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CRÍTICA
Insegurança persiste, mas cantor avança
DA REPORTAGEM LOCAL
"Intuição" , o disco, apanha
Pedro Mariano num flagrante processo de amadurecimento. Ele soava inseguro demais
na sua estréia, em 97, hoje ainda
soa -mas os avanços são indisfarçáveis.
No todo, Pedro ainda opta por
um formato musical mais quadrado, sério no sentido do compenetrado, talvez do nervoso. Faz
música pop macia, mas que não
desliza redonda nos ouvidos de
quem percebe a tensão no fundo
de sua voz e de seus arranjos.
Ela é nítida, por exemplo, na regravação (em dueto com Zélia
Duncan) do standard "Você Vai
Ver", de Tom Jobim. A faixa é
suave e bem acabada, mas um eco
de conflito com o passado ressoa
em seu interior, e nela Pedro acaba parecendo um artista bem menos jovem do que é de fato.
O oposto acontece, por exemplo, em "Discos", dos integrantes
do Pato Fu Fernanda Takai e
John. Embora muito filtrada pelo
pique de soul branco habitual em
Pedro Mariano, a faixa o sintoniza
com o lado mais leve de sua geração, tira do menino o mosquiteiro
que parece sempre cobri-lo.
Ironicamente, o mesmo vai se
dar na faixa final do disco, a antiga
e bela "20 Anos Blue", a saudosista, a que a mãe Elis celebrizou. Pedro a canta com emoção que nunca deixou transparecer em qualquer gravação anterior.
Ali, está cara a cara com sua
mãe, sangrando ao cantar "eu não
te quero, eu te quero mal". Sofre,
mas parece bem-humorado diante de tal sentimento (como, aliás,
aconteceu quando cantou ao vivo
"Se Eu Quiser Falar com Deus",
outro sucesso na voz de Elis.
O que se ouve ali? Que o segredo
da libertação do doído estigma da
mãe está preso em seu próprio
peito, e só sairá dali através de sua
garganta. Esqueceremos todos
suas conexões com Elis (mas não
Elis, nunca), quando ele próprio
tirá-las de letra sem sisudez.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Intuição
Artista: Pedro Mariano
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 22, em média
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