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São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2003

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CINEMA

"Nenê Bandalho", rodado em 1970 por Emílio Fontana, dá início a ciclo e tem projeção com a presença do diretor

Filmes nacionais censurados saem do cárcere

DA REPORTAGEM LOCAL

De hoje a domingo, o público paulistano terá a oportunidade de ver uma pequena amostra de como agia a censura contra o cinema durante os anos do regime militar no Brasil.
São sete os filmes escolhidos pelos curadores Francisco Cesar Filho e Reinaldo Cardenuto Filho para compor o ciclo "O Cinema Brasileiro Encarcerado: A Censura no Regime Militar", que começa às 20h de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade.
A fita de hoje é "Nenê Bandalho" (1970), que tem atuação de Rodrigo Santiago e Jô Soares, e narra a história de um assassino acuado pela polícia. Enquanto foge pelos telhados, Bandalho fuma maconha e lembra de episódios marcantes de sua vida.
O filme, escalado para o Festival de Brasília de 1971, foi substituído na última hora por "Brasil Bom de Bola", cujo título deixa clara a preferência dos censores. Emílio Fontana, o diretor, estará na exibição desta noite para apresentar a obra.
Amanhã serão exibidos "Meteorango Kid, o Herói Intergaláctico" (André Luiz de Oliveira, 1969), "O Despertar da Besta" (José Mojica Marins, 1969/82) e "Iracema, uma Transa Amazônica" (Jorge Bodanzky, 1975).
O primeiro teve problemas no mesmo festival. Durante a exibição em Brasília, os censores abaixavam o volume da som para impedir que o público ouvisse certos diálogos. Em resposta, os censores ouviram certeiras vaias.
O "Despertar da Besta" é a descida de Zé do Caixão ao mundo das drogas, em especial do LSD. A censura interditou a fita por 13 anos, acreditando haver uma mensagem política escondida. Essa idéia foi sempre negada pelo diretor Mojica Marins, que deverá negá-la mais uma vez no domingo, quando apresentará o filme.
Já a ficção-documentário "Iracema, uma Transa Amazônica" ficou interditada por cinco anos. Denunciando a violência no campo e as queimadas na região Norte, só foi liberada devido à repercussão internacional. Após a exibição, o diretor Bodanzky e o crítico Ismail Xavier fazem debate.
O filme mais novo do ciclo é "O Homem que Virou Suco" (João Batista de Andrade ), de 1980, quando a censura não era mais aquela. A fita foi exibida nos cinemas, mas foi brecada pela censura televisiva. A história traz José Dumont como um nordestino acusado injustamente de assassinato em SP. A ausência de final feliz foi o motivo da interdição.
"Macunaíma" (Joaquim Pedro de Andrade, 1969) foi outro caso em que a premiação internacional contou para a liberação. Por causa dela, das 12 cenas "subversivas", apenas quatro foram cortadas. Por fim, "O País de São Saruê" (Vladimir Carvalho, 1971/79) ficou nove anos proibido por ferir a "dignidade e os interesses nacionais" ao tratar do problemas dos sem-terra. (IVAN FINOTTI)


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