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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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COMENTÁRIO

Pequenos criam nova política

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Durante o feriado, São Paulo deixa transparecer uma nova política cultural mais consistente. A possibilidade de assistir a um ótimo espetáculo, sem trânsito nem filas, num teatro pequeno, deveria ser sempre uma opção.
Acontece que, quando a cidade não está vazia, é grande a afluência em direção a esses pólos de excelência, que superlotam.
Como falar de crise no teatro se há uma demanda enorme do público por bons espetáculos, e dezenas de grupos habilitados e dispostos a satisfazê-lo? Quando a classe teatral paulistana se organizou para exigir da prefeitura um efetivo investimento em teatro, concretizado pelo programa de Fomento, grupos como o Teatro da Vertigem e o Cemitério de Automóveis, entre outros, não só passaram a ter condições mínimas para desenvolver sua pesquisa imprescindível, como formam agora uma platéia que se habilita a exigir cada vez mais deles.
O fato de esses teatros acolherem em geral menos de cem pessoas não é um empecilho, muito pelo contrário. Segundo o modelo consagrado pelo Teatro de Arena nos anos 50, e que se mantém vivo em "Mire Veja" da Cia. do Feijão, atores representando quase em meio ao público contam sobretudo com uma formação sólida e a inventividade que supre a falta crônica de recursos. Essa virtude do teatro "pobre" faz com que o público venha sobretudo atrás de um conteúdo, de uma cumplicidade temática com os atores, e não raro o grupo vai tomando o perfil do bairro. Cada bairro mereceria o seu, portanto.
O que vem se consolidando assim nas pequenas salas é um teatro descentralizado que se oferece não tanto como um bem de consumo, mas como serviço público, com o endosso da prefeitura. Esse princípio do direito do cidadão ao teatro já vem pautando o Sesi há anos. Por que, então, já que a fórmula comprovadamente dá certo, "empresários culturais" insistem em sonhar com teatros de 2.000 lugares, que só se sustentam com um marketing à altura da Broadway/Disneylândia, se poderiam construir 20 teatros de cem lugares, com um retorno maior e, se for preciso lembrar, a relevância cultural que se espera de uma metrópole como São Paulo?


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