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Crítica/teatro/"Ensina-me a Viver"
Atuação de Glória Menezes é o maior mérito de montagem
Sob direção de João Falcão, atriz brilha no papel de "jovem de quase oitenta'
Marlene Bergamo 17.out.2007/Folha Imagem
| A atriz durante ensaio da peça, em outubro |
CRÍTICO DA FOLHA
"Harold and Maude"
(1972), filme de
Hal Ashby com
roteiro de Colin Higgins, gerou
fãs duradouros. A fábula de Harold, "um senhor de quase 20
anos" que se apaixona por
Maude, "uma jovem de quase
oitenta", mobilizou Jean Claude Carrière a adaptá-la para o
palco já em 1973, para a mítica
atriz francesa Madeleine Renaud. No Brasil, uma encenação marcante reuniu os atores
Henriette Morineau e Diogo
Vilela em 1981.
Arlindo Lopes, um jovem
ator carioca que, embora vindo
do teatro, se fez conhecido pela
televisão, assume agora a sina
de Harold. Teimoso, lutou por
quatro anos até conseguir associar à sua produção Glória Menezes, que por sua vez imaginava, desde a década de 70, se um
dia viria fazer bem esse papel.
Pois bem: o grande mérito da
montagem "Ensina-me a Viver" é provar que sim. Menezes
sabe tornar verossímil essa paixão instigante ao fazer de Maude uma eterna criança, que nega a respeitabilidade -que costuma ser a única vantagem daquilo que hipocritamente se
nomeia hoje "melhor idade"-
para se inflamar com chama
eterna e irreverente do anarquismo. Sem se desafiar a proezas físicas inúteis, mostra-se
uma grande atriz não pela maturidade técnica, mas por um
despojamento contagiante de
felicidade.
Infelizmente, o Harold de
Lopes não está à altura. Simpático, mas sem profundidade nenhuma, não consegue fazer o
contraponto necessário. O diretor João Falcão, por sua vez,
pouco acrescenta. Permite ao
grande Augusto Madeira se
desdobrar em três personagens
simultaneamente, em uma façanha técnica que diverte, mas
também é uma distração aleatória, enquanto Fernanda de
Freitas, desafiada a fazer igual,
fracassa por falta de técnica.
É que não é fácil a técnica da
caricatura -veja a veterana Ilana Kaplan, que acaba se fechando em gestos tão estilizados
que parece representar entre
aspas, e um elenco de apoio que
não diz a que veio.
Ao se acrescentar uma luz
desastrosa e uma trilha medonha, que destroem por exemplo
a delicada cena do beijo, resta
lamentar que a montagem não
possa ser antológica. Fica Glória Menezes, e não é pouco.
(SÉRGIO SALVIA COELHO)
ENSINA-ME A VIVER
Quando: hoje, às 18h; qui. a sáb., às
21h. Até 30/3
Onde: Faap (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7233)
Quanto: R$ 70 (qui. e sex.) e R$ 80
(sáb. a dom.)
Avaliação: regular
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