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CRÍTICA
Atriz sabe escolher seus papéis
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
"Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento" parece um filme
extremamente convencional. O
seu roteiro de fato é, com a ridícula situação de abandono de lar em
papéis invertidos. O vizinho (Aaron Eckhart) apaixonado por
nossa heroína (Julia Roberts) e
que cuida de seus três filhos menores faz as malas e diz que não
brinca mais de namorar com ela.
Enquanto isso, a desbocada e
gostosa Erin Brockovich/Julia Roberts, sob a direção obediente e
generosa de Steven Soderbergh,
prova que ainda sabe escolher papéis a dedo e que merece deter o
mais alto salário da constelação
de Hollywood.
A fórmula do sucesso parece
simples. Parece. Mas só funciona
com ela. Uma mulher luta para
criar três filhos depois de dois divórcios. O seu talento é limitado
num mercado de trabalho altamente machista e competitivo.
Ótimo para o mercado de cinema
em que mulheres arrastam maridos e namorados. Brockovich
consegue ser apenas arquivista
num escritório de advocacia dirigido por um tipo (Albert Finney)
mais preocupado com sua aposentadoria que com as grandes
causas. É esse advogado quase
aposentado que vai perder o seu
processo de vítima em uma batida de carros. E logo no começo do
filme. O que parecia uma barbada
como causa vira um pesadelo.
Estamos no ponto nevrálgico
que tantos fetiches e sonhos alimenta na sociedade americana:
os advogados e suas causas milionárias. Erin Brockovich luta por
um emprego subalterno. Quando
pensamos que esta nova Cinderela vira office-girl para vingar a sua
própria causa perdida, a sua inocente obstinação em fazer bem o
trabalho de classificar os arquivos
vai desencadear o caso real de um
processo de US$ 333 milhões, o
registro mais caro de indenização
coletiva na história jurídica americana. O caso que ela resgata é o
de uma comunidade inteira contaminada pela água despejada
sem tratamento por uma poderosa indústria química.
Na sequência de chavões, não
vão faltar, no escritório, no tribunal e mesmo na cúpula do escritório de advocacia (Peter Coyote),
vilões de todas as matizes para
roubar o papel esperto e obstinado de Brockovich. Vermes, vilões
e ridículos atrevidos que serão facilmente derrotados pela bela heroína, para a tranquilidade da sua
legião de espectadores.
Soderbergh, que obriga todo
mundo a escrever em caixa baixa
o título de seu mais famoso filme,
"sexo, mentiras e videotape",
cumpre burocraticamente esta
encomenda. Estamos diante de
um caso título de filme de estrela e
não de diretor. Não por acaso, "o
filme de Julia Roberts", expoente
do "star system", conta aqui com
a adesão do comediante Danny
DeVito como produtor, outro
ator que consegue se destacar sem
a lembrança dos que o dirigiram.
Avaliação:
Filme: Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich)
Diretor: Steven Soderbergh
Produção: EUA/2000
Com: Julia Roberts, Albert Finney Quando: a partir de hoje nos cines Ipiranga 1, SP Market 3 e circuito
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