.
São britânicos os representantes
da "civilização" não só porque a
antropologia era naquele período
um campo eminentemente deles,
mas também porque o colonialismo, gerando preconceito racial e
social baseado em visão torta do
mundo, permanece nas entrelinhas o tempo todo, em construção politicamente correta até a
medula. Fiennes teria essa desculpa para dar: é drama de época,
mas também fala do presente.
O Elo Perdido
Man to Man
Direção: Régis Wargnier
Produção: França/Inglaterra/África do
Sul, 2005
Com: Joseph Fiennes, Iain Glen
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