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CINEMA
"Nenê Bandalho", rodado em 1970 por Emílio Fontana, dá início a ciclo e tem projeção com a presença do diretor
Filmes nacionais censurados saem do cárcere
DA REPORTAGEM LOCAL
De hoje a domingo, o público
paulistano terá a oportunidade de
ver uma pequena amostra de como agia a censura contra o cinema durante os anos do regime militar no Brasil.
São sete os filmes escolhidos pelos curadores Francisco Cesar Filho e Reinaldo Cardenuto Filho para compor o ciclo "O Cinema
Brasileiro Encarcerado: A Censura no Regime Militar", que começa às 20h de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da
cidade.
A fita de hoje é "Nenê Bandalho" (1970), que tem atuação de
Rodrigo Santiago e Jô Soares, e narra a história de um assassino
acuado pela polícia. Enquanto foge pelos telhados, Bandalho fuma
maconha e lembra de episódios
marcantes de sua vida.
O filme, escalado para o Festival
de Brasília de 1971, foi substituído
na última hora por "Brasil Bom
de Bola", cujo título deixa clara a
preferência dos censores. Emílio
Fontana, o diretor, estará na exibição desta noite para apresentar
a obra.
Amanhã serão exibidos "Meteorango Kid, o Herói Intergaláctico" (André Luiz de Oliveira, 1969), "O Despertar da Besta" (José Mojica Marins, 1969/82) e "Iracema, uma Transa Amazônica" (Jorge Bodanzky, 1975).
O primeiro teve problemas no mesmo festival. Durante a exibição em Brasília, os censores abaixavam o volume da som para impedir que o público ouvisse certos
diálogos. Em resposta, os censores ouviram certeiras vaias.
O "Despertar da Besta" é a descida de Zé do Caixão ao mundo
das drogas, em especial do LSD. A
censura interditou a fita por 13
anos, acreditando haver uma
mensagem política escondida. Essa idéia foi sempre negada pelo
diretor Mojica Marins, que deverá
negá-la mais uma vez no domingo, quando apresentará o filme.
Já a ficção-documentário "Iracema, uma Transa Amazônica"
ficou interditada por cinco anos.
Denunciando a violência no campo e as queimadas na região Norte, só foi liberada devido à repercussão internacional. Após a exibição, o diretor Bodanzky e o crítico Ismail Xavier fazem debate.
O filme mais novo do ciclo é "O
Homem que Virou Suco" (João Batista de Andrade ), de 1980,
quando a censura não era mais
aquela. A fita foi exibida nos cinemas, mas foi brecada pela censura
televisiva. A história traz José Dumont como um nordestino acusado injustamente de assassinato
em SP. A ausência de final feliz foi
o motivo da interdição.
"Macunaíma" (Joaquim Pedro
de Andrade, 1969) foi outro caso
em que a premiação internacional
contou para a liberação. Por causa
dela, das 12 cenas "subversivas",
apenas quatro foram cortadas.
Por fim, "O País de São Saruê"
(Vladimir Carvalho, 1971/79) ficou nove anos proibido por ferir a
"dignidade e os interesses nacionais" ao tratar do problemas dos
sem-terra.
(IVAN FINOTTI)
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