São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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Filmes dos anos 80 desfrutam da liberdade

CCBB reúne produção de vídeo no pós-ditadura

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A julgar pelo que oferece o "mercado", a década foi perdida. Se as prateleiras das videolocadoras fossem organizadas por décadas, um espaço ficaria vazio: aquele dedicado à produção brasileira dos anos 1980. Raros foram os títulos lançados em DVD. Incontáveis são os vídeos que só sobrevivem na memória falada.
Pois é em socorro da história que surge a mostra "Brasil Anos 80: Cinema e Vídeo", aberta ontem no Centro Cultural Banco do Brasil. Uma seleção de 73 obras em película e vídeo, um catálogo que vale por um livro e debates trazem de volta esse tempo que tem muito a dizer sobre os caminhos e descaminhos do audiovisual.
Levada a cabo por cineastas que, com o fim da ditadura, buscavam novos propósitos para a arte, a produção enfrentava não só uma TV cada vez mais forte como o vídeo que começava a mudar o hábito do espectador. A nova geração sabia que era hora de desprender-se dos princípios de Glauber Rocha.
Como escrevem os curadores Francisco César Filho e Rafael Sampaio, tratava-se de um grupo que, "sem manifestos rígidos, buscava encontrar novas maneiras de se comunicar com o público." Havia, ao mesmo tempo, uma inquietude estética nesse cinema paulista forjado entre a Vila Madalena e a ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP).
Os curadores lembram ainda que a década representou o fim de dois modelos de produção: um amparado pelos benefícios estatais da Embrafilme e outro feito a toque de caixa, na Boca do Lixo . Em entrevista reproduzida no catálogo, Ícaro Martins, de "O Olho Mágico do Amor", cita, inclusive, um elo entre USP e Boca do Lixo.
Enquanto o cinema procurava distinguir-se da TV, alguns diretores ousavam testar, na própria TV, a anarquia. Exemplares dessa safra são as produções da TVDO, de Tadeu Jungle e Walter Silveira, e da Olhar Eletrônico, de Fernando Meirelles e Marcelo Tas, muito bem representados na mostra.
Além de longas como "Marvada Carne" (André Klotzel), "Bete Balanço" (Lael Rodrigues), "Anjos da Noite" (Wilson Barros) e "Feliz Ano Velho" (Roberto Gervitz), há curtas de Beto Brant, Jorge Furtado, Laís Bodanzky e Anna Muylaert. Como se vê, perdidos estavam os filmes. Não a década.


ANOS 80: CINEMA E VÍDEO

Quando: até 7 de março
Onde: Cinema do Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3179-3700)
Quanto: gratuito (retirar senha a partir das 10h no dia do evento)
Classificação: de acordo com o filme




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