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Filmes dos anos 80 desfrutam da liberdade
CCBB reúne produção de vídeo no pós-ditadura
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
A julgar pelo que oferece o
"mercado", a década foi perdida. Se as prateleiras das videolocadoras fossem organizadas
por décadas, um espaço ficaria
vazio: aquele dedicado à produção brasileira dos anos 1980.
Raros foram os títulos lançados
em DVD. Incontáveis são os vídeos que só sobrevivem na memória falada.
Pois é em socorro da história
que surge a mostra "Brasil
Anos 80: Cinema e Vídeo",
aberta ontem no Centro Cultural Banco do Brasil. Uma seleção de 73 obras em película e vídeo, um catálogo que vale por
um livro e debates trazem de
volta esse tempo que tem muito a dizer sobre os caminhos e
descaminhos do audiovisual.
Levada a cabo por cineastas
que, com o fim da ditadura,
buscavam novos propósitos para a arte, a produção enfrentava
não só uma TV cada vez mais
forte como o vídeo que começava a mudar o hábito do espectador. A nova geração sabia que
era hora de desprender-se dos
princípios de Glauber Rocha.
Como escrevem os curadores
Francisco César Filho e Rafael
Sampaio, tratava-se de um grupo que, "sem manifestos rígidos, buscava encontrar novas
maneiras de se comunicar com
o público." Havia, ao mesmo
tempo, uma inquietude estética nesse cinema paulista forjado entre a Vila Madalena e a
ECA (Escola de Comunicações
e Artes da USP).
Os curadores lembram ainda
que a década representou o fim
de dois modelos de produção:
um amparado pelos benefícios
estatais da Embrafilme e outro
feito a toque de caixa, na Boca
do Lixo . Em entrevista reproduzida no catálogo, Ícaro Martins, de "O Olho Mágico do
Amor", cita, inclusive, um elo
entre USP e Boca do Lixo.
Enquanto o cinema procurava distinguir-se da TV, alguns
diretores ousavam testar, na
própria TV, a anarquia. Exemplares dessa safra são as produções da TVDO, de Tadeu Jungle
e Walter Silveira, e da Olhar
Eletrônico, de Fernando Meirelles e Marcelo Tas, muito
bem representados na mostra.
Além de longas como "Marvada Carne" (André Klotzel),
"Bete Balanço" (Lael Rodrigues), "Anjos da Noite" (Wilson
Barros) e "Feliz Ano Velho"
(Roberto Gervitz), há curtas de
Beto Brant, Jorge Furtado, Laís
Bodanzky e Anna Muylaert.
Como se vê, perdidos estavam
os filmes. Não a década.
ANOS 80: CINEMA E VÍDEO
Quando: até 7 de março
Onde: Cinema do Centro Cultural Banco
do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, tel.
3179-3700)
Quanto: gratuito (retirar senha a partir
das 10h no dia do evento)
Classificação: de acordo com o filme
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