São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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MAM exibe melancolia de artistas modernos

"Modernidade Negociada" expõe 56 obras de nomes como Iberê e Volpi

Mostra em cartaz até julho destaca artistas que não eram prestigiados nos anos 40, mas que ganharam grande importância hoje

Edurado Knapp/Folha Imagem
Gravura "Gato e Peixe" (1950), de Oswaldo Goeldi, exposta na sala Paulo Figueiredo, no MAM


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"No final, acho que a mostra está com um tom melancólico."
A avaliação da curadora Taisa Palhares, 33, sobre "Modernidade Negociada", exposição em cartaz no Museu de Arte Moderna até julho, se relaciona com a trajetória lateral dos oito artistas escolhidos para representar a arte brasileira na década de 40.
As 56 obras de Guignard, Iberê Camargo, Volpi, Pancetti, Goeldi, De Fiori, Dacosta e Maria Leontina exemplificam a idéia da curadora de reunir nomes de indiscutível importância atual nas artes brasileiras, mas que, naquela década, ainda não tinham tal status crítico.
"Todos eles estavam em busca de sua melhor expressão artística e, no meio institucionalizado, não eram os nomes preferidos. Portinari e Segall respondiam mais aos anseios nacionais-populistas daqueles anos", avalia a curadora.
Assim, retratar paisagens provincianas -como a Mogi das Cruzes de Volpi-, ambientes campestres em uma Porto Alegre quase idílica -como nas telas de Iberê- e optar por enfoques em que a figura humana é ausente ou uma presença que se perde -como na série de Pancetti- distancia a exposição de uma visão otimista.
"De certa forma, é um reflexo de como os artistas escolhidos trabalhavam na época, sem muito diálogo com o que se fazia. De Fiori, por exemplo, deixou registrado o quanto a burguesia paulistana não o via com bons olhos", conta a curadora. "E isso está em sua pintura.
"Casal" e "Arlequim Dançando", por exemplo, mostram seres deslocados, com uma técnica de cores que parece se dissolver, como que trazendo uma certa decadência", avalia ela.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) ajudaram o clima pessimista, acredita a Palhares, que faz parte do grupo de curadoria da Pinacoteca do Estado.

Salões
A curadora destaca que, apesar do prestígio restrito, os artistas começavam a ganhar prêmios esparsos nos salões da época. "Foi o período em que começaram salões dedicados à arte moderna, além de continuarem os mais tradicionais de belas-artes. Iberê e Pancetti, por exemplo, conseguiram viajar para o exterior e pelo Brasil, o que influenciou a obra deles."
Na montagem, Palhares busca criar diálogos plásticos entre as obras. Assim, telas de Volpi antes de sua fase mais geométrica ficam ao lado de pinturas de De Fiori, evidenciando ligações. "O uso de cores dos dois é muito parecido, elas parecem se diluir."
A curadora lembra que, apesar do reconhecimento dado ao grupo de artistas, ainda faltam estudos sobre a produção daqueles anos, como a de Maria Leontina. "Até hoje é difícil conseguir suas telas para mostras. Ela não tem uma publicação à altura de sua arte."

MODERNIDADE NEGOCIADA - UM RECORTE DA ARTE BRASILEIRA NOS ANOS 40
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 8/7
Onde: MAM-SP - sala Paulo Figueiredo (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 5085-1300)
Quanto: entrada franca (dom.); R$ 5,50 (o restante da semana)


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