São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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Crítica/teatro/"Ensina-me a Viver"

Atuação de Glória Menezes é o maior mérito de montagem

Sob direção de João Falcão, atriz brilha no papel de "jovem de quase oitenta'

Marlene Bergamo 17.out.2007/Folha Imagem
A atriz durante ensaio da peça, em outubro


CRÍTICO DA FOLHA

"Harold and Maude" (1972), filme de Hal Ashby com roteiro de Colin Higgins, gerou fãs duradouros. A fábula de Harold, "um senhor de quase 20 anos" que se apaixona por Maude, "uma jovem de quase oitenta", mobilizou Jean Claude Carrière a adaptá-la para o palco já em 1973, para a mítica atriz francesa Madeleine Renaud. No Brasil, uma encenação marcante reuniu os atores Henriette Morineau e Diogo Vilela em 1981.
Arlindo Lopes, um jovem ator carioca que, embora vindo do teatro, se fez conhecido pela televisão, assume agora a sina de Harold. Teimoso, lutou por quatro anos até conseguir associar à sua produção Glória Menezes, que por sua vez imaginava, desde a década de 70, se um dia viria fazer bem esse papel.
Pois bem: o grande mérito da montagem "Ensina-me a Viver" é provar que sim. Menezes sabe tornar verossímil essa paixão instigante ao fazer de Maude uma eterna criança, que nega a respeitabilidade -que costuma ser a única vantagem daquilo que hipocritamente se nomeia hoje "melhor idade"- para se inflamar com chama eterna e irreverente do anarquismo. Sem se desafiar a proezas físicas inúteis, mostra-se uma grande atriz não pela maturidade técnica, mas por um despojamento contagiante de felicidade.
Infelizmente, o Harold de Lopes não está à altura. Simpático, mas sem profundidade nenhuma, não consegue fazer o contraponto necessário. O diretor João Falcão, por sua vez, pouco acrescenta. Permite ao grande Augusto Madeira se desdobrar em três personagens simultaneamente, em uma façanha técnica que diverte, mas também é uma distração aleatória, enquanto Fernanda de Freitas, desafiada a fazer igual, fracassa por falta de técnica.
É que não é fácil a técnica da caricatura -veja a veterana Ilana Kaplan, que acaba se fechando em gestos tão estilizados que parece representar entre aspas, e um elenco de apoio que não diz a que veio.
Ao se acrescentar uma luz desastrosa e uma trilha medonha, que destroem por exemplo a delicada cena do beijo, resta lamentar que a montagem não possa ser antológica. Fica Glória Menezes, e não é pouco. (SÉRGIO SALVIA COELHO)


ENSINA-ME A VIVER
Quando:
hoje, às 18h; qui. a sáb., às 21h. Até 30/3
Onde: Faap (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7233)
Quanto: R$ 70 (qui. e sex.) e R$ 80 (sáb. a dom.)
Avaliação: regular


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